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A entrevista motivacional

Autor: Neliana Buzi Figlie
Muito se fala sobre os objetivos e resultados que estão por trás da Entrevista Motivacional. Para quem nunca ouviu falar, o nome pode até gerar algumas dúvidas. “Um curso de EM é para aprender a fazer boas entrevistas? Mas eu não me interesso em fazer entrevistas”. Diversas pessoas já trouxeram essa questão e se perguntam isso quando escutam falar sobre. Na verdade, a Entrevista Motivacional é uma metodologia colaborativa de conversação, usada para fortalecer a motivação pessoal e o comprometimento com a mudança.
A aplicação desse método ainda é considerado recente, com pouco mais de 30 anos de existência. Porém, desde seu início até os dias de hoje, a EM tem se mostrado bastante útil, principalmente para pessoas ambivalentes (aquelas que querem e não querem, ao mesmo tempo, mudar determinado comportamento). Para explicar melhor, a ambivalência aqui é compreendida como uma condição humana bem comum, no qual a pessoa tem sentimentos coexistentes e conflitantes a respeito de alguma coisa.
A Entrevista Motivacional é muito usada por profissionais da saúde para estimular seus pacientes a aceitarem melhor determinados tipos de processos de mudança que, muitas vezes, são dolorosos e desgastantes, por exemplo: parar de beber e/ou fumar; mudar de emprego; terminar um relacionamento; enfrentar o tratamento de um câncer; fazer uma dieta. Ou mesmo num trabalho psicológico compessoas que passaram por algum tipo de trauma, como sequestro relâmpago, assaltos, acidentes de transito. Inicialmente, em sua primeira edição publicada, a Entrevista Motivacional concentrava-se apenas em pessoas com problemas relacionados ao álcool e outras drogas. Contudo, logo após sua primeira publicação, várias outras pesquisas foram realizadas e atualmente, existem mais de 160 ensaios clínicos sobre a abordagem, com uma projeção de duplicação sobre o método a cada três anos.
Além disso, a ambivalência, que já citei aqui como uma das matérias-primas da EM, não podia limitar-se somente ao campo das substancias psicoativas e dependências. Percebeu-se, então, que a Entrevista Motivacional poderia ampliar seu campo de intervenção, sendo encontradas pesquisas sobre asma, traumatismo craniano, saúde cardiovascular, odontologia, diabetes dietas, transtornos da alimentação e obesidade, família e relacionamentos, jogo patológico, promoção de saúde, dentre outros.
A 1ª edição do livro de Entrevista Motivacional, publicada em 1991, trouxe princípios como: Expressar a Empatia; Desenvolver a discrepância; Evitar a argumentação; Acompanhar a resistência e Promover a auto-eficácia. No entanto, na segunda edição, publicada em 2002, o principio Evitar a argumentação foi descartado, uma vez que a postura do entrevistador motivacional é toda pautada na realização de uma conversa colaborativa e não em uma argumentação e persuasão. Nessa edição também surge a metodologia da EM que consiste na utilização de estratégias, a partir da influência do aconselhamento, centrado na pessoa e ações focadas em fazer perguntas abertas, escutar reflexivamente, encorajar, fazer um resumo daquilo que foi desenvolvido visando eliciar afirmações automotivacionaispor parte do cliente.
Na terceira edição, publicada em 2012, os princípios dão origem ao Espirito da Entrevista Motivacional, com seus quatro componentes: Colaboração, Aceitação, Compaixão e Evocação, bem como os processos que são sequencialmente compostos pelo engajamento; foco; evocação e por fim o plano de tratamento.
Outro aspecto importante a ser destacado ésobre o método de ensino da EM. A Entrevista Motivacional é um complexo conjunto de habilidades, assim como tocar um instrumento musical ou praticar um esporte, que é aprendido com a prática ao longo do tempo, de preferência com feedback e supervisão. Daí a importância da atualização.
Por fim, na Entrevista Motivacional, procura-sedestituir o profissional do lugar de suposto saber, para um lugar mais pessoal, que realmente é capaz de compreender plenamente o que se passa na realidade do outro e se dispõe a estar com este outro. A aceitação, pressuposta na empatia e compaixão, parece se tornar mais real no processo e com isso, melhora a adesão e o engajamento por parte do cliente.
Neliana Buzi Figlie é doutora em Saúde Mental, psicóloga associada ao MINT e tem a formação em Entrevista Motivacional.

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