Segundo Tim Higgins, repórter da Bloomberg que cobre a indústria automotiva (e não por acaso sediado em Detroit), a Apple pode estar se preparando para se tornar uma montadora. Tim contou que, de acordo com uma fonte confiável, a empresa de tecnologia colocou algumas centenas de funcionários para trabalhar em um projeto secreto para desenvolver um automóvel elétrico. É verdade que a Apple frequentemente testa ideias que não leva à frente, mas o trabalho ressalta o desejo longamente acalentado da empresa de desempenhar um papel mais importante no espaço automotivo – que, por sua vez, está maduro para participar da vida digital dos usuários.
“Faz um enorme sentido”, disse Gene Munster, analista da Piper Jaffray Cos. “Se você tivesse dito há 10 anos que a Apple iria entrar no negócio de carros eu acho que as pessoas que diriam que você era louco – porque á teria sido uma loucura – mas hoje trata-se de uma empresa muito diferente capaz de enfrentar esses mercados de massa.”
A Apple, com um valor de mercado superior a US$ 700 bilhões, tem de continuar a crescer as vendas em iPhones, seu maior gerador de receita e, ao mesmo tempo, expandir-se para novos mercados, como automóveis, se quiser chegar a uma avaliação de US$ 1 trilhão, disse Munster. Ele acrescentou que não acha que a Apple irá lançar um carro nos próximos cinco anos.
No entanto, a Apple possui algumas vantagens em relação a outras empresas do Vale do Silício com ambições automotivas. A Tesla Motors Inc., que entrega menos de 10.000 veículos por trimestre, surpreendeu os investidores no mês passado quando o CEO Elon Musk disse que a empresa não seria rentável até 2020.
Os pontos fortes da Apple como uma montadora em potencial incluem:
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US$ 178 bilhões
A indústria automotiva precisa de dinheiro em um ritmo espantoso. E ocorre que a Apple tem reservas de 180 bilhões de dólares em dinheiro. Como Musk disse na semana passada, a Apple “está ficando sem maneiras de gastar dinheiro. Eles gastam dinheiro como se fosse água e mesmo assim não conseguem gastar o suficiente”.
Até recentemente era necessário cerca de US $1 bilhão para desenvolver um novo carro, mas agora esses custos já estão sendo distribuídos por mais veículos com as montadoras tradicionais trabalhando para usar plataformas para mais modelos, disse Dave Sullivan, um analista do setor automotivo da AutoPacific. [
O maior desafio para a Apple seria a falta de experiência na construção de carros. Habilidades, porém, que eles podem adquirir, afirmou Thilo Koslowski, vice-presidente e líder em práticas automotivas da Gartner. “Isso é algo que se entende bem, porque se pratica há cerca de 100 anos”, disse ele sobre a construção de carros. “O que não é bem compreendido é que peças a Apple potencialmente irá colocar sobre a mesa.”
- O supremo dispositivo móvel
A Apple construiu seu sucesso com a criação de produtos que são projetados para se tornarem necessários e que integram software de uma forma que leva os usuários a mergulhar cada vez mais fundo no mundo da Apple, prendendo-os a futuras atualizações. E ela já tem as tecnologias adequadas – software de mapeamento, por exemplo – prontas para embarcar.
“O carro é uma das peças mais importantes e críticas do quebra-cabeça que você precisa para exercer a dominação, se você quer interagir com os clientes onde quer que estejam”, disse Koslowski. “É muito importante ter um telefone conectado, e que lhe mostra sua agenda e outras coisas – mais ainda se você estende o conceito para outro dispositivo que acontece de ter quatro rodas.”
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E os “car guys”?
O negócio do carro parece simples para quem é de fora, levando alguns a pensar que podem fazer melhor do que Detroit, que passou uma geração se reorganizando e passando da situação de falência para novos lucros.
Mas a história mostra que não é tão fácil. Para cada Alan Mulally, que saiu da Boeing para supervisionar o renascimento da Ford, há um Bob Nardelli, o ex-executivo da General Electric Co. e Home Depot Inc. CEO, que estava no comando da Chrysler durante sua falência. A Tesla conseguiu até agora, mas a Fisker Automotive, outro companhia de carros elétricos, faliu.
A Apple, por sua vez, tem uma mistura única de executivos com experiência em tecnologia e autos. A empresa vem contratando engenheiros da área automobilística, muitos deles com experiência em gestão de cadeia de suprimentos, tecnologia de baterias e em interfaces com usuários.
Luca Maestri, diretor financeiro da Apple, passou 20 anos na General Motors nas áreas de finanças e operações. Eddy Cue, o influente vice-presidente sênior de software Internet, é um entusiasta de carros e está no board da Ferrari. Steve Zadesky, vice-presidente de design de produto do iPhone, que está liderando o esforço automobilístico da Apple, passou um tempo trabalhando na Ford no início de sua carreira. Marc Newson, um designer industrial que se juntou a equipe de projeto secreto da Apple no ano passado, desenhou um concept car para a Ford em 1999.
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Rede de Varejo
Uma das forças – e também uma fraqueza – das montadoras tradicionais tem sido suas redes de concessionárias. É difícil abrir frentes de loja em todo o mundo rápido o suficiente para obter a escala necessária para vender carros. Nos EUA, há complexidades adicionais, como as leis estaduais sobre franquia que muitas vezes proíbem os fabricantes vender carros diretamente aos clientes.
Isso é algo que a Tesla tentou derrubar. Em vez de vender através de concessionárias franqueadas, a montadora de Palo Alto opera seus próprios showrooms – que foram criados por um ex-executivo da Apple – e que recebe encomendas através da Internet. A abordagem atraiu a ira de algumas redes de concessionárias e no ano passado o fabricante teve problemas com grupos na Geórgia, no Missouri, em Nova Jersey, em Nova York, em Ohio e na Pensilvânia antes de chegar a acordos.
A Apple, é claro, já tem uma rede gigante de varejo por meio de suas centenas de lojas da Apple em todo o mundo.
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A Apple é global
O negócio automotivo tem uma complexidade mundial como poucas indústrias, com questões de regulamentação, de marketing e de logística.
A Apple, que desenvolve seus produtos na Califórnia, mas depende de empreiteiros para montá-los em sua maioria na Ásia, está acostumada com a gestão de uma cadeia de suprimentos “on-time” em todo o mundo – algo que o Google, por exemplo, não precisa fazer no seu dia-a-dia – e a lidar com as complexidades de oscilações cambiais em todo mercados globais. O CEO Tim Cook construiu sua reputação na Apple por sua capacidade de navegar essas operações globais.
“Isso será uma enorme vantagem se eles decidirem fabricar carros”, disse Tim Bajarin, presidente da Creative Strategies, embora permaneça cético a respeito de a Apple querer entrar de fato no negócio de venda de carros, em vez de apenas estar se movendo mais profundamente na criação de sistemas operacionais para as montadoras.
“Fazer carros não parece ser a cara da Apple”, disse Bajarin. “É mais provável que eles estejam tentando criar uma experiência eletrônica mais rica, mais imersiva, ligada ao iOS, onde não só o sistema de áudio, mas as informações e, possivelmente, novos níveis de segurança, através de sensores e câmeras, sejam parte do que eles oferecerão para as montadoras.”
A Apple pode estar criando conceitos, ou projetos de referência, para integrar a tecnologia e demonstrar aos fabricantes de automóveis, disse ele.
Fonte: Bloomberg Business