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O porquê de não comprar


(*)José Jacques de Oliveira Júnior

É difícil precisar há quanto tempo a posse é sinônimo de poder na sociedade. Se, já há alguns séculos, comandava o senhor que possuía maiores porções de terra e mão-de-obra escrava, hoje em dia, esse poderio está mais relacionado ao volume de bens, móveis ou imóveis, que uma pessoa consegue apropriar. No segmento corporativo, essa visão também existe e pode ser percebida no anseio das grandes empresas em aumentar seus parques de informática, o número de computadores, servidores, impressoras etc. Porém, como se sabe, a posse de terra, na Idade Média, não conseguiu evitar que as invasões bárbaras tomassem terrenos de senhores feudais; da mesma forma, no mundo atual, a riqueza e ostentação encontram limites no medo e na insegurança; e, no mundo corporativo, a posse de bens tecnológicos de última geração não impede que, dia a dia, as empresas percebam que não sabem transformar seus recursos em resultados – e amarguem experiências negativas.

Em todos os casos, o que pode ser observado é que a posse gera no ser humano a percepção de que ele poderá ter controle sobre aquilo que detém. Nada mais ilusório. Mesmo porque não é a posse o fim último daquele que adquire o produto, mas a plena utilização do que foi adquirido e o acesso ao que o produto é capaz de fazer. Em um exemplo prático, quem compra uma geladeira não está interessado em ostentar uma grande caixa metálica, mas em ter seus alimentos refrigerados e conservados por mais tempo. Da mesma forma, quando o empresário adquire uma impressora, ele quer ter acesso à produção de documentos -o que não é garantido pela simples compra do objeto.

No momento em que uma empresa adquire ativos de tecnologia de última geração, está também assumindo toda a responsabilidade pelo uso, conservação e funcionamento dos mesmos e pelos eventuais incidentes acarretados por sua utilização. Nem sempre, contudo, essas corporações estão preparadas para tratar estes incidentes. Isso porque os benefícios que um produto apresenta se esgotam nele mesmo, enquanto os problemas advindos do seu uso requerem ajuda especializada. Ou seja, a operação de transferência de propriedade padrão do mercado é alicerçada somente nas vantagens e, muitas das vezes, ignora os riscos.

Nesse cenário, existe o comprometimento dos gestores de TI em tarefas que originalmente não são o seu foco principal. O resultado são horas de trabalho comprometidas com pequenas mazelas e não com a otimização dos recursos e aproveitamento do acesso ao que eles podem oferecer.

Não à toa, percebemos hoje uma grande abertura do mercado para a terceirização de parques tecnológicos inteiros. A tendência, que pode ser facilmente constatada, é de deixar de investir em ativos de tecnologia, preferindo pagar pelo uso da tecnologia. Assim, existe uma mudança no foco tradicional das empresas, que é a criação de produtos e a transferência da sua propriedade para os clientes -entendendo assim que estão criando valor para eles. O modelo proposto pelo outsourcing é a criação de valor a partir do acesso a experiências baseadas nas melhores práticas atualmente vigentes no mercado, injetando no produto o chamado “valor agregado”.
A simples posse não garante esse valor, traduzido pelas vantagens somadas ao produto-padrão. Mesmo porque não é necessariamente o ativo tecnológico mais moderno ou o mais caro que irá trazer o melhor resultado. É preciso que a realidade da empresa seja entendida e que, a partir daí, as melhores soluções sejam criadas, envolvendo, só então, a definição dos produtos e serviços a serem empregados. Não adianta atuar de uma forma massificada, ignorando especificidades e demandas especiais, que, como se sabe, têm de ser tratadas com individualidade.

Isso só é viável por meio de uma troca de experiências entre a empresa e a responsável pela terceirização da tecnologia, a fim de que seja possível a esta última captar precisamente qual o melhor meio de atender ao cliente – que, claro, não deseja correr riscos de adquirir a posse de algo que não trará os resultados esperados. Esse vínculo, que funciona como uma espécie de voto de confiança profissional, é o que pode ser decisivo no êxito ou fracasso das empresas, que se esforçam cotidianamente pela sobrevivência e pelo sucesso no mercado competitivo da atualidade.

*José Jacques de Oliveira Júnior – Administrador de empresas, com habilitação em comércio exterior, e pós-graduado (MBA) em gestão estratégica, com área de concentração em gestão de negócios, gerente comercial da Microcity

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