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A Internet está mudando: Você percebe?

Autor: Ken Silva
 
Vivemos em um mundo excitante. Um mundo que passa por mudanças radicais todo dia. É provável que você nem tivesse ouvido falar em YouTube, Second Life e MySpace há um ano, mas hoje eles dominam a discussão sobre tendências sociais e o futuro da Internet. Já houve o tempo em que o e-commerce ditava o debate na Internet. Agora, porém, está claro que entramos em uma nova era e somos capazes de sentir a Internet mudando diariamente. A futura Internet pouco vai lembrar a de hoje. É eletrizante pensar nas inúmeras possibilidades para ela que ainda nem foram questionadas, mas o mesmo desconhecido que é estimulante guarda armadilhas perigosas.
Depois da explosão da bolha “ponto com”, nós nos acostumamos à idéia das empresas tradicionais reivindicarem a posse da Internet. Agora, os consumidores ingressaram na “Any Era”, demandando acesso a qualquer informação, por meio de qualquer dispositivo, a qualquer hora e em qualquer lugar. E eles não querem apenas ter acesso, eles querem também contribuir, personalizar e socializar. Sites gerados por contribuição de consumidores, como Facebook, Wikipedia e Flickr, desbancaram muitas empresas tradicionais da lista dos 20 principais sites dos Estados Unidos. Os consumidores estão pedindo as mesmas funcionalidades nas telecomunicações. Eles estão abandonando linhas de telefonia fixa, PCs e e-mail e se tornando totalmente móveis. O rolo compressor “Ídolos” é um exemplo. O e-mail agora é considerado ultrapassado pelos adolescentes, que enviam mais de 200 milhões de mensagens, entre SMS (mensagens de texto via celular) e mensagens instantâneas, diariamente, por meio de dispositivos móveis.
Vivenciamos essa transformação há mais de 12 anos – dos primórdios de acesso à Internet e sites básicos para os anos de adolescência do e-commerce e do e-business e daí para os anos mais evoluídos da Web 2.0, mensagem instantânea onipresente, voz sobe IP, interfaces Web 2.0, smart phones, RFID e entrega de vídeo em banda larga. Não se trata mais de “se você construir, eles virão”. Eles estão vindo e cabe aos fornecedores de infra-estrutura construir e, em alguns casos, reconstruir a infra-estrutura da Internet para assegurar que ela não entre em colapso sob o peso de todo este novo uso.
Prevê-se que nos próximos três anos o volume de tráfego na Internet aumentará 10 vezes à medida que três fatores entram em jogo:
1) as redes sociais (social networking) se expandem para além do domínio dos jovens;
2) os cerca de dois bilhões de telefones celulares e PDAs existentes no mundo se tornam habilitados para Internet e dezenas de milhões de lares mudam para a telefonia de voz sobre IP (VoIP);
3) o número de usuários de Internet dobra e chega a 1,8 bilhão.
Portanto, temos a responsabilidade de garantir que, a qualquer momento, todo e qualquer usuário de Internet possa ter acesso aos nomes de domínios .com e .net mundialmente. Apenas seis anos atrás, eram gerenciadas um milhão de consultas diárias ao sistema de nomes de domínios (DNS) . Hoje, a mesma tarefa leva menos de uma hora. O número de consultas ao DNS vai continuar aumentando e, provavelmente, disparar. A previsão é de que, em 2010, vamos lidar com 270 bilhões de consultas diárias. São mais de três milhões de consultas ao DNS por segundo. Não há cartão de crédito, telefone ou qualquer outro sistema no mundo que lide com este volume de transações.
Para suportar esta carga, é necessário embarcar em uma iniciativa ambiciosa e ampliar 10 vezes a infra-estrutura de Internet até 2010, aumentando a capacidade de consultas diárias ao DNS de 400 bilhões para 4 trilhões, e a velocidade de 20Gbps para 200Gbps. O Project Titan inclui não só instalar mais equipamentos, como também ampliar e aprimorar os sistemas, as operações e os processos mundialmente para gerenciar o crescente tráfego de Internet.
Será suficiente? Esperamos que sim, mas honestamente, não sabemos. Um novo tipo de tráfego está crescendo rapidamente: as consultas geradas por máquinas, e não por indivíduos. Nos próximos anos, mais de 180 milhões de dispositivos domésticos vão acessar a Internet. Muitos vão iniciar consultas na Internet por conta própria sem interação humana. Uma geladeira, por exemplo, poderia enviar uma mensagem alertando que está gelada demais ou que precisa de conserto. Sensores médicos nas residências vão comunicar continuamente aos consultórios médicos os sinais vitais de um doente crônico. Ou sensores em auto-estradas informarão o volume e a retenção de tráfego para satélites, que transmitirão a informação para sistemas de navegação GPS em carros, ajudando os motoristas a descobrir a melhor rota para seu destino. Seja qual for a utilização, está muito claro: a Internet está mudando e teremos de evoluir também se quisermos suportar o que quer que ela venha a ser.
Mas a certeza de mudança é acompanhada por outra constante assustadora: a ameaça crescente de ataques cibernéticos. Em uma distorção infeliz, os próprios dispositivos e o aumento de largura de banda que tornam a Internet mais robusta e amigável para o consumidor agora expõem a Internet a riscos. Os computadores estão sempre conectados (always-on), tornando-se alvo fácil de “seqüestros” por hackers e outros violadores. A maior disponibilidade de largura de banda e de potência de computação dá aos hackers mais munição para usar contra a própria infra-estrutura. Os exploits de segurança aumentaram 700% desde 2000 e os ataques cibernéticos deverão crescer 50% em cada um dos próximos dois anos.
Uma das principais razões para se ampliar a infra-estrutura de Internet mundialmente, para lugares como a Índia, a Alemanha, o Brasil e a África do Sul, é possibilitar que os ataques sejam isolados e contidos. Com a expansão contínua do conjunto de bases de resolução de Internet geograficamente dispersos em regiões emergentes, a infra-estrutura distribuída proporciona segurança e estabilidade ainda maiores contra estes ataques.
A Internet é algo que costumamos dar como certo porque funciona muito bem. Mas agora estamos entrando em uma nova era da Internet, sem precedentes, e não podemos dar como certo que ela continuará sempre segura sem fazermos qualquer esforço. Os usuários de Internet têm de se manter vigilantes em relação aos ataques cibernéticos. As operadoras de infra-estrutura necessitam se preparar para os piores cenários – e outros piores ainda. Os governos precisam trabalhar mais próximos da indústria para assegurar que os sistemas que protegem nossa segurança nacional e nossa prosperidade econômica estejam à altura desta missão.
Com as demandas de consumidores fomentando uma inovação e uma criatividade inigualáveis, a Internet está mudando diariamente. Agora, cabe a todos nós garantir que estejamos preparados para o que quer que a Internet venha a ser em 2010 e além.
Ken Silva é Chief Security Officer e vice-presidente de Rede e Segurança da Informação da VeriSign. Além de fazer parte da diretoria do Information Technology, Information Sharing and Analysis Center (IT-ISAC) e presidente do Conselho de Administração da Internet Security Alliance.

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