Estado da Mídia: novos formatos, novos padrões

Artigo publicado pelo jornalista e professor Carlos Castilho no Observatório da Imprensa. Temos trazido para este espaço discussões nessa direção, por isso achamos que valeria a pena republicar este conteúdo.

Informe State of the News Media 2011 identifica novos padrões de comportamento nas empresas jornalísticas em ambiente Web

A edição 2011 do relatório State of the News Media (Estado da Imprensa) divulgado esta semana nos Estados Unidos permite vislumbrar o que poderá ser a nova estrutura de informações que está surgindo em meio às modificações em curso na área das indústrias da comunicação.

O relatório oferece números e tendências que mostram a fragmentação do processo de produção e
distribuição de notícias, com o surgimento de muitos protagonistas
obrigatórios num campo que até bem pouco tempo era dominado por grandes
empresas jornalísticas, em sua maioria controladas por grupos familiares
pouco inclinados à compartilhar o poder de decisão.

O que se nota agora é que os clãs familiares estão cedendo
rapidamente terreno para grupos financeiros. Nos Estados Unidos, quase
2/3 da imprensa já está na mão de investidores, que em geral preferem
contratar executivos sem vínculos históricos com o jornalismo.
Resultado: o poder tende a tornar-se impessoal na imprensa,
acabando de vez com a era dos grandes barões, da qual o australiano
naturalizado norte-americano Rupert Murdoch é o último grande exemplo.

Até agora os impérios jornalisticos controlavam, ou procuravam
controlar, todo ciclo de produção das notícias, desde a fabricação do
papel até a distribuição aos leitores e assinantes. Mas o mesmo
processo, na via digital, deve passar pela mão de vários intermediários, quase todos sem nenhuma relação institucional entre si.

É o caso da distribuição de notícias e audiovisuais jornalísticos em
computadores, telefones celulares, TV digital e os tablets, tipo iPad.
Ao produzir a notícia, os jornalistas são obrigados a tomar em conta
como ela será distribuída, condicionando-se às exigências e formatos de outras empresas, algumas das quais são concorrentes.

A concorrência se manifesta de forma quase brutal quando empresas
jornalísticas exigem das que produzem os tablets, informações sobre
usuários. Até bem pouco tempo atrás, os jornais tinham o controle absoluto sobre o acesso aos seus leitores.
Agora eles precisam dos dados recolhidos pela empresa Apple, por
exemplo, que produz o iPad onde são publicados conteúdos gerados por
empresas jornalisticas.

Esta relação tem sido bastante conturbada porque ela é chave para
todos os protagonistas do ciclo da notícia digital. Quem tem os dados do
usuário está em condições ideais para definir o padrão de faturamento e, portanto, a maior fatia na receita gerada pela comercialização das notícias.

É aqui que o relatório State of the News Media 2011 confirma
uma nova tendência em evolução no mercado jornalístico. A combinação da
perda de controle total sobre o ciclo de produção da notícia com a
convivência forçada com outros atores na geração e distribuição de
conteúdos indica que o sistema de comercialização será baseado em múltiplas receitas de pequeno porte, recolhidas por um sistema complexo de faturamento.

Trocando em miúdos, pode-se concluir da leitura do State of the News Media 2011 que
uma empresa jornalística em ambiente web terá que se apoiar numa cesta
de receitas, que por sua vez podem variar desde uma assinatura
convencional até o escambo, passando por vendas segmentadas em vários
formatos. Nem toda a receita será monetizada, o que obrigará as empresas
a uma ginástica contábil bastante complexa.

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