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Empregos do futuro…O seu continuará existindo?

No Fórum Mundial de Davos, em janeiro de 2016, seu
chairman Klaus Schwab disse que uma mudança estrutural está em andamento na
economia mundial, no que seria o início da Quarta Revolução Industrial. Segundo
ele, esta revolução aprofundaria elementos da Terceira Revolução, a da
computação e faria uma “fusão de tecnologias, borrando as linhas divisórias
entre as esferas físicas, digitais e biológicas”. Esta nova revolução, unindo
mudanças socioeconômicas e demográficas, terá impactos nos modelos e formas de
fazer de negócios e no mercado de trabalho. Afetará exponencialmente todos os
setores da economia e todas as regiões do mundo. Mas não do mesmo modo. Haverá
ganhadores e perdedores. “As mudanças são tão profundas que, da perspectiva da
história humana, nunca houve um tempo de maior promessa ou potencial perigo”. O
mercado de trabalho será afetado dramaticamente, inclusive com trabalhos
intelectuais mais repetitivos substituídos pela robotização. As mudanças não
são perspectivas, mas reais. Estão aí.

Este assunto, impactos na mudança do mercado de trabalho já
vem sendo debatido, com algumas previsões apocalípticas estimando que em 10 a
15 anos cerca de metade das vagas de funções como operadores de telemarketing,
corretores, carteiros, jornalistas, desenvolvedores de software e outras terão
desaparecido, pelo uso de softwares e robótica encharcados de algoritmos
inteligentes.

As vendas de robôs, segundo a International
Federation of Robotics
tem crescido continuamente. Em 2015 foram vendidos,
no mundo todo, 255 mil, e estima-se que em 2018 serão 400.000. Mas a grande
ameaça aos empregos não está mais na indústria. Os softwares inteligentes estão
chegando no setor de serviços. Hoje são capazes de dirigir veículos, atender
clientes em serviços de telemarketing, preencher formulários de Imposto de
renda, etc. Por exemplo, alguns bancos como o DBS de Singapura, o Royal Bank of
Canada e aqui no Brasil, o Bradesco, começam a experimentar o Watson da IBM
nesta função de atendimento aos clientes. Nos EUA, os gastos com call center
somam 112 bilhões de dólares e estima-se que cerca de 270 bilhões de chamadas
de clientes não sejam atendidas adequadamente. Uma das causas principais são os
problemas de acesso às informações e o cruzamento de inúmeros dados em tempo
real, tarefa impossível para um ser humano, apoiados por sistemas tradicionais,
que disponibilizam scripts pré-programados. A ideia é colocar sistemas como o Watson,
capazes de cruzar milhões de informações diferentes, como catálogos de
produtos, manuais de treinamento, termos e condições contratuais, e-mails e chamadas
anteriores do cliente ou de clientes com problema similares, fóruns de debate
sobe o tema, histórico de atendimento do call center, etc, para eliminar ou
diminuir sensivelmente a taxa de solicitações não atendidas. Ainda são os
primeiros passos, mas com a evolução exponencial da tecnologia, estes passos se
acelerarão muito rapidamente. Embora o discurso dos fornecedores de tecnologia
e das empresas envolvidas seja sempre que o produto vai aprimorar o trabalho
das pessoas e não substituí-las, é inevitável que a cada habilidade aprendida
pelos computadores, milhões de empregos tenderão a desaparecer. A tecnologia,
ao longo do tempo, vai reduzir a demanda pelos postos de trabalho que demandam
menos habilidades, como exatamente são os operadores de telemarketing. Foi
assim nas linhas de produção robotizadas, nas funções de datilografia, nos
ascensoristas e hoje, na redução significativa das vagas de secretariado.

Mas não é só. Na Suíça, drones estão sendo testados para
entregar documentos em vilarejos distantes, substituindo os carteiros humanos
nestas atividades. A Amazon também está experimentando drones para entregas
rápidas nos EUA. Um artigo na Fortune “5
white-collar jobs robots already have taken”
aponta algumas outras
experiências. O editor da Robot Report
diz que empresas como FedEx estudam a possibilidade de no futuro dispor de um
centro de pilotagem com poucos pilotos voando a sua imensa frota de aviões
cargueiros. Estes aviões operarão como drones, uma vez que não levam
passageiros. Cita também o CEO da empresa de tecnologia russa Mail.Ru explicando
que que está investindo em uma startup que usará robôs para ensino de
matemática nas escolas. 

O risco potencial é bem real. Recomendo a leitura de um
paper muito instigante, “The
Future of Employment: How susceptible are Jobs to Computerisation
? “, que
aborda o tema, com foco nos EUA, do que podemos chamar de “desemprego
tecnológico”. À medida que os avanços nas tecnologias de machine learning e
robótica avançarem, será inevitável a substituição de funções ocupadas por
humanos hoje. Ocupações que consistem de tarefas e procedimento bem definidos
poderão ser substituídos por algoritmos sofisticados. Como o custo da
computação cai consistentemente ano a ano, torna-se atrativo economicamente a
substituição de pessoas por máquinas. O processo é acelerado pela
reindustrialização nos países ricos, como os EUA, que após perderem suas
fábricas para países de mão de obra barata como a China, começam a trazê-las de
volta, mas de forma totalmente automatizadas. Os empregos da indústria
americana, perdidos pela saída das fábricas, não estão voltando com elas. Quem
está ocupando as funções são os robôs.  Este
processo também está ocorrendo na China e já existem diversas fábricas
totalmente automatizadas e cada uma delas emprega pelo menos dez vezes menos
pessoas que as fábricas tradicionais.

O paper estima que cerca de 47% dos empregos atuais, nos
EUA, estão em risco. Entre estas funções estão motoristas de veículos como
caminhões e táxis, estagiários de advocacia, jornalistas, desenvolvedores de
software, administradores de sistemas de computação, etc. Esta é uma diferença
significativa que a chamada Quarta Revolução Industrial está provocando. Os
“colarinhos azuis” ou operários já estão diminuindo sensivelmente, mas os
“colarinhos brancos”, empregos nas tarefas administrativas é que agora estão
correndo o risco. Alguns artigos mostram que os sistemas cognitivos baseados em
algoritmos inteligentes podem atuar em conjunto (as vezes substituindo) em
várias ocupações antes exclusivas das pessoas. Na medicina, por exemplo, vale a
pena ler o artigo “The
Robot Will See You Now
“, que embora de 2013, discute ao assunto com
clareza. Tem também artigos bem polêmicos como “Do We Need
Doctors or Algorithms
?”, em que Vinod Khosla, co-fundador da Sun
Microsystems e hoje investidor em startups de tecnologia, afirma que no futuro
os sistemas inteligentes e robôs substituirão 80% dos médicos americanos.
Claro, gerou e ainda gera uma tremenda polêmica!

Os advogados não ficam de fora. O artigo publicado no New
York Times, “Armies of
Expensive Lawyers, Replaced by Cheaper Software
” estima que serão necessários
bem menos advogados, pois muitas de suas funções, que são fazer buscas em
documentos ou analisar casos similares poderão ser feitos por algoritmos. No
jornalismo temos alguns exemplos de reportagens financeiras sendo feitas
automaticamente, como o caso da Associated Press, “AP´s  “robot journalists” are writing their own
stories now
“. O Google está criando o seu “Automatic Statistician“,
com o propósito de criar automaticamente modelos matemáticos.

E em TI? Muitas funções feitas por desenvolvedores de código
poderão ser automatizadas. Algumas experiências já têm sido feitas, como o conceito
de “Programming by Optimisation” e
depuração automática de código.

A Quarta Revolução Industrial afetará de forma dramática o
mercado de trabalho. Os primeiros estudos de seu impacto mostram que a classe média
será a principal prejudicada, pois ocupam trabalhos em escritórios e são
autores de trabalhos intelectuais, como advogados e desenvolvedores de
software, que tenderão a desaparecer ou demandarão muito menos vagas que hoje.
Claro, novos empregos serão criados, mas que exigirão conhecimentos muito especializados
e altos níveis de educação. Novas carreiras e funções, que ainda não conhecemos
serão criados, mas a dúvida se serão em número suficiente para recompor as
vagas que desaparecerão.

Aqui no Brasil este fenômeno acontecerá mais lentamente,
primeiro porque o nível de automatização de nossa indústria é baixo (temos 10.000
robôs enquanto a Coréia do Sul compra 30.000 novos robôs por ano e a China
20.000) e temos abundância de mão de obra não qualificada, que ao lado de um
empresariado conservador, que não investe intensamente em inovação
tecnológica
, vai segurar o “tranco” por algum tempo.

Mas é inevitável que a Quarta Revolução Industrial vai chegar
aqui também. Vai demandar um novo currículo educacional, que abandone a
memorização de fatos e fórmulas para focar mais em criatividade e comunicação,
coisas que as universidades brasileiras, em sua grande maioria, pecam.

Recomendo a leitura do livro “The Future of the Professions”
que aborda discussões muito interessantes sobre o tema. Para os autores,
profissionais como advogados, médicos e contadores é tentador acreditar na excepcionalidade
humana. Muitos até admitem que seu conhecimento especifico, adquirido a duras
penas, será igualado, em um futuro próximo, pelas máquinas. A verdade é que a
maioria dos trabalhos profissionais pode ser desdobrada em conjuntos de tarefas
distintas. Depois que são desmembrados, resta pouco o que não possa ser feito
pelas máquinas.

Enfim, é uma discussão que está apenas começando. Mas a
realidade vai vir rapido e ignorar a transformação que está ocorrendo no mundo
não vai impedi-la de acontecer e chegar aqui. As maquinas são nossas ferramentas,
mas pode chegar o momento em que não seremos mais capazes de controla-las.  Portanto, precisamos decidir como queremos
viver com elas. Uma discussão que não pode ser adiada.  

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