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Toda análise tem suas variantes



Autor: Rafael Scucuglia

 

Sei que o termo “estatística” assusta muita gente. Algumas pessoas a entendem como sinônimo de número, gráfico ou tabela. O meu objetivo aqui é explorar um pouco o que considero a causa principal desta aversão popular à tal ciência. O desconhecimento primário do conceito de “variabilidade”.

 

Porém, devido à imagem atual da estatística, as pessoas dentro das empresas, responsáveis (ou não) pela tomada de decisões, muitas vezes não compreendem os resultados das análises realizadas, ou os interpretam de maneira equivocada.

 

Para minimizar este impacto, não se faz necessário que todas as pessoas conheçam e apliquem técnicas estatísticas avançadas em seu cotidiano. Esta é a função do analista tecnicamente formado para tal. Os usuários destas informações, porém, precisam ser competentes para analisar corretamente os outputs gerados pelos estatísticos, transformando informações em decisões. É exatamente neste ponto que considero o desconhecimento dos conceitos básicos de “variabilidade” como a principal lacuna que interfere negativamente na qualidade das ações provenientes.

 

Vamos a alguns exemplos do que quero dizer: pegue um objeto no supermercado (alguma embalagem como xampu, enlatados, qualquer um). Com a ajuda de um instrumento de medição preciso (micrômetro, por exemplo), meça a largura de cada embalagem. Por mais que, a olho nu, elas pareçam idênticas, você verificará que existem pequenas variações de medidas. Faça medições similares, utilizando uma balança, nos pesos de sacos de café de um supermercado. Repare como existem variações nos pesos de cada embalagem. Exemplos como estes se repetem para qualquer fenômeno. A variabilidade faz parte da nossa realidade, e deve sempre ser considerada para qualquer tipo de análise.

 

É comum nos depararmos com situações em que decisões são tomadas sem que a variabilidade seja considerada. Gerentes premiam o profissional por conseguir certo índice de produtividade superior aos colegas de mesmo cargo, sem considerar que esta superioridade pode ser contingencial, motivada por uma coincidência provocada pela variabilidade natural de ambos os indicadores.

 

Diretores definem planos de ações e mobilizam recursos para resolver problemas de faturamento abaixo da média, sem compreender que a receita da empresa varia naturalmente mês a mês, e manterá este padrão normal de variação sem que ações corretivas sejam tomadas.

 

Vamos medir se tenho razão? Então farei três perguntas básicas, tente respondê-las: o que é desvio-padrão? O desvio-padrão é informado em 100% dos indicadores de sua empresa, de forma padronizada? Seu filho chega em casa e lhe diz: “joguei futebol quatro dias desta semana, na escola. Em média, fiz 4 gols por jogo”. O seu cérebro processa esta informação naturalmente, ou você sente falta de algo assim: “…Em média, fiz 4 gols por jogo, com desvio-padrão de 1,5 gols”.

 

Se você teve dificuldades para responder a pergunta 01, respondeu “não” à pergunta 02 ou compreende a informação do seu filho com naturalidade, então sua compreensão acerca da importância do conceito de variabilidade ainda não foi sedimentada o suficiente.

 

Desvio-padrão é a maneira mais usual de medir-se variabilidade. Trata-se da raiz quadrada da soma do quadrado das diferenças entre cada evento e sua média aritmética, dividida pela quantidade de eventos.

 

O desvio-padrão nos dá a visão objetiva da maneira pela qual os valores de determinado evento estão distribuídos ao redor da média. Imaginem duas empresas: A e B. Na empresa A o faturamento médio é de R$10.000,00, com desvio-padrão de R$1.000,00. Enquanto que a empresa B o faturamento médio é de R$10.000,00, com desvio-padrão de R$5.000,00.

 

Embora ambas as empresas pareçam iguais em termos de volume de negócios, afinal ambas faturam o mesmo valor médio, o desvio-padrão nos permite ter uma idéia do padrão de variação dos meses que compuseram esta média. A empresa A tem um padrão de variação muito menor, os faturamentos quase se repetem. Já a empresa B pode ser classificada como de maior risco financeiro, pois atua com uma variação de caixa muito maior, podendo chegar a meses com faturamentos quase nulos, pois possui alto índice de variabilidade.

 

Percebam como é importante que todo e qualquer indicador da sua empresa venha acompanhado da informação dos desvios-padrões. Só assim o gestor pode interpretar o dado em sua totalidade, permeando uma noção clara da distribuição do resultado ao longo do tempo.

 

Aqui cabe um parênteses para que eu aborde uma regra básica para interpretar desvio-padrão. É uma “regrinha de bolso”, sem a precisão exata, mas muito eficaz. Sempre multiplique o desvio-padrão por 2 e some/subtraia à média. Dará uma ideia aproximada de qual é o valor máximo e mínimo alcançado pela distribuição. Por exemplo: a empresa A possui um faturamento máximo de R$12.000,00 e um mínimo de R$8.000,00. Já saímos daquele número estático de “média”, conhecendo uma faixa de atuação natural do indicador. Quando o gestor se acostuma com esta abordagem, e a utiliza rotineiramente, a informação de desvio-padrão se torna necessária para interpretar o fenômeno.

 

Para um estatístico, o raciocínio baseado em variabilidade é natural. Para os demais, é necessário que também o seja. Trata-se de uma mudança de paradigma extremamente útil, que significa melhores decisões, maior eficiência e, em última análise, melhoria na eficiência das empresas de nosso país.

 

Rafael Scucuglia é diretor de operações da Gauss Consulting. ([email protected])

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