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Financiamento cultural sem comprometer a autonomia

Publicado no Le Monde Diplomatique. Vale a pena ler a matéria completa. Abaixo, alguns trechos.

Plataformas de crowdfunding, começaram a se espalhar pelo Brasil desde o início deste ano. A ideia nada mais é do que a reinvenção contemporânea da famosa vaquinha, só que desta vez baseada na internet e destinada a bancar projetos culturais independentes.”

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“Com exemplos fica mais fácil entender. A jornalista paulistana Natália Garcia, de 27 anos, concebeu o projeto Cidades Para Pessoas, no início de 2011, depois de pesquisar e militar durante quatro anos pela causa da mobilidade urbana e o uso massivo de bicicletas como meio de transporte em metrópoles. Ela vislumbrou a apuração profunda e a produção de dossiês-reportagem com as experiências de doze cidades do mundo na busca por um convívio pacífico da população com os carros, sem privilegiar as máquinas – e quanto isso poderia servir de exemplo, inspiração e projeto para o “desplanejamento” de São Paulo. Contatou então o urbanista dinamarquês Jan Gehl, responsável pelo redesenho de Copenhague e diversas outras metrópoles pelo mundo, e fechou, a partir dos critérios do especialista, a lista dos destinos, da qual constam, por exemplo, Roterdã e Cidade do México. O projeto duraria doze meses, um mês de vida e pesquisa em cada cidade, e consumiria R$ 25 mil – gastos reduzidíssimos, prevendo hospedagem solidária e máxima economia com voos e trens locais.

Natália poderia seguir um dos três caminhos tradicionais da produção cultural. Detalharia nome, objetivo geral, objetivos específicos, metas, justificativa, cronograma, acessibilidade, democratização do acesso, contrapartidas, orçamento etc. etc. etc. e submeteria tudo a meses de espera e mínimas chances de aprovação em editais públicos; faria a peregrinação entre empresas para convencer gente não tão interessada em repensar o desenvolvimento das cidades brasileiras e em associar a marca a algo que não geraria lucro nem teria visibilidade; ou tentaria o tal “empreendimento individual”, quase inviável neste caso: teria de vender cerveja demais.

Ela preferiu apostar em dois estudantes de administração de empresas, Diego Borin Reeberg e Luís Otávio Ribeiro, que preparavam a estreia da plataforma Catarse (catarse.me), hoje a mais antiga (tem quatro meses) e mais bem-sucedida iniciativa brasileira de crowdfunding. A dupla reproduziu no país o modelo inaugurado pelo site Kickstarter (kickstarter.com), que em abril completou dois anos de atividades nos Estados Unidos, e a realização de mais de 2 mil projetos com US$ 40 milhões arrecadados. Natália, então, produziu um vídeo apresentando seu Cidades Para Pessoas, e espalhou pela rede a tal ideia de viajar doze cidades e trazer soluções para São Paulo. Para isso, precisaria da ajuda voluntária de internautas, que poderiam doar qualquer quantia. O projeto só daria certo caso conseguisse, em três meses de campanha, juntar os R$ 25 mil. Caso contrário, os financiadores teriam o dinheiro devolvido.

Se tentarmos adivinhar pelas postagens no Facebook, neste momento a jornalista Natália Garcia deve estar pedalando por alguma ciclovia de Copenhague, isso se já não partiu para Oslo, o segundo destino da empreitada. Em noventa dias, ela levantou os R$ 25 mil e realiza agora, com independência absoluta, um dos projetos de sua vida – e que se tornou o primeiro grande case brasileiro de crowdfunding. Um trabalho jornalístico de interesse público indiscutível, financiado pelas pessoas, que só puderam se conhecer e colaborar porque estavam conectadas em rede.”

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