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O caminho é profissionalizar, ou…



Um mercado emergente como o brasileiro gera muitas oportunidades em setores que pouco tempo atrás nem existiam ou eram geridos de forma artesanal.

O crescimento do crédito no Brasil elevou, nos últimos cinco anos, o estoque de financiamentos concedidos pelo Sistema Financeiro Nacional de R$ 364,5 bilhões, em julho de 2002, para R$ 1085,7 bilhões, no mesmo período de 2008 . Sem contar o crédito mercantil que, em 2006, era de R$ 297 bilhões, ou 14,3% do PIB nacional, de acordo com o Serasa.

Trata-se de crescimento poderoso, que ainda tem margens enormes para aumentar quando comparamos a relação crédito/PIB com os demais países. Esse fenômeno foi acompanhado pelo aumento em valor absoluto do estoque de crédito em atraso, gerando matéria prima para a indústria de cobrança. Mais de R$ 84 bilhões estavam vencidos entre 60 e 360 dias no sistema financeiro nacional, conforme dados do Banco Central do Brasil, ao final de julho de 2008 .A esse volume de crédito inadimplido deve ser somado o estoque de créditos que as instituições financeiras baixam e contabilizam em conta de compensações vencidas há mais de 360 dias e ainda o PDD (provisões para devedores duvidosos) do crédito mercantil.

Abriu-se um inegável celeiro de oportunidades para o segmento de cobrança brasileiro. Ainda mais se considerarmos que os bancos e os titulares desses créditos vencidos não podem ou não querem internalizar os investimentos necessários para tratar das milhões de contas que precisam ser reabilitadas ou simplesmente cobradas.

Nesse contexto, os callcenters, especializados no tratamento dos créditos vencidos mais recentes, não ajuizados, investiram para atender as exigências de seus clientes, abocanhando fatias importantes desse mercado. Na maioria das vezes, operando com modelos de negócios que prevêem fees fixos por PA disponibilizado.

Existe uma segunda camada dessa pirâmide – as empresas de cobrança tradicionais – que trabalham créditos com mais tempo de vencimento dentro do modelo de success fees, cobrados com base no percentual da recuperação conseguida. Geralmente são firmas de pequeno a médio porte, com gestão tradicional, constituídas por meio dos recursos dos empreendedores ou sócios, cuja infra-estrutura e faturamento até quintuplicou nos últimos cinco anos. Porém, carecem de uma gestão corporativa adequada, que inclua profissionais de administração, planejamento estratégico, orçamento empresarial e instrumentos básicos de governança corporativa.

Essa falta de profissionalização não favorece a sustentabilidade do negócio e capacidade de investimento a médio prazo. Até agora, os resultados e a sobrevivência foram garantidos pelas condições favoráveis de mercado. Mas, a concentração do sistema bancário e o processo de venda de carteiras a investidores especializados são alguns fatores que têm impactado as empresas menos preparadas.

Para as tradicionais surge a obrigação de olhar para iniciativas que mitiguem os riscos implícitos no próprio modelo de negócio. Algumas já estão se mobilizando, por meio de parcerias com investidores em carteiras de créditos inadimplidos, como instrumento para diversificar e estabilizar seu fluxo de caixa. Outras se especializam e focam os próprios investimentos em nichos de mercado. Seja qual for a direção adotada, a profissionalização do negócio é condição sine qua non, pois resultados sustentáveis dependem de uma administração excelente. Já a possibilidade de firmar parcerias com investidores, além dos bons resultados, está diretamente ligada à existência de uma estrutura corporativa e de governança alinhadas aos padrões do mercado internacional. Quem entender esse novo contexto e investir rapidamente poderá aproveitar as oportunidades para crescer organicamente e se consolidar.

Salvatore Milanese é sócio da KPMG Corporate Finance Ltda na área de reestruturação de empresa e transações envolvendo créditos inadimplidos.
E-mail: [email protected]

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