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O preço por abrir mercado

Como tudo que surge de novo, é necessária certa adaptação por parte das pessoas, do mercado e do sistema como um todo. O mesmo acontece com as empresas de economia compartilhada. Muito se fala sobre seu processo disruptivo, vantagens e o poder de conquistar novos clientes. Ao mesmo tempo, há aqueles que se mostram avessos e temerosos ao seu surgimento. Como foi o caso do Uber e do Aibnb no Brasil e em outros países. “O recurso está posto e seria um grande retrocesso impedir a melhor utilização dele. O problema é que quando isso acontece incomoda o status quo”, explica Flávio Borges, superintendente financeiro do SPC Brasil, que acredita ser o preço a se pagar por ser pioneiro. Porém nada impede que medidas regulatórias sejam estabelecidas. Em entrevista exclusiva à ClienteSA, ele comenta mais sobre esse processo de aceitação e os benéficos dessa economia.
ClienteSA: Qual é esse cenário que propicia o surgimento e o avanço da economia compartilhada?
Borges: As empresas que exploram o segmento de economia compartilhada têm um modelo de negócio essencialmente focado em plataformas de tecnologia. O cenário de desenvolvimento tecnológico, de melhoria da usabilidade dos smartphones, popularização do acesso à internet, tudo isso possibilita o avanço desses negócios. Outra premissa que precisa estar de pé para o desenvolvimento desses negócios é a regulatória. Veja que o Uber ainda está enfrentando uma série de obstáculos, aqui em São Paulo já funciona e também em outras partes do Brasil e do mundo. Mas em outras partes não funciona, o sistema foi proibido ou está sofrendo ainda questionamentos legais e judiciais. Na maioria das vezes, são inovações que a lei não previa e a legislação tende a caminhar atrás da prática social. Então, quem trabalha com plataformas de economia compartilhada tem que lidar com esse tipo de situação. 
Em sua opinião, é certa essa procura pela regulação desses serviços? 
Na medida em que há uma relação e consumo, não importa se estou me hospedando em algum hotel ou na casa de alguém, ela está acontecendo. E está havendo uma relação de renda também, alguém está auferindo algum ganho e esse tem que ser tributado. É uma convenção estabelecida no mundo inteiro. Não adianta inventar uma solução em que ela não seja tributada, com isso o Estado não para em pé. Por outro lado, não acredito que haja mais volta, porque os recursos estão aí postos. O sujeito em um quarto e se ele quiser alugá-lo, ele pode, ou tem um carro e quer levar outras pessoas. O recurso está posto e seria um grande retrocesso impedir a melhor utilização dele. O problema é que quando isso acontece incomoda o status quo. Incomoda o Estado, porque ele para de arrecadar, as corporações, porque elas têm uma condição posta, um direito adquirido pagando taxas e impostos. Toda mudança e inovação implica uma questão disruptiva e vai incomodar alguém. Isso aconteceu no passado e vai continuar acontecendo no futuro. Esse é o custo de ser pioneiro. 
 
Qual o perfil do cliente que hoje se interessa e deseja investir nesse se tipo de economia?
Eu diria que todo serviço que é lançado, especialmente esses que são mais tecnológicos, têm aquele sujeito que adota primeiro. É aquele que explora e lê as matérias sobre os serviços, começa a usar e contar para outras pessoas. É óbvio que é um perfil mais jovem, mais ligado a essas questões. Agora, por exemplo, se o sujeito é usuário de táxi, não importa que idade tenha, e descobre que tem alguém oferecendo o mesmo serviço pela metade do preço, ele vai fazer um esforço para adotar essa tecnologia. Se vai viajar e descobre que tem uma hospedagem, até melhor do que a do hotel, pagando metade do preço, provavelmente vai buscar ter acesso a ela. Então, quando a oferta é boa demais, o cliente dá um jeito de levar essa vantagem para si. Por mais que um cliente mais idoso tenha dificuldade de acessar smartphones, ele vai se beneficiar, porque o próprio táxi tende a ficar mais barato e a atender melhor. Ou seja, essas inovações acabam imprimindo mudanças no mercado que beneficiam todos os consumidores, não importa qual perfil tenham. 
Ao criar uma empresa baseada em economia compartilhada, o que mais é importante em levar em consideração?
A coisa, quando é boa, viraliza. Claro que, à medida que a concorrência cresce, o empresário tem que investir em mídias sociais e em outros meios de chegar com a oferta até o consumidor. Dificilmente um negócio desses irá crescer sem capital, apenas por indicação ou por viralização. Mas o que conquista é a facilidade e os novos valores gerados. Tanto que hoje em dia se fala em “uberização” dos pagamentos, porque o Uber virou referência de pagamento. Se surge a inovação e é sinônimo de um jeito novo de fazer negócio, ele chama atenção e atrai pra si consumidores. Algum valor tem que ser gerado para que seja criado algo disruptivo nessa inovação e isso tem que ser comunicado adequadamente. 
 
Como fidelizar o público com esse serviço? 
Quando há um pioneiro, ele abre mercado e conquista pessoas. Agora, se não continuar inovando ou competindo em preço, outros concorrentes irão surgir e é aí que mora o desafio da fidelização. Por exemplo, os aplicativos de táxi no Brasil: os primeiros surgiram, atraíram pra si uma gama de usuários. Só que agora têm um desafio, porque outros sugiram, inovações continuam acontecendo e para esse provedor fidelizar os clientes tem que continuar gerando valor e sendo melhor do que os outros. Por mais as fábricas de automóveis invistam na qualidade de seus serviços, na sua rede de distribuição, manutenção, no tratamento ao cliente, se surge um aplicativo que faz com que as pessoas deixem de comprar carros, não é só ela que tá perdendo, mas o mercado inteiro. Isso que é fascinante a respeito de economia compartilhada, porque gera uma dinâmica que é imprevisível e impõe uma dificuldade enorme para as empresas. Pois é preciso lidar não só com os concorrentes, mas também com novas inovações, substitutos, fazendo a coisa ficar interessante.

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