Participei da elaboração de vários programas de ideias para contenção de despesas, e me sinto muito à vontade para concordar. Mas, em vez de falar sobre o óbvio – os resultados em economia – quero apontar outros benefícios, nem todos tão tangíveis.
Primeiro, esclareço um equívoco: o objetivo inicial é que esses programas se beneficiam apenas de muitas pequenas ideias, e que as despesas só diminuem realmente quando há economia de escala. Isso é parte da verdade. Que o diga Edison Moraes, diretor presidente da Atenua Som, fabricante de janelas antirruído. Foi graças a José Ilton de Souza, um de seus colaboradores, que ele abandonou a proposta de instalar um novo elevador na empresa e optou por uma escada paralela, eliminando não só grande parte dos custos como meses de quebradeira infernal.
A visão que funcionários possuem da redução de custos de cima para baixo não é nada simpática. Aparentemente, ela prejudica projetos futuros, elimina certos confortos (haja subjetividade para decidir o que é conforto e o que é necessidade) ou, pior ainda, causa demissões. Assim, reduções decididas dessa maneira tendem a não decolar, arrasar a moral do pessoal e a serem abandonadas assim que possível.
Porém, basta contar com a participação dos colaboradores para conseguir virar o jogo: entra a criatividade, o reconhecimento e o empowerment. Melhor ainda, a maior parte das ideias acaba eliminando os verdadeiros desperdícios, com soluções que tem tudo para durar. Num clima motivado, a atitude também muda. Mesmo empresas que não premiam sugestões – como apagar a luz – acabam gerando comportamentos que reduzirão despesas inúteis.
O aprendizado é enorme: os programas de ideias, de cuja elaboração participei, envolveram estímulo a visão sistêmica, noções de avaliação custo-benefício, diferenciação entre o essencial e o dispensável. Vale lembrar que esses programas podem ser ampliados: com a plataforma montada, costumo – em função do timing e das necessidades – acrescentar espaço para outras ações que visam, por exemplo, melhoria no atendimento, qualidade de vida no trabalho ou sustentabilidade.
E finalmente, já que esses programas estimulam a criatividade, o questionamento de hábitos rotineiros e as mudanças rápidas, podemos aproveitá-los para incrementar outra grande necessidade das empresas: a cultura de inovação. Mas vamos deixar essa parte para uma próxima oportunidade!
Gisela Kassoy é especialista em criatividade, inovação, adoção de mudanças e programas de ideias. Atua com consultoria, seminários, palestras e facilitação de grupos de ideias, com trabalhos realizados em quase todo o País, nos EUA, na Europa e na América Latina.