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Ronaldo, Robinho e equipe

Luis Felipe Cortoni

Todas as vezes que nossa seleção de futebol entra em campo vivemos um clima de debate, discussão e aprendizagem nacional. Experimentamos os sentimentos mais diversos, ao vermos nossos craques e técnicos tentando se organizar para vencer uma partida, um campeonato. A grande maioria procura entender, justificar, criticar, enfim, opinar sobre a melhor maneira de garantir a nossa posição mundial neste esporte: pentacampeão.
Porém, agora que estamos partindo para o hexa, poderíamos rever alguns fundamentos importantes para a prática deste esporte, que outras áreas do conhecimento já nos possibilitaram conhecer.
Por exemplo, do ponto de vista da formação, do funcionamento e do gerenciamento de equipes de futebol, nossas convicções e práticas ainda deixam a desejar. A primeira delas é óbvia: não sabemos o que é uma equipe, ou no mínimo temos uma compreensão um pouco equivocada do que é, e como funciona uma equipe. Se não, vejamos:
– Ainda cremos que a soma de excelentes talentos individuais é uma equipe; estes mesmos talentos deverão nos safar das dificuldades à partir de um gesto de genialidade e heroísmo, ou seja, na hora H eles devem salvar a equipe. E se não estiverem nos seus melhores dias? Ronaldo que o diga, pois o Robinho já está sendo preparado para cumprir esta ingrata missão;
– Demoramos em reconhecer uma característica fundamental que só as verdadeiras equipes possuem: a sinergia, ou seja, a capacidade da equipe produzir um resultado melhor do que o melhor resultado que um integrante possa conseguir individualmente;
– Descobrimos tarde que relações interpessoais mal resolvidas, vaidades exageradas, ausência de conforto psicológico, clima de disputas dentro de uma equipe pode levar a rachas internos, e a desastres em campo;
– Acreditamos em mitos, como: em equipe que está ganhando não se mexe, conflitos internos são malignos e não devem fazem parte do cotidiano da equipe, as equipes de trabalho são como uma família, o confinamento de adultos leva à sua integração, a integração no lazer promove a integração no trabalho etc, crenças que em outras áreas onde as equipes também funcionam já foram, há muito tempo, “jogadas para escanteio”;
– O investimento no conteúdo (capacitação técnica, conhecimento de ferramentas de trabalho etc) é muito maior do que o investimento no processo de trabalho das equipes (administração interna de conflitos, ajustes interpessoais, modos de atuação estratégicos e táticos etc), comprovando que talvez não conhecemos ou não damos a devida importância a esta variável imprescindível do desempenho das equipes: seu processo de trabalho, sua forma de obter resultados;
– Nossa concepção de liderança externa (no caso o técnico) e interna (o capitão) também precisa ser revista, pois a força que depositamos na função e no desempenho do líder interno, mostra que sua atuação deve superar a da própria equipe que ele lidera, ou seja, novamente a crença de que um, e somente um indivíduo, deve dar vida a uma equipe que dentro do campo mostra que não funciona bem;
– Com o líder externo parece que as coisas são semelhantes: acreditamos na sua soberania em determinar e decidir o que é melhor para a equipe, pois ele detém os requisitos que consideramos fundamental para exercer esta posição – experiência, e conhecimento técnico;
– Ainda em relação ao líder externo, parece que para nós ele deve ser uma autoridade – e não um coach como dizem os americanos – recaindo sobre seus ombros o peso da derrota, ou os louros da vitória que ele divide com a equipe por uma questão de estilo pessoal.
Enfim, a capacidade e o talento individuais, dos nossos atletas em jogar bola são inegáveis (porque afinal só se falava no Ronaldo o Fenômeno em 2002?) e os resultados também. No entanto, poderiam ser muito melhores (quem consegue esquecer 1998?) se o futebol se espelhasse em outras áreas de trabalho, onde estas lições já foram aprendidas, e nos brindasse com um pouco mais de competência na gestão de pessoas e de equipes. Dito de outra forma, gerentes de empresas e líderes em organizações, por exemplo, é que poderiam fazer palestras aos técnicos de futebol e não ao contrário como tem freqüentemente acontecido.
Luis Felipe Cortoni é professor do Instituto Vanzolini (USP) e sócio-diretor da LCZ Desenvolvimento de Pessoas e Organizações.

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