O canal para quem respira cliente.

Pesquisar
Close this search box.

Os desafios do setor de serviços


Carlos Dariani

Pesquisa realizada pela empresa de consultoria Mackenzie por encomenda da Abrasse (Ação Brasileira de Apoio ao Setor de Serviços) apontou que entre o ano de 1998 e 2002, o setor de serviços, notoriamente no segmento da área de informática, cresceu 102,6%. Com relação ao número de empresas, o maior crescimento aconteceu no segmento de serviços prestados, onde foram criadas, no período, 95.765 novas instituições. A menor evolução ocorreu com empresas da área de telecomunicações, apenas 160.

O paradoxo é que embora estejamos vivendo na era da informação, somos inegavelmente frutos de uma sociedade industrial e pensamos em termos de produto. Hoje, no geral – e em particular na indústria brasileira -, os produtos resultam de um processo tecnológico e de produção dominados, de custos extremamente controlados e de qualidade auferida.

É com relação a essa qualidade que freqüentemente são comparados os serviços. Se o nível de produção industrial varia, a notícia vai para a primeira página dos jornais, o assunto se torna recorrente, todos têm uma impressão a respeito. Embora o setor de serviços seja responsável por mais de 50% do PIB, contra 33% da indústria, e responda por mais de 55% dos empregos, enquanto a indústria responde por menos que 30% (dados do IBGE), só ficamos aliviados quando a indústria contrata.

Sobre determinado produto industrial, seja ele um bem de consumo durável ou semidurável, ninguém sabe se a linha de produção parou, se a logística falhou e se ele chegou atrasado no comércio. Ninguém fica sabendo que a tinta usada em todo um lote de produção tinha um defeito qualquer e que, por isso, o produto não passou pelo controle de qualidade e teve de ser refeito. Poucos sentem o efeito de uma greve. Nós simplesmente chegamos a uma loja e lá está o produto, pronto, perfeito, com opções de preços, cores, tamanhos, potência ou beleza.

Já no setor de serviços, o “produto” ou a prestação de serviços é exposta em toda sua cadeia de eventos, e todos acompanham a maior parte de sua produção. É aí, na verdade, que reside o maior desafio do setor. Todo o processo é tão transparente e envolve tantos “atores” que é muito fácil perder o controle de qualidade. Além disso, outros fatores externos, sobre os quais não há nenhum controle, afetam diretamente a prestação de serviços. Ao contrário da indústria, onde o cliente não vê e não sente, no setor de serviços o cliente vê, sente e opina.

Por exemplo, se na indústria a linha telefônica ou a conexão da Internet for interrompida, isso não afeta sua percepção do produto industrial. Mas, se isso acontecer no setor de serviços, afeta diretamente o cliente que precisa ou quer falar com você.

Outro caso que ilustra bem o setor de serviços diz respeito aos escritórios de advocacia, local onde o serviço já começa a ser prestado no atendimento telefônico. Deve-se levar em conta o tempo que se espera para localizar o advogado, a música de espera, a prontidão da telefonista e até mesmo ser ou não reconhecido.

Conta ainda o tempo que o escritório demora para informar a última movimentação do processo. Em uma reunião com os advogados, até a apresentação das pastas faz a diferença, sem contar o conhecimento do processo. A emissão correta das faturas, no valor, prazo e forma acertados, a confirmação de que o fax foi recebido e o português usado nas correspondências são outros fatores preponderantes, logicamente sem esquecer do mais importante, que é ganhar a causa em questão.

Nesse caso, o desafio é buscar a qualidade neste número sem fim de interfaces, com os mais diferentes agentes. Isso exige uma padronização de ações, que ao mesmo tempo não podem reduzir a prestação do serviço a uma relação robótica. Da mesma forma, não pode ser tão mínima a ponto de o cliente ter a sensação de que está diante de um improviso.

Os vários atores devem ser treinados, mas não podem ser autômatos. Tem que ter capacidade e sensibilidade de identificarem situações adversas. Esse é o segredo e ao mesmo tempo o desafio que está colocado para o setor de serviços, independentemente de ser ou não um escritório de advocacia.

Carlos Dariani é diretor administrativo-financeiro do Mesquita Barros Advogados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima