Inclusão econômica com moeda digital

Autor: Mario Mello 
Tão ruinosa quanto a desigualdade social, a exclusão econômica também exige atenção. Basta dizer que 53% da população global não tem acesso ao sistema bancário. Em plena era do comércio eletrônico, cerca de 3,5 bilhões de pessoas ainda adotam o dinheiro vivo nas transações. Sequer tomaram conhecimento da existência do cartão de crédito. E provavelmente nem vão usar um dia o cartão de plástico. Ironicamente, este é um tema que se transformou em formidável oportunidade de negócios. Diante da disseminação dos dispositivos móveis, a digitalização e avanços tecnológicos da comunicação online a vida econômica deste imenso contingente humano está mudando com rapidez. 
Até recentemente restrito a compras locais e, em alguns casos, restrito ao armazém da esquina de sua casa, este consumidor pode agora explorar as possibilidades de comércio muito além de suas fronteiras pessoais. Está nascendo uma sociedade, tenha ela um saldo bancário ou não, que deixou de lidar com dinheiro. Hoje, 160 milhões de operações financeiras na economia global já são feitas através da “carteira de dinheiro digital”. E o índice de penetração da nova modalidade avança a passos largos. Uma pesquisa da rede de televisão CNN aponta que fatores como o fácil acesso a cartões de crédito virtuais, pagamentos móveis e vendas online já permitem a 80% dos norte-americanos e 32% dos indianos realizarem transações comerciais sem utilizar papel moeda. Também no Quênia 27% já adotam sistemas de pagamento sem dinheiro físico. 
No Brasil, pagamentos realizados via smartphones movimentaram, no ano passado, R$ 7,3 bilhões, de acordo com uma pesquisa da Ipos, encomendada pelo PayPal. Este número deverá mais que dobrar até 2016, quando se estima que as transações em dispositivos móveis somarão R$ 15,1 bilhões. Contribuem para esta mudança radical de comportamento as novas gerações, que já nasceram sob a égide da nova ordem digital. Por exemplo, na Inglaterra, 30% dos jovens com menos de 35 anos e metade dos com menos de 35 anos jamais preencheu um cheque. Por aqui, a mesma pesquisa Ipsos indica que 61% dos que pagam via celular têm entre 18 e 34 anos.
O que ainda freia esta radical transformação são questões associadas à segurança nas transações. Mas é uma questão de tempo, pois soluções cada dia mais sofisticadas estão a caminho. Tradicionalmente, os bancos, em busca de maior lucratividade, restringiam sua atuação às faixas mais ricas da população. Mas já estão se adaptando a este novo cenário.  Por isso mesmo, empreendedores criativos vêm eliminando as barreiras de entrada dos menos favorecidos no mercado financeiro. O aparelho celular desempenha um papel fundamental e é hoje a principal ferramenta de ruptura das restrições bancárias existentes. No Brasil, os aparelhos móveis ativos já superam o número de habitantes. Outra boa notícia: em 2015 a América Latina terá 140 milhões de usuários do banco online. 
A moeda digital acena para um futuro promissor. A tecnologia móvel dá a novos segmentos da população acesso ao comércio. Cria-se assim um círculo virtuoso, capaz de alimentar o crescimento dos países e suas economias na direção de um mundo mais justo. 
Mario Mello é diretor geral do PayPal para a América Latina.

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