A burocracia empresarial surgiu em função da necessidade de regras e procedimentos que pudessem melhorar a eficácia e a qualidade da gestão. Entretanto, o desempenho de uma equipe tende a cair quando essas normas, formulários ou documentos carecem de inteligência lógica e prática. É o que explica Eduardo Carmello, diretor da Entheusiasmos Consultoria em Talentos Humanos. “Quando o custo e o esforço desse processo ou comportamento burocrático impede a agilidade e eficácia da equipe para conseguir realizar os objetivos, podemos dizer que temos um problema”, aponta. O consultor enumera oito sinais de que a gestão de uma empresa ultrapassou essa barreira e pode ser considerada, portanto, contraproducente:
1) “Não estou autorizado a fazer isso”: Um dos sinais é a necessidade de autorizações de superiores para realizar tarefas ou trabalhos que todos sabem que devem e podem ser feitos por qualquer um. Esse delay entre a espera pela autorização e a resolução da situação pode afetar a produtividade de toda uma equipe.
2) Reunião diária é lei: Ter que fazer obrigatoriamente reuniões sem pauta, sem objetivos ou sem disposição para resolver os problemas que todos já conhecem apenas por causa de uma norma diminui a produtividade. Os funcionários acabam perdendo tempo e ficando entediados.
3) Tudo é urgente e prioritário: Instigar funcionários a terem senso de urgência e ao mesmo tempo dizer que tudo é prioridade não faz sentido. O profissional precisa administrar as demandas em níveis prioritários diferentes, garantindo um fluxo de trabalho. Tratar tudo como “o mais urgente” só atrapalha a produtividade.
4) Quanto mais informação, melhor: Oferecer um número de canais de informação focada em quantidade, não em relevância de informações, é um erro. Ao invés de ajudar, isso acaba confundindo e equipe sobre o que é realmente atual e importante para ser feito.
5) Precisa saber de algo? Leia esse relatório de 100 páginas: Construir e fazer a equipe ler relatórios muito extensos, sem condensar informações é típico do excesso de burocracia. O ideal é trazer aquilo que precisa ser entendido de uma forma prática, se possível numa única página.
6) Cliente em primeiro lugar, mas só depois do processo interno: Um dos sinais mais frustrantes para os colaboradores é saber que seria possível resolver um problema do cliente em 5 minutos, mas ser obrigado a seguir uma norma e um processo interno que atrasa essa solução.
7) “Melhorar” o trabalho com novos formulários: Criar novos formulários e documentos para “melhorias” que não condizem com a realidade dos funcionários. O formulário que foi feito para ajudar, atrapalha, pois gasta tempo demais para ser preenchido e impede o funcionário de fazer um trabalho de alta performance.
8) Três chefes são melhores do que um: Na empresa excessivamente burocratizada, o funcionário precisa se reportar a dois ou três gestores. Além disso, cada um deles pede uma tarefa que é totalmente diferente das outras em termos de objetivos e condutas empresariais. Essa falta de foco é inimiga da produtividade e também da motivação.
Entre a flexibilidade e a rigidez
Mesmo podendo trazer efeitos negativos para a produtividade e a motivação dos funcionários, Eduardo Carmello ressalta que é errado ver a rigidez como algo unicamente negativo em uma empresa. Ele explica que é preciso ter uma gestão madura, que saiba tomar atitudes rígidas e flexíveis. “A rigidez é bem utilizada quando se trata de valores e leis que regem a organização. Se a empresa aplica gestão de desempenho, por exemplo, não há como gestores e equipes deixarem de fazer tal procedimento. Dessa forma, não há como dar um jeitinho, deixar de preencher o formulário corretamente ou fazer uma ´gambiarra´, pois os resultados serão afetados negativamente”, explica. Quanto à flexibilidade, ele explica que é preciso fazer uma distinção entre ser flexível e ter o hábito de “dar um jeitinho” para tudo.
Assim, o que vale é o bom senso e o discernimento da empresa e principalmente do gestor, que deve analisar profundamente a burocracia imposta. É fundamental que esses profissionais que são responsáveis pela performance de todos os demais sejam capacitados, já que são eles que, no cotidiano, podem dizer se as normas são realmente inteligentes e eficazes ou morosas e irrelevantes. “Aí está a chave que pode fazer a diferença entre a potencialização da performance e dos valores de empresas e funcionários e a criação de brechas para comportamentos ineficientes, inadequados e inconvenientes”, finaliza o consultor.