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Os diferentes tipos de liderança em Lost


Tadeu Alvarenga

Quem ainda não viu o Seriado Lost está perdendo um dos Grandes Seriados – e também um dos Grandes Fenômenos de Mídia – dos últimos anos. Quem já viu, sabe do que estou falando.

A trama é muito simples: um avião cai em uma ilha deserta do Pacífico, perdida no meio de lugar nenhum. De início, eles ficam esperando por um resgate, mas logo percebem que este resgate nunca virá. Aos poucos, eles começam a constituir grupos, amizades, alianças. Existe a necessidade de se organizarem a fim de garantir a sua sobrevivência. Líderes – ou candidatos a líderes – surgem e são, de alguma forma, testados. No fim sobram dois: o Médico Jack Shephard e o enigmático John Locke. Todo o eixo da primeira temporada revolve ao redor destes dois. Eles representam formas diametralmente opostas de se encarar a realidade – e, também, por conseqüência, formas inteiramente distintas de se exercer a liderança. Falaremos aqui do primeiro destes dois e deixaremos o segundo para uma outra oportunidade, caso se apresente.

O Dr. Jack Shephard é o típico líder integrador. Este tipo de líder se caracteriza principalmente por duas coisas. Ele se caracteriza, primeiro, por um alto senso de coerência interna, ou seja, de integridade, no sentido maior desta palavra – ou, pelo menos pela busca desta coerência. Em segundo lugar, este tipo de líder se caracteriza por uma capacidade de transpor esta integração – que lhe é inerente – para o meio que o cerca. Ele está sempre buscando integrar as pessoas à sua volta em torno de um propósito comum. Quando se fala em “Liderança baseada em Caráter” ou algo do tipo, se fala principalmente deste tipo de líder.

Também quando se fala que “Primeiro se deve Buscar a Auto-Liderança para depois se exercer a Liderança junto aos outros” é quase impossível não pensar no líder integrador, pois é exatamente isso que ele faz: ele primeiro busca se integrar para depois integrar o grupo. Uma imagem simples, porém poderosa, deste tipo de líder é a do pastor de ovelhas, que quando uma ovelha se perde do rebanho, ele vai atrás dela para trazê-la de volta e reuni-la ao rebanho. O nome do personagem, “Shephard”, em sua origem, não significa outra coisa a não ser exatamente isso: “pastor” e, mais precisamente, “pastor de ovelhas”. Em vários momentos ao logo dos episódios – nos vemos pessoas que se afastam emocional ou mesmo fisicamente do convívio do grupo e que são resgatadas por Shephard – como se fora um pastor atrás das ovelhas. Este comportamento, inclusive, gerou, em páginas de fãs a seguinte discussão: “Porquê o único médico do grupo de sobreviventes está sempre se embrenhando na floresta atrás de qualquer um que some?”. A resposta já foi dada aqui: não seria possível a Shephard fazer de outra forma, pois esta é a natureza do líder integrador. Nisto consiste, ao mesmo tempo, a sua força e a sua fraqueza.

Muito embora Jack Shephard tenha se firmado na segunda temporada como o líder inconteste dos sobreviventes do vôo 815, houve um momento em que esta liderança parecia oscilar entre ele e o misterioso John Locke. Talvez um dos acontecimentos mais significativos, mais marcantes, da primeira temporada foi quando vimos Locke “abdicar” do papel de líder em favor de Jack. Acredito que Locke tenha de alguma forma pressentido que o grupo necessitava daquele tipo de liderança que só o Dr. Jack seria capaz de proporcionar e, por isso, deu um passo atrás, deixando-o assumir “a frente”. De fato, foi só a presença de uma liderança integradora que permitiu que o grupo se tornasse coeso, construísse uma rotina e superasse as adversidades do ambiente. Isto fica particularmente claro na segunda temporada, quando somos apresentados a um outro conjunto de sobreviventes. No desenrolar da trama, se torna evidente que foi a falta de uma liderança neste segundo grupo que fez com que os membros fossem abatidos um a um até se encontrarem com o grupo liderado por Shephard.

Tadeu Alvarenga é sócio-diretor da Alves & Alvarenga Consultoria em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas. ([email protected])

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