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Os desafios da mulher moderna



Autor: Maria Lucia Pettinelli


Ainda hoje a mulher e o mundo do trabalho rendem teses e pesquisas ao redor do mundo, todas apontando uma inadequação nos papéis femininos dentro das organizações ou a inaptidão para ocupar posições de liderança. Aparentemente, o dilema continua a residir entre ser “dura demais” e conquistar respeito ou querer ser amada e ser percebida como incompetente. É verdade que as mulheres caminharam muito nesses últimos 30 anos, mas apesar disso, ainda não imprimiram uma marca feminina no mercado de trabalho. Embora venham fazendo história, e muita.

 

No fim da década de 90, quando as empresas começaram a ouvir as mulheres para tentar reparar de alguma forma o prejuízo causado pelo preconceito masculino, a multinacional onde eu trabalhava na época, reuniu mulheres de 150 países, num fórum mundial, e inúmeras revelações vieram à tona. Profissionais de diferentes áreas, vindas de todas as partes do globo, buscavam fazer esse balanço, e a tônica dos depoimentos foi uma só: para conquistar espaços de destaque as mulheres fizeram sacrifícios desmedidos e exagerados. A vida pessoal sempre ficou em segundo plano.

 

Não foi à toa que em 30 anos de dura disputa no mercado de trabalho, saímos da situação de sermos uma minoria nas salas de reunião das grandes empresas para os índices demográficos que apontam a mulher como o arrimo de família no sustento dos lares – ao menos os brasileiros.

 

Para modificar o cenário dominante dos anos 80, quando os anúncios de emprego ainda davam preferência explícita pelo sexo oposto, fizemos das tripas coração. Desde buscar uma mimetização estética com nossos terninhos de linho duro, que mais lembravam couraças, a imitar um comportamento, no mínimo duvidoso, na medida em que incorporava códigos alienígenas para que as mulheres ganhassem o direito de serem ouvidas. Na época, inclusive, existia um manual com inúmeras regras e restrições de conduta – não vista decote, use pouca maquiagem, não se envolva jamais com o colega de trabalho, deixe de lado a feminilidade, não brilhe, mas se imponha. Ufa! Era demais para qualquer ser humano.

 

Esse é um recorte de um momento em que as mulheres só eram admitidas ‘excepcionalmente’ porque tinham conteúdo. Mas foi através desse conhecimento, para o qual algumas se dedicaram muito, que muitas portas foram abertas. Elas tinham que se superar. Em 90, as mulheres já detinham os melhores currículos, sendo mais preparadas do ponto de vista formal. Ou seja, elas eram potencialmente melhores.

 

Tudo isso não arrefeceu os ânimos masculinos que continuam incapazes de nos ver como estrategistas ou líderes. Foi aí que assumimos papéis que não eram nossos, deixando os nossos próprios de lado. Adiamos a gravidez, o casamento, nos dedicamos mais em termos de horas trabalhadas e aprendizado contínuo. E amargamos sobras, nos acostumando a esse inexplicável fenômeno social, o de ocupar a mesma função e ganhar menos! O medo de não conquistar espaços num mundo feito pelos homens e para os homens era tamanho que algumas recusavam o amor se ele acontecesse no ambiente de trabalho. Uma geração inteira cresceu com medo deste estereótipo.

 

É verdade que encontros para discutir o papel da mulher no mundo corporativo como o que eu estive presente, foram responsáveis pela introdução de um sem número de benefícios que hoje auxiliam a mulher a cuidar dos filhos e dos idosos e, ao mesmo tempo, viver seu lado profissional. Mas algumas ainda continuam a achar que precisam ser bravas, mandonas e autoritárias para vingar no mundo do trabalho.

 

Sem dúvida, a competência e a capacidade, bem como o conhecimento, são fundamentais para a sobrevivência profissional. Mas acredito que deveríamos resgatar o nosso próprio estilo de liderar e dirigir, buscando encontrar naturalidade nesta forma de agir. O que acontece é que ao incorporar modelos diversos que não eram seus – as mulheres perderam a espontaneidade, fato que as impediu de dar o seu “tom” nos ambientes empresariais. Mas nem tudo está perdido. Já é possível identificar a sensibilidade e o jeitinho feminino, em algumas áreas como a indústria de consumo onde o target são as próprias mulheres. Resta ainda, portanto, batalhar para que nossa presença em outros setores mais áridos como os serviços e as indústrias de alta tecnologia, por exemplo, ganhem não apenas em eficiência, mas principalmente em savour-faire.

 

Maria Lucia Pettinelli é especialista em carreiras e diretora da Choice Consulting. ([email protected])

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