Após a retomada da democracia, o Brasil passou por um período com índices de alta inflação, o que prejudicou a capacidade de planejamento de muitas empresas, sendo que esse é um fato essencial para o desenvolvimento de qualquer país. Com isso, os investidores se viram em um território infértil e instável. Por muito tempo, o planejamento do país só ocorreu em curto prazo, pois os empreendedores tinham receio e preferiam focar em outros países mais favoráveis para projetos de longo período. Esse foi o cenário traçado por Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Desenvolve SP, durante o segundo debate do XIII Encontro com Presidentes, que ocorreu hoje (27), em São Paulo. Ele conta que a situação começou a se transformar em 1994 e, desde então, o país se encontra em um processo de se desfazer da má experiência passada e, assim, conseguir investir em novas empresas e inovação. “Com o advento da Internet há uma oportunidade de novo ambiente, que, por mais que seja virtual, muda a realidade vivida nas empresas no dia a dia”, complementa.
Aliás, a Internet e o desenvolvimento da tecnologia foram fundamentais para o surgimento e desenvolvimento das outras empresas que estiveram presentes no painel, como Netshoes, Avaya, 99Táxis e MercadoLivre. “Inovar é duro. Há um cenário hostil para quem está procurando coisas novas e investimento”, afirma Paulo Veras, presidente do aplicativo de táxis. Mas esse processo difícil não foi impossível para ele, que começou com a ferramenta mobile há dois anos. “Nos primeiros seis meses da empresa saíamos às ruas para conversar com os taxistas, saber suas opiniões, mostrar o produto e cadastrá-los. Foi preciso muita resiliência”, conta. A partir do retorno dos taxistas e passageiros, Veras percebeu que mais do que uma opção, a empresa oferecia a solução de um problema. De janeiro de 2013 até hoje, foram 80 mil taxistas cadastrados, uma média de 200 por dia. Somente em São Paulo, o aplicativo está presente em 80% da frota. Ao todo, são um milhão de corridas ao mês, 50 mil por dia, representando um lucro de R$ 30 a 40 milhões no período de 30 dias. Entretanto, eles apenas fazem parte de 5% das corridas. “Esperamos que, no futuro, todos os táxis sejam chamados via aplicativo”.
Da mesma forma como foi trabalhoso para Veras convencer os taxistas a participarem de sua ferramenta, para o Netshoes foi preciso fazer com que os consumidores acreditassem que era possível comprar tênis e artigos esportivos pela Internet, sem experimentar. Desafio vencido por meio da filosofia da empresa de ter sempre o cliente como orientação. “Todas as nossas inovações são focadas nele”, diz o presidente Marcio Kumruian. Nos primeiros três meses da loja on-line houve apenas uma venda, no mês seguinte já contabilizavam mais duas. “Acompanhamos a evolução da Internet. Ela proporcionou um ambiente democrático, onde todos têm o mesmo acesso”. Mas, para ele, ainda é preciso um equilíbrio social, pois enquanto as empresas crescem a uma velocidade rápida, o governo não acompanha.
Quem também acompanhou o mundo virtual foi o MercadoLivre. Existente há 15 anos, a empresa tinha um objetivo simples de fazer com que consumidores vendessem para consumidores, só que apenas 0,5% da população brasileira, na época, estava conectada. Hoje, com quase todos possuindo acesso à Internet, a empresa expandiu: passou de C2C para a opção de também ser B2C, sem contar o leilão on-line e outras oportunidades para empreendedores, como o oferecimento de capital para empresas de tecnologia que desejam entrar no mercado eletrônico. “Hoje, somos uma das 10 URLs mais visitadas no país”, afirma Helisson Lemos, presidente do site. “A gente vem montando um sistema em prol do varejo on-line e a inovação faz parte do espírito da empresa, desde a criação.”
Inclusive, a inovação não serve apenas para uma empresa crescer, também pode fazer com que ela ajude os clientes a se desenvolverem, como é o caso da Avaya. Segundo o strategy service managing direct das Américas, Carlos Bertholdi, é objetivo da empresa que os seus clientes se diferenciem no mercado, por meio de suas soluções, apenas assim ela concretizará o bom uso de suas inovações. “Inovação por si só, sem retorno, sem execução e obtenção de resultados não tem valia”, declara. E, mostrando que a organização faz parte do novo cenário brasileiro apresentado por Santos no começo, o executivo conta que entre as cinco mil patentes que possuem, muitas são de engenheiros do Brasil e é intenção deles fazer com que eles se mantenham em território nacional. “Com os relatos podemos ver que os problemas brasileiros podem ser oportunidades”, completa Valter Pieracciani, sócio-diretor da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas, moderador do painel. “Inovação muda a cultura. Temos que acreditar nisso e não podemos parar.”