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Estamos pagando caro pela incompetência

Autora: Susana Falchi
O crescimento da massa salarial nos últimos anos vem acompanhado pela queda de produtividade e da dificuldade de as empresas conseguirem mão de obra qualificada e reter talentos. O quadro tende a se agravar em 2014 e nos anos que se seguem e não é nem um pouco pessimista alertarmos para um apagão de mão de obra no Brasil. Além das questões estruturais, é preciso lembrar que há questões comportamentais que agravam o problema, como o assédio moral e os problemas de desvio de conduta verificado em recente pesquisa. Todo esse cenário é bastante desafiador para os empresários.
Em compensação, a realidade do empregador é bem diferente. Os dados da pesquisa “Falta de trabalhador qualificado reduz a competitividade da indústria”, publicada em outubro de 2013 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostram que 65% das empresas consultadas enfrentam problemas com a falta de trabalhador qualificado. Metade das empresas que encontram dificuldade para qualificar seus colaboradores apontam a baixa qualidade da educação básica como o maior entrave. O levantamento abrange 1.761 empresas, sendo 607 pequenas, 692 médias e 462 grandes.
A pesquisa detalha que as indústrias enfrentam dificuldades para encontrar trabalhador qualificado em todos os níveis, porém o problema é mais abrangente com relação a operadores e técnicos na produção. Entre as empresas industriais em que a falta de trabalhador qualificado é um problema, 90% têm problemas com operadores e 80% com trabalhador de nível técnico. As áreas de pesquisa e desenvolvimento e gerencial são as que geram menos problemas para as empresas, ainda que os percentuais de empresas afetadas sejam consideráveis: 59% para pesquisa e desenvolvimento e 60% para pessoal do nível gerencial.
No setor de serviços, que emprega o maior número de pessoas, a realidade não é diferente. Pesquisa encomendada ao Grupo Ipema pela Central Brasileira do Setor de Serviços – Cebrasse, mostrou que apenas 18,4% das pessoas que atuam nesse segmento têm curso superior completo. Desse total, somente 3,24% conta com pós-graduação. O mesmo mal afeta o setor: 86% apontam como seu maior problema de gestão a questão de atrair e reter bons profissionais. Assim, empresários desenvolvem ações internas de treinamento e capacitação, buscam novas fontes de recrutamento ou fazem parcerias com sindicatos dos trabalhadores para solucionar o problema.
Unindo as duas questões temos um grave problema: a mão de obra está mais cara e menos produtiva. Tal fato leva à perda de competitividade da indústria brasileira no mercado global.
A pesquisa da CNI mostra um quadro totalmente desafiador: dentre as três principais dificuldades decorrentes da falta de trabalhador qualificado, a busca pela eficiência ou a redução de desperdícios é a opção mais lembrada: 74% das empresas. Na comparação com a sondagem feita em 2011, verifica-se um crescimento de 5 pontos percentuais no número de respostas. Assim, não é de se estranhar o fato de que a produção industrial manteve-se praticamente estagnada entre janeiro de 2011 e abril de 2013.
Para aumentar o desafio, o empresário se depara com outro problema, que cresce geometricamente: quem trabalha está doente. Segundo o Ministério da Saúde, dez pessoas pedem afastamento do trabalho por hora por causa de depressão. Há inúmeros fatores que provocam isso, mas um fator prevalece: desvio de caráter de executivos. Uma amostragem realizada pela HSD com mais de 5.000 avaliações com pessoas ocupantes de cargos de comando mostrou que 20% dos avaliados possuem desvio de conduta, o que leva a diversos tipos de abusos, que chegam a afetar a saúde daqueles a quem comandam.
As corporações insistem em ignorar o perfil de caráter daqueles que contratam, principalmente, quando geram resultados econômicos. Isso cria um quadro grave, como mostra um estudo realizado pela revista The Week sobre as profissões que mais atraem psicopatas, que, definidos a grosso modo pela publicação, são pessoas que possuem emoções superficiais, estresse, falta de sensibilidade com o sentimento dos outros, irritabilidade, entre outras características. Em primeiro lugar, estavam os CEOs.
Obviamente, isso passa pelos departamentos de RH, onde há pouco investimento na qualificação desses profissionais para que dêem o suporte adequado à estratégia empresarial. Raro é o RH que está alinhado com a atividade fim da empresa, que tem capacidade – ou interesse – em analisar o mercado em que a corporação atua e suas tendências. Dessa forma, são poucos os profissionais da área que sabem algo sobre estratégia empresarial e que são capazes de traçar uma política de gestão de pessoas coerente com essa estratégia.
Num futuro próximo, não é difícil imaginar as empresas vivendo problemas de liderança. Levantamentos da HSD apontam que um quarto dos que atualmente ocupam funções de comando estará aposentado em cinco anos. Até 2025, serão 40%. Simultaneamente, nota-se que 35% dos jovens não se interessam por cargos organizacionais o que, curiosamente, não parece alarmar os CEOs: 25% dos que ocupavam a função em empresas que faturam mais de US$ 10 milhões ao ano ignoram programas de atração e retenção de talentos.
Somados os problemas sistêmicos do país, que resultam na baixa qualificação da mão de obra, baixa competitividade, o descompasso entre planejamento organizacional e o crescimento econômico nas empresas privadas, vemos um apagão de mão de obra surgindo no horizonte.
Susana Falchi é CEO da HSD Consultoria em Recursos Humanos.

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