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Desgaste psicológico

Paulo Lofreta

A justificativa para o aumento de meio ponto percentual sobre a taxa Selic – Sistema de Liqüidação e Custódia – foi, novamente, a ameaça de alta inflacionária que prejudicaria o cumprimento da meta de inflação imposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o ano de 2005 – 5,1%. Está mais do que comprovado que o aumento de consumo não é o maior causador de inflação, mas sim a incapacidade do País em aumentar a produção para atender a demanda do crescimento econômico.

Os gargalos na infra-estrutura dificultam cada vez mais o crescimento, causando uma escassez na quantidade de produtos e serviços produzidos e, principalmente, dificultando o escoamento da produção para o mercado interno e externo. Alguns desses gargalos ameaçam parar o País nos próximos anos e necessitamos de investimentos urgentes em setores vitais para a economia, como energia elétrica e transportes.

A construção e modernização de hidrelétricas, portos, aeroportos, ferrovias e rodovias são algumas das prioridades na agenda do Governo Federal que aposta todas as fichas na aprovação da lei que regulará as PPPs (Parcerias-Público-Privadas). O controle rígido dos gastos públicos e a produção de bens e serviços suficientes para atender toda a demanda de consumo são as únicas formas eficientes de controle da inflação.

Os empreendedores devem continuar pressionando os governantes e ao mesmo tempo, manterem-se confiantes e esperançosos de que, em breve, todos esses problemas conjunturais possam ser solucionados. As reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), são muito importantes para o mercado financeiro e para o Governo, que vem mantendo há décadas uma relação de credor e devedor respectivamente. Ou seja, quanto maior a taxa Selic, melhor para as instituições financeiras e pior para o Estado – o maior devedor dessas instituições.

Nós, que trabalhamos e geramos emprego e renda, não podemos deixar que notícias como os resultados das reuniões do Copom interfiram na rotina de nossas empresas, até porque nunca tivemos e dificilmente teremos o privilégio de obter crédito em instituições financeiras com as taxas da Selic. Só para se ter uma idéia, enquanto a Selic desse mês está em 19,25% ao ano, as taxas médias de juros praticadas pelo mercado financeiro estão em mais de 150% para o consumidor e mais de 75% para as empresas.

A economia só não travou totalmente porque os consumidores ainda conseguem comprar à crédito em alguns segmentos de varejos e serviços que trabalham com financiamento próprio. Estes estabelecimentos procuram manter as taxas de financiamento próximas da racionalidade, de maneira que os clientes não fujam das compras e piorem ainda mais a situação da economia interna.

Infelizmente, chegamos a um estágio lamentável onde as empresas, além de produzir bens e serviços, também são obrigadas a substituir as instituições financeiras, utilizando dinheiro próprio para financiar as vendas, sem contar com os tradicionais traumas tributários, trabalhistas e fiscais vividos diariamente pelos empreendedores. Enquanto isso, os verdadeiros responsáveis pelo financiamento da produção no país preferem deixar o dinheiro em lugar seguro, ganhando altas taxas sem muitos riscos, explorando ao máximo o seu principal cliente: o endividado Governo.

Só para se ter uma idéia, o ganho médio das instituições financeiras com empréstimos já gira em torno de 45% com as pessoas físicas e 14% com as empresas. E a lei de falências já foi aprovada, como eles queriam. Se a função dessas instituições é financiar a produção do País, é preciso que se criem mecanismos determinando o cumprimento dessa função. As instituições financeiras recebem uma concessão do Governo para poder operar e devem cumprir as regras do jogo independente de estarem ou não se arriscando.

Afinal de contas, nós, empreendedores, ao montar ou comprar um negócio próprio, passamos a assumir diversos tipos de riscos: geramos empregos, pagamos impostos e tributos abusivos e ainda somos constantemente fiscalizados por diferentes órgãos públicos. Apesar de tudo isso, devemos continuar operando em nossa atividade fim, até porque não temos um ganho e se nossa estrutura não funcionar, estamos sujeitos a perder tudo o que conquistamos na vida.

Paulo Lofreta, presidente da Associação Brasileira de Apoio ao Setor de Serviço (Abrasse).

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