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Você “precisa” amadurecer tão rápido?



Amadurecer é saborear com menos pressa


Por  Vicky Bloch


Os jovens de hoje em dia têm muita pressa. Por um lado isso é bom, pois isso representa o oposto do


comodismo, mal que afetou muitas gerações passadas. Eles são mais questionadores, querem inovar o


tempo todo, nadam de braçada nas novas tecnologias, têm alcançado altos postos nas organizações e


patrimônio cada vez mais cedo.


Mas essa afobação toda traz também uma carga negativa: eles não estão se dando tempo e nem mesmo


espaço para um amadurecimento consistente.


As pessoas continuam precisando de um conjunto de experiências refletidas para poder amadurecer. Com a


pressa que o mundo impõe hoje, muitos pensam que migrar de uma experiência profissional para outra é


suficiente. Na minha visão, porém, esse movimento pode não ser um crescimento consistente. Cada


transição precisa ser refletida antes que o novo ciclo se inicie e o atual se transforme em efetivo aprendizado.


A maturidade ainda está muito ligada ao conceito de envelhecer. Por isso, talvez, o termo apresente alguma


resistência.


Certa vez, li um artigo em que o autor dizia que amadurecer não significa perder o encanto, ficar velho. É


apenas saborear com menos pressa. Não é perder a vibração, deixar de se encantar com o novo, mas tratar


disso com mais responsabilidade. Gosto muito dessa percepção. Antes de expor toda a sua bagagem para o


mundo, ela precisa ser interiorizada e isso demanda tempo, dedicação, atenção. Mas, com essa corrida


desenfreada, quem encontra tempo? Com tantas cobranças, quem se permite parar?


Nós – e aí incluo os pais, a sociedade e a escola – estamos acelerando ainda mais esse ritmo dos jovens,


cobrando como se eles não tivessem o direito de errar, como se eles tivessem obrigação de estar totalmente


encaminhados na vida profissional aos 20 anos e sem o direito de fazer alguma mudança aos 28. Se uma


criança não tem sua agenda repleta de atividades, sentimos culpa por talvez estarmos “atrasando” nossos


filhos ou tornando-os obsoletos para a entrada na sociedade produtiva! O que é isso? Preencher agenda, na


verdade, resolve também a falta de tempo para estar com eles.


A cobrança é tamanha que jovens com menos de 30 anos se desesperam se descobrem que não estão


contentes com suas escolhas do passado recente e que desejariam mudar de rumo. Nessa sociedade


imediatista, eles aprendem que um recomeço a essa altura da vida – que altura? 28 anos? – significa que eles


estão fadados a ficar para trás na competição do mundo corporativo. Agora, eu pergunto: quem disse isso?


Quem falou que a pessoa não pode mudar sua carreira aos 30, aos 40, aos 50 e ser bem-sucedido? Ou


melhor, ser mais feliz, ou feliz novamente com um novo amor?


Percebo, nesse corre-corre, que o movimento está se refletindo também no ensino. Basta ver o perfil dos


alunos nos cursos de MBA. Originalmente, a proposta desses cursos era que o profissional voltasse para a


escola depois de alguma experiência vivida para e reciclar, aprimorar conhecimentos e, acima de tudo,


aprender com a troca entre os colegas de turma.


Hoje, você entra em uma sala de MBA e grande parte é formada por jovens que mal saíram da faculdade e se


sentem cobrados por fazer uma pós-graduação imediatamente. Pipocam de um curso a outro para engordar


o currículo e nem ao menos avaliam o quanto aquele conhecimento realmente está sendo absorvido ou se os


objetivos estão de fato sendo atingidos.


Amadurecer é ter a capacidade de organizar a própria vida. Se você é jovem, não tenha tanta pressa. Nada


vai sair do lugar. Crianças continuam nascendo em nove meses (agora se contam em semanas, parece que


para acelerar o tempo, não?).


Quanto mais reflexões embasarem as suas decisões, menores serão as suas chances de errar. A maturidade


consistente só virá se você souber sugar suas experiências e conseguir, de fato, aprender com elas. Pare,


respire. Pense sobre o que aprendeu até aqui, o que te faz bem, o que te realiza. É essencial também


identificar aquilo que você não quer fazer. Dê um passo de cada vez. Garanto que você sairá ganhando.


Vicky Bloch é pr ofessor a da FGV, do M BA de r ecur sos hum anos da FI A e fundador a da Vicky Blioch Associados


Amadurecer é saborear com menos pressa http://www.valor.com.br/imprimir/noticia_impresso/2579214 21/03/2012

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