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Vale a pena fazer um hackathon?

Ultimamente tenho visto muitos hackathons. Parece fashion! Toda
semana identifico uns dois ou três, sejam de empresas de tecnologia, de
empresas privadas ou mesmo de órgãos de governo de todas as esferas. Mas, qual
deve ser objetivo de um hackathon? A proposta da maioria deles é instigar um
ecossistema, seja interno e/ou externo a criar novas ideias e protótipos
(geralmente apps para smartphones) que atendam a objetivos de negócio.

Um exemplo de hackathons internos com objetivos bem
definidos são os do Facebook. O último, no começo deste ano, Hack 50,
concentrou-se em ideias de aplicação de Inteligência Artificial. IA é o foco
estratégico do Facebook. Vale a pena ler o artigo “Exclusive:
Inside Facebook´s AI Hackathon
“. Agora, o que funciona para o Facebook não
necessariamente funciona para outras empresas. É como tentar emular o Silicon Valley
em outros países. O contexto e momento de criação do Silicon Valley não pode
ser replicado, por mais que se tente, em outro país. Mesmo nos EUA. O Facebook é
uma empresa 100% de tecnologia, tem uma cultura de colaboração aberta, o próprio
Mark participa dos hackathons e eles são criados bottom-up, não são agendados
pelo Zuck. Além disso, não existe um padrão de hackathons. Cada empresa tem
suas próprias características e copiar o que outra fez, nem sempre dará certo.

Outros hackathons são abertos à participação de
desenvolvedores externos. Os externos ajudam a mudar a cultura da empresa,
descobrir novas oportunidades de negócio, que o pessoal interno, arraigado aos
processos internos nem pensam em criar, engajar novos ecossistemas e também,
descobrir novos talentos que possam ser contratados. 

O problema é que, aparentemente, muitos dos que vejo não me
parecem ter objetivos bem definidos. São feitos ou por modismo ou para as
empresas passarem uma imagem para o mercado de serem empresas “cool” e
inovadoras. Muitos são abertos a quaisquer ideias, sem foco direcionado. A
possibilidade de trazer resultados concretos para o negócio tende a diminuir na
proporção da falta de foco.

Um hackathon, para trazer resultados palpáveis, demanda
planejamento e preparação.  Primeiro,
alinhar explicitamente os objetivos do evento com os objetivos estratégicos da
empresa. Se a empresa é um banco e seu principal desafio estratégico é se
tornar um banco digital, o hackathon tem que ter esse foco. Ou, se a empresa
está em uma jornada de transformação digital, pode criar hackathons voltados a
reinventar velhos processos e maneiras de fazer as coisas, fazendo seu pessoal
“pensar digital”. A McKinsey publicou um interessante artigo sobre esse assunto
em “Demystifying
the hackathon
“. Um extrato do artigo é claro:” By giving management and
others the ability to kick the tires of collaborative design practices, 24-hour
hackathons can show that big organizations are capable of delivering
breakthrough innovation at start-up speed”. Creio que vale a pena experimentar.

Criar um hackathon onde os participantes são jogados em um
vácuo, sem conhecimento do contexto dos problemas a serem enfrentados, tem 99%
de probabilidade de ser um desperdício de tempo e dinheiro. Sugiro a leitura atenta
do artigo “Why
Hackathons Are Bad For Innovation
“. Ele chama a atenção para o fato que o
hackathon normalmente pode criar uma falsa sensação de sucesso. Cada evento
anuncia seus vencedores e atribui prêmios. Mas e se nenhuma das ideias for
realmente boa? Parece que para muitos hackathons isso não importa… A equipe vencedora
recebe o prêmio e a empresa se sente inovadora. Resultado prático de inovação é
pífio!

Por outro lado, se ele for muito restrito e burocrático, vai
inibir a inovação. E um cuidado adicional é não o tornar um simples evento
social, onde pizza e lugares exóticos são a atração principal. Um hackathon “festivo”
não vai gerar muita coisa válida…a não ser boas recordações de quem
participou da festa!

Escolha um local apropriado, em um espaço que incentive
colaboração. Analise se o evento será interno ou externo, e se externo, se será
aberto à parceiros de negócio e startups já constituídas. Defina claramente as
regras do jogo, a infraestrutura de tecnologia a ser disponibilizada, os critérios
de julgamento e as premiações. Importante também deixar claro as regras de
propriedade intelectual. Se for um evento interno, as ideias geradas serão da
empresa ou dos funcionários que as criaram? Para eventos externos, se você
exigir que as ideias serão apropriadas por sua empresa, vai desestimular os
empreendedores. Por que eles gerarão ideias para você em troca de pizza? Outra
questão: a participação de seus funcionários em hackathons externos.  Existe alguma regra na sua empresa para isso?
Acho que vale a pena refletir sobre isso. Recomento ler “Who
Owns Hackathon Inventions? “.

Outro ponto que venho observando é que a maioria dos
hackathons são criados pelas áreas de TI. Em muitos, os CIOs e demais
executivos apoiam, mas não se envolvem e nem participam presencialmente do
evento. É um erro. Devem estar presentes, mas não como executivos, mas de
maneira informal. Não são “chefes” naquele evento. Muitos também não envolvem
outras áreas como marketing e comunicação corporativa. Em hackathons internos é
importantíssimo que as equipes não sejam só de TI. Sem os demais envolvidos nos
problemas a serem enfrentados, a ideia poderá ser excelente do ponto de vista
da TI, mas nula do ponto de vista de usabilidade pela empresa. Aliás, existe
uma percepção que hackathons são apenas para desenvolvedores de apps. Por que
não podem ser aplicados a outros problemas? Por que não uma cadeia de
restaurantes ou uma rede varejista criando um evento que “abra as ideias”
para resolução de problemas do dia a dia, como melhorar a experiência de seus
clientes? Vale a pena ler o artigo “Hackathons
Aren’t Just for Coders
” para alguns casos interessantes fora do círculo de
nerds que desenvolvem código.

Muito importante também o “day after”. O hackathon foi um
sucesso. E daí? O mais importante do evento é o que acontece depois, com as
ideias geradas. Os hackathons do Facebook geram produtos ou funcionalidades que
influenciam o desenvolvimento dos produtos atuais. Portanto, reserve budget e
recursos para fazer com que as ideias selecionadas saiam da teoria e do código
rasteiro para se tornarem palpáveis. Sem condições para tal, o evento torna um
fim em si mesmo. Sem o planejamento para o “day after” toda a energia e
entusiasmo gerados no evento se dissiparão rapidamente. Repito aqui: hackathon
é apenas um evento, em uma jornada contínua de inovação e colaboração da
empresa.

Nem sempre um hackathon é a solução. Um exemplo
prático. Ajudamos a criar junto com a Embrapa uma competição de startups,
chamada de Ideas for Milk. Não é um
hackathon, pois o objetivo da competição é gerar negócios lucrativos vinculados
a novas startups ou startups em desenvolvimento, com foco em soluções para
aumentar a eficiência de um ou mais segmentos da cadeia produtiva do leite no
Brasil. Portanto, um evento verticalizado. De maneira geral hackathons são
encontros que geram ideias, mas ideias por si não são negócios. Um negócio é o
encontro de problemas e ideias para suas soluções. O projeto do Ideas For Milk propõe que problemas
identificados especificamente na cadeia do leite sejam desenvolvidos na prática,
buscando soluções que gerem negócios sustentáveis e escaláveis. Portanto, os
competidores terão que mostrar as comissões julgadoras e aos investidores
convidados como sua solução cria valor no processo e como esse valor será
percebido pelo usuário. Por isso, buscou-se locais e universidades onde o
entendimento dos problemas setor lácteo está mais próximo ao dia a dia dos
empreendedores. Nas grandes cidades, mesmo sem ser taxista ou bancário, é mais
fácil identificar problemas no uso de táxis e bancos. Surgiram startups como
EasyTaxi, 99, Uber e as FinTechs. Mas, provavelmente a maioria das pessoas que
mora nas cidades grandes nunca viu uma vaca de perto e nem sabe o que é
ordenhar uma. Sem conhecimento do problema, impossível criar soluções! As
eliminatórias da competição ocorrerão, portanto, em locais onde a cadeia do
leite está bem presente.  O Brasil é um
dos principais fornecedores de produtos agropecuários para o mundo e, apesar do
seu potencial, o setor ainda carece de tecnologia se comparado ao seu
crescimento e a outros países. É um oceano azul de o

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