Não houve outro jeito senão inventar uma palavra para expressar o que os “cérebros” do sistema de buscas Google estão desenvolvendo para ampliar a participação na área da imprensa da maior empresa de mídia do mundo.
A Google não quer acabar com os grandes conglomerados jornalísticos e nem com os jornais, revistas e emissoras de rádio ou TV no âmbito regional. A estratégia da empresa criada há pouco mais de uma década numa pequena cidade da Califórnia chamada Mountain View é induzir a imprensa mundial a adotar um sistema de produção e comercialização de informações baseado no modelo digital de negócios desenvolvido pelos seus fundadores, Sergei Brin e Larry Page
Os objetivos da Google ficam bem claros na artigo “How to Save the News“, publicado na edição de junho da The Atlantic, por James Fallows, um ex-funcionário da Microsoft e ex-redator de discursos do ex-presidente Jimmy Carter. Fallows não oculta suas ligações com o CEO da Google, Eric Schmidt, o que limita a isenção do artigo mas reforça o peso das informações relacionadas à empresa.
O processo de “googlificação” descrito na revista minimiza o debate sobre a cobrança ou não do acesso às notícias ao afirmar que o público vai acabar aceitando o pagamento porque “isto faz parte da cultura da imprensa”. Mas os “cérebros” da Google estão convencidos de que o pagamento não acontecerá segundo o modelo de publicidade vigente na imprensa, e nem seguirá o processo de produção de notícias praticado atualmente em quase todos os jornais do mundo.
O mago por trás de toda esta estratégia que busca jogar um colete salva vidas para a imprensa é o indiano Krishna Bharat, criador do Google News, um sistema automático de publicação de notícias com base em material recolhido de aproximadamente 25 mil publicações do mundo inteiro, em 25 idiomas diferentes.
O noticiário automático criado por Bharat já foi qualificado de predador e de violador do direito autoral pela Associação Mundial de Jornais (WAN), mas ultimamente ele tem encontrado ouvidos mais atentos entre jornais como o The New York Times, The Washington Post e até mesmo no The Wall Street Journal, cujo dono, o australiano Rupert Murdoch, não poupa palavrões para definir a estratégia da Google.
O que Eric Schmidt e Krishna Bharat querem, segundo fica claro no artigo de James Fallows, é aplicar à indústria dos jornais o modelo vitorioso em buscas na Web, onde o sistema Google recolhe gratuitamente informações para usuários cujas preferências são depois usadas como insumo para produtos publicitários pagos.
O sucesso deste modelo é inquestionável e foi o primeiro, na Web, a oferecer resultados financeiros palpáveis no ambiente digital. Em pouco mais de 10 anos, a Google passou de um inovador mecanismo de buscas para a maior empresa da internet, acumulando um acervo de informações inédito na história da humanidade.
Há dois anos, a indústria dos jornais queria bater de frente com a Google mas, de lá para cá, a irritação da WAN vem diminuindo diante da falta de alternativas viáveis para o agonizante modelo de produção de notícias e das insistentes promessas de Schmidt de que sua empresa não quer acabar com a imprensa, mas sim ajudá-la a salvar-se.
O artigo de James Fallows não afirma textualmente, mas fica claro que a indústria de jornais e revistas é o último grande reservatório de conhecimentos existente no mundo e que ainda não está sob influência do modelo Google de gestão e disseminação de informações.
Faz todo sentido salvar a imprensa, pois ela pode acabar sendo uma valiosa parceira da Google, ao fornecer conteúdos e receber em troca a receita sobre como ganhar dinheiro na Web. Nos próximos posts, pretendo analisar com mais de detalhe os três pilares básicos da estratégia da Google para digitalizar a imprensa: distribuição de notícias, personalização e envolvimento do usuário, e pagamento dos conteúdos jornalísticos acessados.