O canal para quem respira cliente.

Pesquisar
Close this search box.

Festa da empresa? Leia e pode ir…

Autor: Edilson Menezes
Rose era uma belíssima mulher e estava vestida com extremo bom gosto. O rapaz a olhou com atenção. Por um daqueles rápidos instantes nos quais temos certeza de que estamos sendo observados, Rose o percebeu e desviou rapidamente o olhar quando sentiu que os olhos deitados nela eram cobiçosos.
Minutos depois, na pequena fila que se formou à porta do banheiro feminino, a moça esperava sua vez. O mesmo rapaz parou ao seu lado, visivelmente embriagado, entregou-lhe um pequeno papel e disse:
– Meu nome é Mauricio. Eu estava te olhando e vi que você correspondeu. Anotei neste papel meu telefone e e-mail. Posso esperar que faça contato?
Indignada e surpresa, ela amassa o papel na frente dele e reage como pode.
– Que falta de respeito. Nunca te vi e não estava correspondendo coisíssima alguma. Tá vendo esta aliança na minha mão esquerda? Não sei se avisaram no planeta de onde você saiu, mas aqui significa compromisso. Eu sou casada!
O rapaz ainda insistiu.
– Eu não sou ciumento!
Ocorre que mulher nunca vai ao banheiro sozinha e a amiga de Rose, que até ali escutava em silêncio, interviu.
– Se ela fosse sua filha, irmã ou mãe e alguém a abordasse na porta de um banheiro, você ficaria feliz, babaca? Vou chamar o segurança!
Com um gesto, Mauricio indicou que não precisava e virando-se para Rose, antes de sair, ainda disse:
– Sua amiga tá com ciúme de você porque ela é feia pra caramba!
Finalmente, o rapaz se afasta. As duas ficam ali, paradas e agredidas por tamanho desrespeito. Minutos depois, elas voltam para a mesa, onde seus respectivos maridos, que também eram sócios na empresa, aguardavam-nas. 
Ainda no banheiro, decidiram não contar o triste episódio para eles. Definiram que poderia acabar em confusão e o rapaz não merecia que aquela noite especial fosse estragada. Para a surpresa de ambas, Mauricio estava sentado na mesa da família e conversava amigavelmente com seus maridos. Uma olhou para a outra sem entender e o paquerador de plantão, quando percebeu que os dois naquela mesa eram quem eram, empalideceu. Sem perceber nada, um dos maridos fez a apresentação.
– Amor, este é Mauricio. Estávamos aqui neste exato momento preparando uma surpresa e aproveitamos a confraternização para comunicar que ele será nosso novo diretor na área de recursos humanos. Ele está um pouco alto, mas merece. Lutou muito para colocar nossa empresa nos eixos durante todo o ano.
O semblante de ambas se fechou imediatamente. O rapaz, muito constrangido, apertou-lhes as mãos, disse “muito prazer” como se não as tivesse visto antes e ofereceu um olhar que parecia implorar silêncio.
Rose pediu para conversar em particular com o marido. Afastou-se da mesa e o levou até a porta do banheiro feminino. Chegando lá, procurou e encontrou o papelzinho amassado. Abriu e colocou-o nas mãos do marido.
– Este tal de Mauricio não pode cuidar de recursos humanos na sua empresa porque ele simplesmente não respeita o ser humano. Quando viemos ao banheiro, ele nos seguiu, me deu este papel, pediu que fizesse contato, ignorou quando eu disse que era casada e ainda ofendeu nossa amiga que tentou me defender.
O marido, atônito, respirou profundamente. Olhava para a esposa. Olhava para o papel.
– Como ele ousa, na noite de confraternização da empresa, dar em cima da esposa do diretor?
– Amor, é óbvio que ele não sabia e para piorar, está bêbado. Porém, não justifica. A decisão é sua. Eu tinha que te contar porque a atitude é do perfil dele. Cedo ou tarde, este rapaz vai assediar suas funcionárias.
O marido deu um abraço na esposa, pediu desculpas pelo comportamento do funcionário e foi falar com os dois seguranças.
– Quero que me acompanhem até a mesa onde estamos. Lá, está aquele que seria nosso diretor de recursos humanos e acaba de cometer um grande desrespeito com a empresa. Vou falar com ele e se reagir com agressividade, podem colocá-lo para fora à força!
Os seguranças contratados cumpriram a ordem e o seguiram. Enquanto isso, Mauricio ainda emplacava uma conversa tranquila com o sócio do marido de Rose. Imaginava que estava tudo certo e elas nada contariam. Mais uma vez, ficou surpreso quando viu que o casal voltava para a mesa com dois seguranças. O marido e patrão procurou ser simples e direto.
– Mauricio, na noite de hoje você seria promovido a diretor e daqui em diante trataria do nosso setor de recursos humanos que responde por mais de mil colaboradores. Em plena noite de confraternização você ficou bêbado e como se não bastasse, flertou com a esposa do sócio. Se você fez isso aqui, é capaz de fazer em qualquer lugar. Está despedido. Pode ir embora agora por bem ou os seguranças vão te acompanhar. Na próxima segunda-feira, como você já conhece bem a rotina, aguarde contato de nosso RH para tratar da papelada.
Mauricio ficou tão constrangido que a bebedeira pareceu ter passado. Levantou-se e sem dizer uma palavra, caminhou até a porta de saída. Foram os 10 metros mais constrangedores que já andou em toda sua vida.
A história é fictícia, mas quem ousaria duvidar que já aconteceu e que ainda acontecerá outras vezes?
Nos próximos dias, você participará de várias festas corporativas de confraternização e como articulista, preciso registrar algumas dicas baseadas no que já vi e ouvi por aí.
1. Profissionais de recursos humanos e líderes em geral aproveitam as festas de confraternização para identificar os perfis que deixarão a empresa no ano seguinte. Por exemplo: o álcool potencializa a identidade. Embriagados, os agressivos arranjam confusão. Os calmos, ao invés de interagirem com os clientes, parceiros e fornecedores, cochilam. Os entusiastas dançam sobre a mesa e assim por diante. Em encontros desta natureza, a expressão “sorria, você está sendo filmado” é real. A todo instante, alguém te observa;
2. Na festa, a bebida pode ser gratuita, mas a sua imagem tem ou deveria ter valor. O fato de a empresa ter encomendado uísques de puro malte não te obriga a aceitar. Se você cair, não derrubará só o corpo. Sua imagem tombará com ele;
3. Depois da festa, o cliente chega em casa, liga a televisão e ao vivo, repara que a polícia acaba de flagrar um motorista dirigindo alcoolizado. Quando o cliente presta mais atenção, descobre que é o diretor da empresa que estava sentado há pouco com ele, na confraternização. Vai-se a reputação do diretor. Vai-se a imagem da empresa;
4. Cuidado com os amigos de perfil entusiasta. Alguns insistirão que, assim como eles estão fazendo, você beba tudo e se não topar, vários deles te chamarão de “puxa-saco”. Uma boa resposta é a seguinte: – “Eu faço um churrasco em minha casa e te convido. Vamos beber até cair, mas aqui, embora não esteja trabalhando, eu continuo na empresa”;
5.Tem muito colaborador que usa estas festas para dizer o que está entalado e acumulado durante todo o ano. Esta atitude demonstra fraqueza de postura. Os assuntos que te incomodam devem ser trazidos à baila na empresa, durante a reunião do expediente e não na confraternização. Nada é mais deselegante e egoísta do que lavar roupa suja nestes encontros, porque a festa não é sua e sim da empresa;
6. Não ofenda os amigos de trabalho. No corporativo, não existem segredos. – “Descobri algo sobre tal pessoa e vou te contar, mas fica entre nós”. – Esqueça. Os segredos desabam e se tornam públicos conforme o tamanho da maré. Quem está se afogando não poupa ninguém. Aliás, por isso foram criados, por exemplo, programas como delação premiada e disque-denúncia. Se a máfia caiu desta maneira, imagine o seu emprego;
7. Por último e não menos importante, um recado aos solteiros de plantão: quer paquerar? Procure um bar. O cavalheirismo e a gentileza não podem ficar do lado de fora da confraternização e por esta razão, você não tem o direito de assediar ou constranger.
Entretanto, você tem o direito de aproveitar, relaxar, relembrar momentos marcantes do ano, sorrir, fortalecer as boas relações com a equipe, os líderes, clientes, fornecedores e aliados da empresa.
Talvez, você alegue:
– Amigo articulista, mas assim a festa vai ficar chata!
Eis a minha resposta e peço desculpas se ela te causa algum desconforto: 
– Quer uma festa ao seu estilo? Faça em sua casa ou procure um bar porque a empresa é ou deveria ser o templo sagrado onde sua missão de vida é cumprida todos os dias, inclusive no dia da confraternização.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima