O Doutor Estagiário: O Céu é o Limite!

“É impossível um homem
aprender aquilo que ele acha que sabe”


 Dr Estagiario


Estou prestando uma
consultoria informal para o filho de uma amiga, candidato a estágio na área de
Relações Internacionais. Por consultoria leia-se conversar, prepará-lo para
entrevistas, praticarmos o inglês, falar de mercado e empresas e discutir as notícias
mais importantes da semana. Após nossos primeiros encontros, passei a chamá-lo
de Dr. Estagiário, porque ele acha que sabe tudo. Obviamente ele gostou do título.
 

O jovem é inteligente – se lhe
falta um pouco de articulação não é por falta de leitura, ele tem muito conteúdo,
mas há melhorias a serem feitas no quesito comunicação, soft skills – habilidades comportamentais ligadas a relacionamento,
paciência, flexibilidade, criatividade, motivação e empatia.

O Dr. Estagiário tem suas hard skills muito bem delineadas:
conhece tecnologia, tem pensamento lógico, adora estatística, finanças e
economia, é um ás na sala de aula, “manda
muito bem
” –  em suas próprias palavras
–  na elaboração de seus papers, mas não tem capacidade de ouvir atentamente,
tem dificuldade de concentração e uma grande resistência para admitir o que não
sabe.  

Assim, navegando entre mares
de otimismo exacerbado e ondas de orgulho e ansiedade, chega à praia, extenuado
e desmotivado diante de tantos nãos e
feedbacks que não lhe agradam.  Ele adora
se imaginar fazendo uma Pós ou MBA em Harvard, mas esquece que antes disso,
precisa terminar a faculdade e obter a comprovação do estágio relacionado à sua
área de conhecimento.  Ele busca o futuro
mais que perfeito, mas o presente está aqui, no mundo real, batendo à porta e
ela não abre. Deve ser frustrante.

O problema é que bons estágios
são difíceis, há muita competição. Além do mais, ele não acha que pequenas
empresas sejam atraentes. Gosta de pensar grande, mas carece da paciência e
humildade necessárias para entender que o aprendizado pode vir em embalagens
variadas – seja através de uma grande corporação – desejada por todos, claro – ou
por startups, conduzidas por uma equipe enxuta e dinâmica e com muitas ideias inovadoras
para tirar do papel. Por que não?

A imagem para este estudante é
importante: seu desejo é trabalhar em empresas sediadas em edifícios
monumentais, localizadas em áreas nobres da cidade e se possível bem descoladas,
com salas de jogos, áreas de descanso e outros mimos. Poxa, parece legal! Já
sei, quero ser uma estagiária sênior!  Para
ele, estas empresas são sexy. Digo
que sexy é trabalhar no que a gente gosta,
numa empresa legal, com pessoas bacanas, mas o que sei eu? Aprendi o
significado de unicórnio há pouco
tempo e ele fala em bitcoins, códigos
secretos e blockchains!

É complicado gerenciar tanta expectativa
e inconformismo, mas não consigo deixar de sentir saudade da época que a gente
achava que podia tudo, que não precisava aprender nada, que o mundo girava ao
nosso redor. Um dia alguém me disse que esta sensação poderia ser apenas um
sintoma de labirintite, nada mais. Sábia observação.

 

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