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Você conhece blockchain? Ele pode transformar o setor financeiro!

Um tema que chamou atenção no último CIAB foi o blockchain. Muita
gente falando disso e até altos executivos de bancos abordando o assunto em
suas apresentações. Mas, a maioria das pessoas com quem conversei ainda associam
blockchain a moedas virtuais, como Bitcoin, e portanto, ligado diretamente aos
bancos. Mas o potencial de uso de blockchain vai muito além das moedas virtuais
ou cryptocurrencies. Em teoria, poderá transformar os bancos, negócios,
governos e nossa sociedade.

Mas, o que é blockchain? Hoje usamos um intermediário
garantidor, no qual confiamos, para fazermos uma transação. É onde entram os
bancos. Mas, se não precisássemos deste intermediário? Se pudéssemos fazer as
transações diretamente entre as pessoas ou empresas, sem passar por um elo no
meio? Usando criptografia, blockchain é uma tecnologia que mantém um banco de
dados distribuído ou “digital ledger” ou livro razão, para manter um registro
de transações, que todos conectados na rede podem ver. Esta rede é na, sua
essência, uma cadeia de computadores. Quando uma nova transação ou uma correção
de transação existente é recebida, grande parte dos nós da rede de blockchain
deve executar alguns algoritmos e, essencialmente, avaliar e verificar o
histórico do bloco do blockchain individual que é proposto e, assim, chegar ao
consenso de que o histórico e a assinatura são válidos. Apenas quando
considerado válido é que a nova transação será aceita no registro e um novo
bloco será adicionado à cadeia de transações. Caso a maior parte dos nós não reconheça
a adição ou modificação da entrada de registro, tal entrada é negada e não é
adicionada à cadeia. Esse modelo de consenso distribuído é o que permite que o
blockchain funcione como um registro distribuído sem a necessidade de que uma
autoridade central para certificar quais transações são válidas e quais não
são.

Blockchain pode ser usada para qualquer coisa que represente
valor, além de moedas, como registros de propriedades, patentes, direitos
autorais, certidões de nascimento, casamento e óbitos. Blockchain também
permite reduzir fraudes, porque toda transação registrada pode ser visualizada
por qualquer um. Além disso, as assinaturas e verificações digitais também dificultam
as fraudes, e a integridade criptográfica de toda a transação pendente, como
também o exame de múltiplos nós da arquitetura do blockchain, protege contra
ameaças e utilização mal intencionadas.

Muito bem. E quem pode usar esta tecnologia? Qualquer pessoa
ou empresa com acesso à Internet. Hoje ainda blockchain é mais uma curiosidade
e apenas 0,025% (cerca de 20 bilhões de dólares) estão registrados em
blockchain. Entretanto, diversas pesquisas apontam que seu crescimento será
acelerado na próxima década, à medida que bancos, seguradoras e as empresas de
tecnologia começam a aplicar blockchain no seu dia a dia, para acelerar
processos, criar novos negócios e reduzir custos. Um estudo do World Economic
Forum estima que em torno de 2027 cerca de 10% do PIB global já estará em
blockchain. Como vivemos em uma era de exponencialidades, passar da faixa dos
10% para 50% ou mais, não levará outros 10 anos, mas talvez aconteça em apenas
mais três ou quatro anos.

Os investimentos que os bancos, estão fazendo em
experimentações e protótipos, são bem elevados. Um estudo “Banks
will quintuple spending on blockchain by 2019
” aponta que de 75 milhões de
dólares em 2015, os investimentos chegarão a cerca de 400 milhões! Interessante
que a maioria dos bancos estão estudando e experimentando blockchain não pelo
suporte a moedas virtuais, mas no seu uso em funções operacionais como
liquidação, aquele momento crucial, mas pouco charmoso e custoso, quando
dinheiro e títulos são trocados entre compradores e vendedores. Reduzindo seu
custo operacional e se tornando mais ágeis os bancos podem enfrentar com mais
força o avanço das Fintechs. Alguns bancos pretendem até criar suas próprias
moedas virtuais como o Goldman Sachs, com seu SETLCoin para facilitar estas
operações. Vale a pena ler o artigo “Goldman
Sachs wants to create its own version of bitcoin
“.

Por que os bancos estão preocupados? O seu papel de
intermediário aumenta o custo das transações, pois cobram um preço pelos
serviços oferecidos, como nas transferências internacionais. Muitas vezes essa
transferência, para chegar as pessoas em outros países com redes bancárias
deficientes, leva muito tempo. Além disso, pelos altos custos dos serviços
bancários, parcela significativa da população no planeta está fora deste contexto.
Estima-se que 2,5 bilhões de pessoas não tem acesso a bancos. No Brasil cerca
de 40% da população não tem conta bancária. A desintermediação reduz estes
custos e permite acesso a transferências de dinheiro sem passar pelos bancos.
Entendendo a ameaça à sua frente, os bancos estão buscando reduzir seus custos
e para isso, uma vez que será muito difícil ou impossível bloquear o uso de
blockchain, é melhor e mais inteligente, usá-lo a seu favor. 

Indo além dos bancos. Com a possibilidade de conexão global
peer-to-peer confiável, muito do valor de inúmeras corporações atuais, que se
valem da confiança e reputação de sua marca, tende a perder relevância. A
desintermediação vai se acelerar. Tornará inútil cartórios e entidades como o Ecad.
Plataformas de agregação entre interessados em usar um serviço como o Uber, que
conecta de um lado pessoas que querem transporte e do outro, pessoas que podem
transportar, perde muito de seu valor. Sim, uma disrupção ao Uber poderá ser o
blockchain!

Vamos mais longe. Com bilhões de coisas ou objetos
inteligentes e conectados, gerando e compartilhando dados, por que eles não podem
fazer por si as suas próprias transações financeiras? Então, do que hoje
chamamos IoT (internet of Things) ou IoE (Internet of Everything) saltaremos
para a LoE (Ledger of Everything). 

Uma experiência interessante para conhecer o blockchain é
usar o site “Proof of Existence
onde você pode fazer upload de um documento e ter sua assinatura registrada,
para sempre, na rede blockchain do Bitcoin. O que o site diz “Your document´s
existence is permanently validated by the blockchain even if this site is
compromised or down, so you don´t depend or need to trust any central
authority. All previous data timestamping solutions lack this freedom”. Claro,
é apenas uma demonstração do potencial do blockchain, mas permite pensarmos
livremente em inúmeras outras aplicações.

Mas, tudo tem um outro lado. Como blockchain é open source,
temos diversas variantes, baseadas em diferentes tecnologias. Uma iniciativa
que, acredito, possa se firmar como padrão é a Hyperledger, que conta com apoio de
diversas empresas, tanto de tecnologia como financeiras. Os membros fundadores
da iniciativa incluem ABN AMRO, Accenture, ANZ Bank, Blockchain, BNY Mellon,
Calastone, Cisco, CLS, CME Group, ConsenSys, Credits, The Depository Trust
& Clearing Corporation (DTCC), Deutsche Börse Group, Digital Asset
Holdings, Fujitsu Limited, Guardtime, Hitachi, IBM, Intel, IntellectEU, J.P.
Morgan, NEC, NTT DATA, R3, Red Hat, State Street, SWIFT, Symbiont, VMware e Wells
Fargo. O Hyperledger é um projeto que tenta unificar todas as abordagens de
código aberto do blockchain que existem atualmente. É absolutamente necessário
para evitar custosas adaptações e interfaces que inviabilizariam ao uso da
tecnologia. Outro desafio, como sempre aliás, quando se defronta com inovações,
são as questões regulatórias. Entidades certificadoras usarão toda sua
influência política para atrasar, mas não vão conseguir impedir seu uso.

Será inevitável que blockchain se tornará uma tecnologia de
uso disseminado. As primeiras experiências apontam para potencial bem amplo de
novos negócios, bem como otimização de processos atuais.  Portanto, nada mais sensato que estudar e
compreender o seu conceito e começar a pensar em novas aplicações e negócios. Vale
a pena dar uma olhada neste pequeno filme
(pouco mais de dois minutos) produzido pelo World Economic Forum sobre
blockchain. Também recomendo a leitura do livro “Blockchain Revolution: How the
Technology Behind Bitcoin is Changing Money, Business, and the World” de Don
Tapscott, que foi autor do excelente Wikinomics.

O trem do blockchain já vem chegando na estação.
Melhor ter a mala na mão

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