Laço afetivo estimula práticas sustentáveis

A adesão a práticas sustentáveis é maior quando há uma coesão no grupo como na família e na escola. Segundo conclui um estudo realizado pelo Instituto Akatu. Chamado de “Caminhos para Estilos Sustentáveis de Vida”, a pesquisa foi norteada por perguntas, como: o que acelera a mudança de comportamento das pessoas?; o que a dificulta?.  “Verificamos pela análise das práticas que cada pessoa não se encaixa necessariamente em um único perfil. Dependendo do tema ela pode assumir comportamentos que se encaixam em perfis diferentes”, afirma Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu. Ou seja, a mesma pessoa pode ter comportamentos mais engajados, por exemplo, no trato da água e não ter o mesmo cuidado no que se refere ao desperdício de alimentos. 
“Além disso, a permeabilidade à adoção de práticas sustentáveis não parece estar relacionada a ser mais jovem ou mais velho, rico ou pobre, homem ou mulher. Mas sim à crença em uma visão de mundo que se traduz em práticas sustentáveis no cotidiano. São os valores adotados e compartilhados por essas pessoas que provocam a mudança. Outra conclusão a que chegamos pelo levantamento é que o maior engajamento em práticas sustentáveis acontece onde existe coesão entre o grupo, como ocorre nos núcleos afetivos da família, na escola e entre amigos. Especialmente se há figuras inspiradoras daqueles comportamentos e dos valores que a eles correspondem”, analisa o executivo. Assim, o levantamento desvendou gatilhos e barreiras para a mudança de comportamento do consumidor na direção da adoção de práticas sustentáveis. 
Para isso, foram investigadas as práticas cotidianas de consumidores na compra, uso e descarte de produtos em quatro temas: alimentação, roupas, higiene e cuidados pessoais e limpeza da casa. Adicionalmente, hábitos relacionados ao uso de água e energia e à destinação de resíduos foram mapeados transversalmente. Foi identificada a existência de um espectro de práticas sustentáveis, dentro do qual o perfil das pessoas oscila entre: “Desligados”, aqueles que não adotam nenhuma prática; e “Engajados”, que as adotam em diferentes graus. As descobertas foram feitas a partir da análise dos discursos e dos perfis envolvidos.
 
“Separar o lixo” foi identificada como sendo frequentemente a primeira prática sustentável das pessoas. O que indica que há disposição de ampliar as atitudes sustentáveis, havendo maior facilidade para introduzir outras práticas. Esse indicador pode ser usado para identificar grupos de consumidores com maior potencial para as mudanças de comportamento. Foi detectado ainda que especialmente as pessoas de perfil mais desligado acabam mudando de comportamento, para não destoar do grupo (por norma social ou lei) ou por incentivo financeiro. A dificuldade de mudar hábitos consolidados há muito tempo também apareceu nos discursos, analisados, apenas corroborando uma percepção já reconhecida sobre alteração de comportamentos.
 
Um novo jeito de viver
Segundo Mattar, a missão do Instituto Akatu é mobilizar a maior quantidade de atores possível – empresas, governos e sociedade civil – para a transformação de padrões de produção e consumo. “Partindo do princípio de que a oferta e o consumo de produtos e serviços podem ser viabilizadores de práticas sustentáveis, esta pesquisa cumpre a missão do Akatu ao fornecer insumos para que as empresas possam aprimorar suas estratégias de comunicação e também sugere caminhos para o desenvolvimento contínuo de produtos e serviços que contribuam com estilos de vida mais saudáveis e com a sustentabilidade da vida no planeta”, conclui.
 
Barreiras
Através do discurso dos entrevistados, foi possível analisar aquilo que dificulta a mudança do comportamento. Entre as barreiras citadas, estão: percepção de desconforto que as escolhas e práticas sustentáveis geram, na medida em que as pessoas tendem a permanecer na sua “zona de conforto” e nas suas práticas habituais, evitando um eventual desconforto causado pela mudança; obstáculos físicos encontrados em função de idade, saúde ou condição física, tornam mais difícil a adoção de práticas sustentáveis; obstáculos para a adaptação do espaço em ambientes da casa e, em alguns casos, a falta de espaço pode tornar mais difícil a adoção de práticas sustentáveis; a crença de que o que é mais sustentável é mais caro – o que não é necessariamente verdade – atrapalha a mudança.
 
Gatilhos
Agora, os gatilhos, que são práticas que facilitam a mudança, foram: a mudança é percebida como uma possibilidade de evolução, especialmente se for expressa como uma exemplaridade positiva; práticas sustentáveis podem ser simples de adotar e tornar a vida mais fácil, podendo ser até mais divertida; a economia financeira é uma importante moeda de troca e, por si só, um poderoso gatilho; produtos e serviços associados a práticas sustentáveis serão mais atraentes se deixarem claros a praticidade e o conforto na sua utilização; muitas pessoas querem contribuir para um mundo melhor, mas não sabem como, assim, o engajamento individual e a percepção de que a mudança coletiva tem início na contribuição de cada um são oportunidades observadas na adoção de práticas sustentáveis.

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