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Outliers, os fora de série

Autor: Alzira Azeredo
Partindo do ditado popular que “Sorte é o que acontece quando o preparo encontra a oportunidade”, ao ler as páginas de “Outliers”, de Malcon Gladwell, alguns podem acreditar que a sorte é um fator impulsionador do sucesso.
O significado da palavra outliers assemelha-se mais em nosso português a algo como fora de série. Gladwell cita vários exemplos da história recente da sociedade americana para apontar que “ninguém surge do nada. Devemos alguma coisa à família e a protetores”. Eu, particularmente, nunca gostei que meus sucessos ou fracassos fossem atribuídos à sorte, ou à falta dela. Sempre preferi responsabilizar a mim mesma. Isso não tem nada a ver com não reconhecer aqueles que me foram muito caros no processo de desenvolvimento pessoal e profissional. Para muitos é difícil admitir que a forma como vivemos hoje depende muito mais de nossas escolhas anteriores que do acaso. Em nossa cultura é muito fácil atribuir responsabilidade aos outros, aos pais, ao governo, à economia, aos Partidos Políticos, à crise internacional etc. Esse comportamento somente denota imaturidade.
O sucesso e o fracasso dependem de pontos de vista que são tão variados como grãos de areia. Ao rotular, perdemos a oportunidade de elevar indivíduos a patamares mais altos, atribuindo ao acaso seus resultados, e desprestigiando o esforço próprio.
Também em “Outliers”, o autor retoma a regra das 10.000 horas, citando casos de personagens conhecidos dos nossos dias: Bill Gates, Beatles, e outros gênios em suas respectivas áreas de atuação. Para nenhum deles o sucesso caiu do céu. Cada um dedicou uma parte considerável de suas vidas à sua curiosidade ou paixão. O primeiro utilizou seu tempo livre sustentando sua curiosidade para entender como funcionam as máquinas que hoje nos proporcionam tanta funcionalidade. O segundo exercitou horas e horas como ilustres desconhecidos em Hamburgo, Alemanha, experimentando tudo aquilo que poderia sair de seus instrumentos. Assim também é com aquele que é admitido nas mais admiradas escolas de música, por exemplo: primeiro vem a dedicação, o esforço, as 10.000 horas de suor e lágrimas, para que, então, tudo pareça tão fácil e natural que nem demonstre requerer esforço. “A prática não é aquilo que uma pessoa faz quando se torna boa em algo, mas aquilo que ela faz para se tornar boa em algo.”
Ele constata que temos condições de assumir o controle dos mecanismos do sucesso por meio de ingredientes simples, mas eficazes: paixão, talento e esforço. É como a combinação de três elementos químicos que precisam estar equilibrados. Contudo, os pesquisadores, ao analisarem as carreiras dos talentosos, concluem que cada vez mais o papel desempenhado pelo esforço se sobrepõe ao talento. Esses outros fatores além da inteligência e do talento, já demonstram ter mais peso na determinação sucesso. Na década de 20, Lewis Terman conduziu uma longa pesquisa com jovens de alto QI durante vários anos com a intenção de comprovar que o intelecto exercia um papel determinante no destino desses indivíduos. Nas palavras dele, depois de décadas de estudo, perceberam com uma ponta de decepção, que intelecto e realização estão longe de uma correlação perfeita.
É obvio que um intelecto privilegiado é um diferencial. Contudo, outras características como esforço e resiliência são tão ou mais importantes. Algumas dessas características são conhecidas como “inteligência prática” que inclui elementos como perseverança e perspicácia de saber o que dizer e para quem dizer, no momento preciso, para se alcançar um resultado. Esta inteligência é entendida como “saber como fazer algo, sem necessariamente saber o porquê se sabe aquilo nem ser capaz de explicar isso”. Esse é o tipo de inteligência que é usada para interpretar situações de modo correto e obter o que se deseja.
Estamos numa eterna busca de significado para nossas existências. O autor relaciona três fatores para alcançarmos esse significado: autonomia, complexidade e relação entre esforço e recompensa. Em última análise, não é quanto ganhamos que nos deixa satisfeitos, e sim o fato de estarmos realizando uma atividade a que atribuímos importância. O trabalho árduo só representa uma sentença de prisão quando não é significativo.
“O sucesso não é um ato aleatório. Ele surge de um conjunto previsível e poderoso de circunstâncias e oportunidades.”
Alzira Azeredo é diretora financeira e de recursos humanos da Abramundo. Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília e com MBA em Finanças pela FGV, também atuou como executiva de finanças para a Unesco por seis anos.

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