Todas as áreas da sociedade estão
vivendo os efeitos da descentralização gerada pelo Coronavírus. Com tanta gente
em quarentena são necessárias novas soluções para resolver a complexidade. Daí
é preciso alterar a forma de intermediação entre os seres humanos, em especial nas
relações entre as pessoas e as instituições. E este é o maior desafio de hoje –
o problema da qualidade na quantidade e quantidade com qualidade.
Na saúde não é diferente. As
tecnologias que estão sendo criadas apontarão na direção de mais e mais poder
para que os pacientes cuidem, ao máximo, das suas próprias doenças. Isso já
vinha sendo feito, de forma ainda simples, através do chamado “Dr Google”.
Pesquisas dizem que o índice de brasileiros que buscavam o Google como primeira
fonte de informação em casos de problemas de saúde já está próximo ao dos que
buscam imediatamente um médico. São 26% que têm o mecanismo de busca como
primeira opção, ante 35% que recorrem a um médico. A mesma pesquisa concluiu
com um dado importante: 25% dos brasileiros têm plano de saúde enquanto 70%
estão conectados à internet.
É de se pensar que pouco tempo
antes da quarentena, ainda tínhamos organizações colocando em xeque algumas
iniciativas que envolviam uma maneira nova de tratar o assunto de empoderamento
do paciente, como por exemplo, criticar a telemedicina. No entanto, a sociedade
já estava se organizando há algum tempo: A web nos possibilitou acesso a um
grande volume de informações que antes estavam restritas, concentradas, em
alguns núcleos específicos. Já temos há algum tempo grupos no WhatsApp de
pacientes com doenças crônicas (HIV por exemplo). Todos saem ganhando com
aprendizado um com os outros.
E a coisa não vai parar por aqui.
Certamente esta será uma das megatendências: a saúde 2.0 – as pessoas terão que
aprender cada vez mais a tomar um número maior de decisões. Isto significa para
os pacientes que o nível de decisão sobre a sua própria saúde vai aumentar. Em
uma reportagem no começo de agosto passado no canal Globosat, foi apresentada
uma comunidade na Inglaterra que está trabalhando para hackear uma bomba de
insulina, que é um aparelho bastante caro, para pressionar os laboratórios a
encontrar uma solução mais barata para quem depende regularmente desta solução,
no caso controlar o diabetes. Em outro artigo, desta vez na Exame (2019), vimos
outra iniciativa que prevê que seja possível, em breve, medir a pressão
arterial pelo próprio celular através de uma selfie – o aplicativo realizado a
medição arterial dos usuários a partir do reflexo da hemoglobina com a luz
emitida pelo smartphone.
Enfim, quem ganha se o paciente
for atendido diretamente no digital? As instituições públicas poderão ter um
alívio nos custos e na qualidade do atendimento presencial? Os planos de saúde
terão que pagar menos consultas que muitas vezes são problemas decorrentes como
gripes, resfriados, viroses?
Obviamente teremos que separar
prevenção, atendimento de rotina, atendimento em crises e intervenções. Enfim,
nesta era digital muda a forma do papel do médico que ainda será muito
necessário neste novo século. A única
certeza neste momento é que o futuro que estávamos acostumados está cada vez
mais incomum do que imaginávamos no passado. No entanto, só é um futuro incerto
para quem não compreende o presente.