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Aprendizado verdadeiro



Autor: Orlando Pavani Junior

 

O aprendizado normalmente não é o que efetivamente acontece quando as pessoas alegam ter “entendido” alguma coisa. O mero entendimento e a mera compreensão não costumam vir acompanhados de uma sensação de transformação pessoal.

 

Normalmente comento com as pessoas o quanto tem sido escasso deparar-me com alguém que realmente tenha tido a experiência do aprendizado efetivo. O que as pessoas relatam, quando se referem à experiência dos aprendizados pessoais, configura muito mais um processo de reprodução cuidadosa do que ouvira de alguém, lera de algum lugar ou exercitara em algum curso. Raramente este processo de aprendizado inclui uma reflexão ponderada e completa sobre o assunto e ainda é permeado de uma emoção pelo que tenha acontecido consigo depois do aprendizado ter-se consumado.

 

Quando achamos que aprendemos alguma coisa, costumamos dizer, na ânsia de aplicá-los: que utilização eu farei desse novo conhecimento!? Se houvesse realmente o aprendizado, o mais correto seria perguntar: o que este aprendizado será capaz de fazer comigo?!

 

Todo o processo educacional ao qual fomos submetidos desde a infância – seja no ambiente familiar, social, educacional ou profissional -, assemelha-se muito mais a uma espécie de estupro intelectual, uma vez que o fundamento histórico é “assimilar” um conhecimento (que normalmente não escolhemos e com relação ao qual somos absolutamente ignorantes) e “repeti-lo” nas mais diversas tipificações de aplicações. Não temos base informacional suficiente para refletir acerca do que estamos aprendendo e, por isto, não aprendemos de fato, apenas “engolimos” algum conceito, submissamente, e os reproduzimos recorrentemente ao longo da vida.

 

Numa eventual primeira aula de matemática na vida de uma pessoa, raramente esta pessoa será capaz de questionar se o professor disser que 1+1=3. Se esta pessoa continuar restrita em seu mundinho limitado, provavelmente passará a vida inteira mergulhado no acomodado conhecimento de que 1+1=3, sem sequer ponderar o que um conhecimento divergente, ou até antagônico, poderia lhe oferecer.

 

O efetivo conhecimento, fruto do real processo de aprendizagem, reside onde nunca fomos. Não se consegue aprender insistindo na mesmice e na mera repetição de experiências antigas ou de acesso a assuntos e/ou temas que já se conhece em algum grau. O aprendizado, quando acontece realmente, assemelha-se a uma sensação da qual não se controla de tão transformadora que é. Sequer conseguimos compartilhar com outras pessoas, tamanho o grau de empolgação e de incapacidade para replicar a sensação vivenciada.

 

Costumo chamar de “cabeção” (carinhosamente) aquela pessoa que “entende” tudo que lhe é explicado sem vibrar por este pseudo-entendimento. Não move uma palha de emoção pelo aprendizado. É claro que não houve aprendizado, mas apenas uma compreensão sem significado nenhum na mudança de atitude e na vida desta pessoa. Tanto que não há evidências de nenhuma melhoria no contato interpessoal.

 

Quando dou aulas, no meio acadêmico, é evidente a distinção do aluno que aprendeu efetivamente daquele que apenas entendeu (compreendeu) o que lhe foi passado. Aquele que aprendeu efetivamente se auto-elabora perguntas (em voz alta) que auto-testam sua auto-compreensão (ele não precisa de alguém para atestar seu aprendizado). E aquele que apenas entendeu pede a “prova” (avaliação clássica) como meio de ter uma oportunidade de checar e demonstrar o que sabe (a alguém). Aquele que aprendeu efetivamente fornece uma resposta fisiológica que denota uma emoção transformacional (uma metáfora de orgasmo intelectual mesmo), normalmente de cunho resignificante e recontextualizante, mas aquele que apenas entende, manifesta tédio em retomar o processo (de aprendizado) com relação a outro assunto.

 

É similar a uma piada. Se houver aprendizado haverá riso aleatório e incontrolável por parte do ouvinte, mas se não houver aprendizado, apenas entendimento, não gerará riso algum, mas apenas uma ironização sem graça do quão é fraca a piada (na opinião do ouvinte).

 

É uma pena constatar que esta sensação seja tão impopular e escassa no ambiente corporativo, no ambiente educacional e até no ambiente familiar e social. As pessoas entendem sem aprender!

 

O aprendizado organizacional é assunto recorrente no ambiente corporativo, mas também é tema que ainda se encontra em construção dentre muitos autores que se arriscam em escrever sobre o assunto. Não existe aprendizado organizacional se não for precedido de aprendizado individual e que também não gere aprendizado grupal.

 

Orlando Pavani Junior é CEO da Gauss Consulting. ([email protected])

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