No primeiro semestre deste ano, a família brasileira teve uma queda de 7,5% no consumo e um aumento de 8,5% no preço médio dos principais produtos, em comparação ao mesmo período no ano passado. Segundo aponta o estudo da Kantar Worldpanel. Por conta disso, nos últimos semestres, para driblar o aumento dos preços e equilibrar as despesas, os consumidores diminuíram as idas aos pontos de vendas e a cada visita aumentaram o número de itens adquiridos, voltando a velhos hábitos de consumo, as compras de abastecimento.
Agora, entretanto, com a atual situação econômica, essa tendência apresenta uma mudança negativa: no primeiro semestre deste ano os consumidores fizeram duas visitas a menos ao PDV. Além disso, reduziram o volume comprado a cada visita, coisa que ocorre pela primeira vez em seis anos. “Vemos claramente que as famílias brasileiras não conseguem mais manter seus padrões de compra. Além de seguir reduzindo a frequência de compra, tendência já detectada nos períodos anteriores. Agora o volume em cada compra também cai em 3% e, mesmo assim, o valor médio em cada compra subiu 5,4%, forçando uma racionalização intensa nas decisões de compra”, diz Christine Pereira, diretora comercial da Kantar Worldpanel.
Todas as classes sociais foram impactadas, porém a classe C foi a que mais contribuiu com a queda no período, registrando perda de 9% em volume e redução de duas idas ao ponto de venda. O número de itens levados em cada ocasião de compra também caiu (5%). Já as regiões Norte e Nordeste foram as que mais contribuíram para o resultado negativo no período, sendo responsáveis por 27% da queda do semestre. Os consumidores locais diminuíram três vezes suas idas ao ponto de venda e registraram uma diminuição de 7% em volume médio por ocasião de compra. A Grande São Paulo foi outra região que também registrou uma perda de frequência. Os paulistas foram seis vezes menos aos pontos de venda e reduziram o volume de compra em 8%.
CESTAS E CANAIS
A cesta de bebidas foi a mais impactada, retraindo 11% em volume e caindo 5% em valor. Entre as razões que explicam a queda estão o consumo intenso no verão e no período pré-Copa do Mundo de 2014 que não foi sustentado neste ano e a perda do espaço das categorias maduras, de alto volume, na cesta. Já as categorias de alimentos sofreram uma diminuição de 5% no volume consumido e aumento de 1% no valor, enquanto a cesta de limpeza teve diminuição de 3% no volume e aumento de 2% no valor.
Até os produtos de higiene e beleza, que vinham resistindo, também registram queda no consumo: 5%, ainda que o valor gasto tenha aumentado em 3% e o tícket médio tenha crescido 7%. O estudo aponta, no entanto, que há categorias de valor agregado e alto preço que registraram aumento na procura pelos consumidores. Entre eles estão o molho para salada, na primeira posição, seguido pela batata congelada, linguiça e azeite. Na classe DE há registro de um interesse maior em produtos como chá e lanche prontos.
“É interessante notar que algumas categorias de produtos que apresentam alto valor agregado e que poderiam, portanto, ser consideradas supérfluas apresentam crescimento de duplo dígito, como batata congelada ou molho para salada. Isso se explica por duas razões: a necessidade de conveniência e praticidade, dado um estilo de vida que proporciona menos tempo para atividades domésticas, e a volta ao lar. Com a crise, é menor o número de famílias que se dispõe a comer fora, por exemplo, trazendo as ocasiões e refeições especiais para dentro de casa”, analisa Pereira.
Já as categorias mais deixadas de lado foram, nesta ordem, bebida à base de soja, leite pasteurizado, produtos de barbear, leite fermentado e lanche pronto – exceto na classe DE. Além disso, o único canal de vendas a demonstrar crescimento no primeiro semestre, em comparação ao mesmo período do ano passado, foi o atacarejo que cresceu 18%.