O Twitter está morrendo?

Matthias Töpfer/flickr

Estamos tentando descobrir o momento em que o Twitter virou o fio, recuperando tweets para ver se houve alguma coisa específica que azedou a plataforma .

Alguma coisa está errada com o Twitter. E as pessoas estão percebendo.

Ou, pelo menos, o tipo de pessoa que usa mais o Twitter está percebendo. E talvez não seja um grupo demograficamente muito importante, esse tipo de usuário estranho e específico: obcecado por audiência, curioso, cheio de novidades. Os números do Twitter no último trimestre, afinal, apresentaram uma melhora em relação ao período anterior, com 14 milhões de novos usuários — um total de 255 milhões. O problema é que seus usuários estão menos ativos. O Twitter diz que essas mudanças refletem uma experiência mais simples, mas temos uma teoria diferente: o microblogging está entrando em seu crepúsculo.

A plataforma de publicação que nos levou para a era da Internet móvel está retrocedendo. Sua influência permanecerá, mas o lugar da plataforma na cultura da Internet está mudando de uma forma que parece irreversível e ecoa a tradição do AIM e dos blogs pré-2005. Muito do que dizemos se resume ao que sentimos. Comunidades não podem ser medidas completamente pela forma como as pessoas se comportam nelas. De qualquer forma, para analisar mudanças culturais, contar com experiências de primeira mão é um primeiro passo .

O Twitter costumava ser uma espécie de um substituto para uma sala de imprensa ou mesmo um bar, onde você troca idéias com pessoas cujas opiniões queria avaliar. Talvez você não concordasse com todo mundo, mas isso era parte da diversão. Mas em algum ponto as narrativas Twitter começaram a parecer iguais. A multidão tornou-se previsível, e não de uma boa maneira. Muito do Twitter ficou cruel e mesquinho e falso. Tudo o que sabemos a partir da experiência sobre plataformas sociais de publicação, ou sobre quaisquer plataformas de publicação, é que mudam. E pode ser difícil de controlar a interação entre as mudanças de design e as comportamentais. Em outras palavras, o Twitter mudou o Twitter, ou o mudamos nós?

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Mas talvez haja uma pergunta melhor a fazer primeiro: qual Twitter perdemos?

Olhando para trás, o Twitter de 2013 era basicamente a ressaca do Twitter de 2012, quando poderíamos pensar em deixar a plataforma algum dia, mas não tão cedo. Ou talvez nós estamos perseguindo o fantasma do Twitter de 2011. Um feed frenético, uma enchente de notificações, retweets manuais e checkins do Foursquare. Lembra-se do Twitter de 2010? Naquele ano, parecia que todos tinham finalmente se rendido e se inscrito. A Primavera Árabe deixou as pessoas otimistas com a plataforma como uma força transformadora. Roger Ebert e Rob Delaney eram os quentes. O Twitter de 2009 é um borrão e o Twitter desarticulado de 2008 é difícil lembrar agora. Antes disso, as pessoas não devem sequer ter conversas na plataforma. Não de verdade.

É engraçado que delineemos as eras do Twitter ano a ano, ou que até possamos fazer isso, uma vez que a plataforma é tão fixada no “agora”. Descrever o Twitter por ano pode parecer com contar os pingos de chuva no oceano.

Além disso, o Twitter de que vale a pena falar transcende todos os outros Twitters. Quando era bom — quando é bom — o Twitter criava um ambiente caracterizado pelo respeito e piadas tão engraçadas que você queria mostrar para a pessoa sentada ao seu lado na vida real. Não concordar podia ser produtivo, e podia se responder sem ter que apelar para histrionismos. O ciclo de feedback positivo de favoritamentos e interações não doía, tampouco.

Outra coisa: a ideia de que o formato de 140 caracteres do Twitter impede aprofundar os assuntos sempre foi uma cortina de fumaça. Mas há questões legítimas sobre como o formato pode ser escalável. Às vezes ajuda imaginar o Twitter como círculos concêntricos, que crescem com retweets, tweets editados, interações, favoritamentos, marcações de ódio, subtweeting , críticas maldoas, trolagem, etc, etc, até que eles ficam tão grandes e a rede fica tão cheia que você não consegue ver mais os círculos.

Por muito tempo, dissemos às pessoas que se elas não estavam se divertindo no Twitter é porque não estavam seguindo as pessoas certas. Este era o código para você não ter encontrado a rede certa ainda. E ainda existem grandes contas na plataforma, grandes redes, mas muitos delas estão se tornando mais fragmentadas do que nunca, mesmo que o Twitter tenha mudado as funcionalidades de maneira que parecem concebidas para solicitar interações e conversas. Talvez isso fpsse inevitável. A fragmentação é uma parte fundamental de como as pessoas interagem com a informação online; também é como nos socializamos offline.

As pessoas ainda estão usando o Twitter, mas não estão ficando mais por lá.

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Talvez o problema é que o Twitter não vem crescendo da maneira certa para manter os usuários altamente engajados .

Desde o início, havia alguns preceitos úteis que aqueles de nós que são obcecados sobre a plataforma tinham que acreditar. Primeiro, você tinha que acreditar que alguém lá fora estava prestando atenção, ou melhor, que uma parte significativa de seus seguidores, e não apenas 1 ou 2 por cento, podia ver seu tweet. Em segundo lugar, você tinha que acreditar que para aumentar o número de seguidores bastava tuitar de forma hábil e convincente. Em terceiro lugar, você tinha que acreditar que havia um público útil que você não podia ver, um grupo além de sua linha do tempo,  que você podia querer seguir um dia.

Essas ficções provaram-se tolas, uma por uma. O serviço está cheio de contas de spam: o tuitador médio tem apenas um desprezível seguidor — dessa forma, quantos de seus seguidores são pessoas reais? O crescimento do Twitter, ano a ano, despencou desde 2011 e as tensões inerentes (e explícitas) do mercado da atenção do parecem empurrar e puxar o Twitter de formas estranhas, fractais.

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O Twitter continua a ser um local importante para algumas conversas. (…) a plataforma ainda amplifica vozes de outra forma sub-representadas sobre temas essenciais. Você pode participar de um protesto no Twitter que não pode assistir na vida real. Algumas das conversas que ela hospeda não estão acontecendo em qualquer outro lugar .

Vista através desta lente, a plataforma de publicação pode ser encarada como um microcosmo em relação à mudança de poder das mídias tradicionais para o resto de nós. Mas essa transferência de poder é, por vezes, confusa. (Considere as discussões sobre o que diferentes usuários do Twitter consideram ser informação ” pública”.) Em última análise, este é um debate sobre quem controla a narrativa.

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Se o Twitter está desaparecendo, o que vem por aí?

Provavelmente muitas coisas . A Internet é caracterizada pela largura estreita dos seus fluxos. Muitos já se espalharam por plataformas como Vine , Snapchat , Instagram, etc , etc. Chame a isso de “a bolha de filtro” ou ” nichificação”, os cantinhos que ocupamos online sempre vão parecer maiores do que são realmente por causa da companhia que temos. E os jornalistas tendem a confiar no pressuposto de que, se eu estou aqui, todo mundo deve estar também. Assinaturas foram sempre sobre a promessa de uma comunidade de leitores, e não apenas de uma coleção de conteúdo.

Sentia-se o Twitter como grande mesmo quando foi ofuscado por gigantes sociais como o Facebook. Mais importante do que isso, sentia-se que ele era vibrante. Mas a verdade é que ele sempre foi pequeno. Só que agora não é mais o clube da casa da árvore como antes. Em vez disso, o Twitter está fechado, sufocado, de uma forma tal que nos faz querer explorar um outro lugar por algum tempo.

O artigo cuja tradução e adaptação está acima foi escrito por Adrienne Lafrance, senior associate editor, e Robinson Meyer, associate editor de The Atlantic. http://www.theatlantic.com/technology/archive/2014/04/a-eulogy-for-twitter/361339/ 

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