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Como anda o crédito no Brasil

Autor: Eduardo Tambellini
Passados sete meses do governo do presidente Bolsonaro, num cenário de apoios e críticas, com medidas como a aprovação da reforma da previdência e a abertura de mercado com a União Europeia, como o mercado de crédito vem se comportando após a expectativa de mudanças semeadas até então?
A carteira de crédito de pessoa física cresceu 216,7% em 10 anos, e a de pessoa jurídica após atingir um crescimento de 142,9% em fevereiro de 2016, foi a que mais sentiu a crise e atingiu em junho de 2019 um crescimento de 100%.
Em um cenário de crise econômica, política e principalmente de confiança, o mercado de crédito é naturalmente afetado. A carteira de pessoa física manteve o crescimento e o empréstimo consignado a operação que mais contribuiu para a boa performance – sendo hoje seu principal produto. O financiamento de veículos, por exemplo, sentiu a crise de forma mais intensa principalmente depois da paralisação dos incentivos do IPI.
A carteira de PJ, podemos perceber ainda de forma mais clara a mudança de produtos de crédito, direcionando esforços para aqueles com garantias atreladas. Os bancos reduziram a oferta de capital de giro e buscaram produtos de menor risco, como por exemplo a antecipação de faturas de cartões de crédito.
TAXA DE JUROS
Na última reunião do COPOM a taxa de juros (SELIC) chegou a 6,0% a.a, menor índice histórico. A influência desta redução ainda é pouco percebida no mercado de crédito.
Enquanto os juros médios de todos os produtos de crédito PF ficam em 53,2% a.a (reduzido pelos produtos de maior garantia) temos os dois campeões nacionais: os juros do rotativo do cartão de crédito que após atingirem em Dez/16 quase o pico de 500,0% a.a perderam força e foram superados pelo temido cheque especial que hoje bate os 322,2% a.a.
A questão dos juros do rotativo merece um capítulo à parte, pois sua queda começou a partir de abril de 2017 quando o governo adotou medidas para reduzir o custo do crédito, obrigando às instituições financeiras que o rotativo pudesse ser realizado apenas por um ciclo de 30 dias, sendo após este período elas deveriam oferecer obrigatoriamente a flexibilidade do parcelamento.
O resultado da medida foi exatamente uma troca de produtos. Mas e a taxa de juros? Como as instituições reagiram após a medida do governo? A partir da medida em que os juros do rotativo caíram 39,7% no período, os juros do parcelado subiram 14,1%.
Missão cumprida? O governo ajudou o cidadão que agora paga menos juros? Na verdade não é bem assim. Antes um usuário de cartão de crédito que era acostumado a usar o rotativo do cartão, ficava meses, às vezes anos pagando o mínimo, hora atrasando hora pagando, até que em algum momento uma parte conseguia liquidar a dívida, outra parte tornava inadimplente.
Com a nova medida, e visando não perder as receitas das taxas de juros cobradas no rotativo, muitas instituições implementam após o primeiro rotativo um parcelado longo, em média de 8 a 12 meses e uma taxa de juros em torno de 14,99% a.m. O efeito é em sua grande maioria um aumento no ticket médio a ser pago, fazendo com que clientes que antes ficavam meses para se tornar inadimplentes, entrassem em pelo menos dois meses já em situação de default (inadimplência). Mas e a inadimplência? Afinal, estamos vivendo o pior momento da história? O que os números mostram?
A INADIMPLÊNCIA
Aqui temos uma avaliação interessante olhando os números divulgados mensalmente no BACEN. Os indicadores abaixo indicam a inadimplência em baixa e atingindo melhores números históricos.

Vejam que em todas as curvas/produtos percebemos indicadores em queda. Mas afinal, temos ainda quase 13 milhões de desempregados e os bureaus de crédito falam em 63,2 milhões de negativados.
É importante entender que o indicador OVER 90 do BACEN, demostra a carteira de inadimplentes com atrasos maiores que 90 dias. Porém, o indicador considera clientes em atraso até 360 dias.
Um cliente negativado fica com o seu CPF registrado até cinco anos a depender da dívida, e alguns indicadores dizem que nos dias atuais um consumidor negativado fica em média 1,4 ano negativado, ou seja, “saindo” do indicador do BACEN. Junte-se a isso o fato de que os bureaus agrupam todos os débitos do cliente (de operadoras de telefonia, utilities, varejo etc), sendo estes dados não disponíveis no BACEN. Sendo assim o cenário de inadimplência é preocupante e mesmo tendo o país já registrado uma queda no volume de desemprego no último mês, a situação ainda é de alerta.
O QUE 2019 AINDA RESERVA PRO MERCADO DE CRÉDITO
Mas o que ainda podemos esperar de 2019? O grande assunto em evolução a partir do segundo semestre é sem dúvida o início da formação do bureau positivo. Com a não obrigatoriedade do opt in (o qual o consumidor deveria autorizar a divulgação de seus dados), o cadastro positivo deve ganhar corpo rapidamente. Ainda vai levar um tempo para que o mercado colha os frutos das informações positivas e direcione seus processos de crédito a diferenciar os bons e os maus clientes a partir do comportamento positivo e não mais apenas do negativo.
Sem dúvida é um ano de muitas oportunidades para o mercado de crédito, mas existem diversos desafios para os gestores de risco. Especialistas falam em triplicar a relação Crédito X PIB que hoje ainda opera em 48% contra índices superiores a 100% em mercados de países mais desenvolvidos.
Eduardo Tambellini é consultor de negócios da Fico.

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