Cada vez mais vemos que a IA (Inteligência Artificial) e a robótica entram no nosso dia a dia, afetando a própria
natureza do trabalho. Muitos livros, estudos e artigos tem sido escritos, como o
da Pew Research, chamado “AI,
Robotics, and the Future of Jobs“. Recomendo também um livro instigante, “The
Future of the Professions: How Technology Will Transform the Work of Human
Experts” que mostra o potencial das rupturas que estão diante de várias
profissões como as conhecemos hoje. O risco potencial é bem real. Recomendo a
leitura de um estudo muito instigante, “The
Future of Employment: How susceptible are Jobs to Computerisation? “, que
aborda o tema, com foco nos EUA, do que podemos chamar de “desemprego
tecnológico”. O fato é que à medida que os avanços nas tecnologias de IA e
robótica avançarem, será inevitável a substituição de funções ocupadas por
humanos hoje. Ocupações que consistem de tarefas e procedimento bem definidos
poderão ser substituídos por algoritmos sofisticados. Como o custo da
computação cai consistentemente ano a ano, torna-se atrativo economicamente a
substituição de pessoas por máquinas. O processo é acelerado pela
reindustrialização nos países ricos, como os EUA, que após perderem suas
fábricas para países de mão de obra barata como a China, começam a trazê-las de
volta, mas de forma totalmente automatizadas. Os empregos da indústria
americana, perdidos pela saída das fábricas, não estão voltando com elas. Quem está
ocupando as funções são os robôs. O estudo
estima que cerca de 47% dos empregos atuais, nos EUA, estão em risco. Entre
estas funções estão motoristas de veículos como caminhões e táxis, estagiários
de advocacia, jornalistas, desenvolvedores de software, administradores de
sistemas de computação, etc.
Um outro estudo, este da McKinsey, “Four
fundamentals of workplace automation“, mostra que 45% das atuais atividades
executadas por funcionários podem ser automatizadas. O estudo, também orientado
aos EUA, e portanto, não necessariamente aplicável da mesma forma a todos os
países, como no Brasil, aponta que hoje, embora apenas 5% das atividades possam
ser inteiramente substituídas por tecnologia atual, 60% das funções podem ter
30% ou mais de suas atividades automatizadas. O resultado é que em maior ou
menor grau, todas as funções já são ou serão afetadas pela tecnologia. Em consequência,
estas mudanças, a digitalização da força de trabalho, vai provocar também uma
mudança significativa na forma de como as empresas se estruturam e se
organizam. Este é um novo desafio para as empresas: nos próximos anos, com a
evolução exponencial das tecnologias, as estruturas organizacionais, processos
e definições de trabalho serão transformadas. Os princípios e modelos
organizacionais que usamos hoje, baseados nos conceitos da sociedade
industrial, que se move a um ritmo mais lento, não serão mais adequados. Já sabemos que a automação e o uso intenso de
IA pode desagregar as atuais funções em tarefas e subtarefas que poderão ser
automatizadas. A questão em aberto é como reagregar as tarefas que não poderão
ser automatizadas em novas formas de trabalho. Provavelmente irá mudar o
conceito do que entendemos como uma profissão ou função hoje.
Vamos exemplificar com um contexto que ocorre hoje. Em uma
cirurgia cardíaca, o cirurgião mais experiente executa a cirurgia em si, com os
cirurgiões menos experientes executando as tarefas pré e pós operatórias.
Imaginemos estas tarefas sendo delegadas a robôs baseados em IA e computação
cognitiva. Como formaremos um cirurgião experiente, se tivermos menos demandas
por cirurgiões menos experientes?
No tocante a estrutura organizacional, as estruturas
tenderão a ser mais fluídas, com empresa atuando de forma mais ágil, com
equipes menores e colaborativas. Os modelos em silos e separações de hoje não
terá espaço neste novo contexto. Muitas tarefas serão efetuadas on-demand, por
serviços externos, oferecidos por humanos ou máquinas. Hoje, por exemplo, um
serviço como o Fiverr oferece serviços
free lancers por custos extremamente baixos, com profissionais ao redor do
mundo. Quer um case interessante? Veja este texto “larguei o emprego e montei
uma multinacional com gente em 15 países“. Dez anos atrás isso era
impensável. E daqui a dez anos? Talvez algumas (ou muitas) destas atividades serão
feitas com tecnologia. Uma impressora 3D aqui e um serviço baseado em IA em
nuvem acolá… Um estudo publicado pela Harvard Busienss Review, “Redesigning Knowledge
Work“, aborda esta estratégia.
Diante deste cenário o que devemos fazer? Não existe
resposta, ainda…as lideranças das empresas devem compreender que estamos
diante de uma mudança com velocidade e amplitude que não vimos antes na nossa
história. O uso intensivo de computadores já destruiu ou praticamente jogou
para escanteio profissões como ascensoristas, datilógrafos, operadores de
telefonia e caixas de bancos. Mesmo profissões de alto conhecimento técnico
como navegadores e engenheiros de voo nas tripulações das aeronaves, deixaram
de existir há décadas. É indiscutível um fato: novas tecnologias mudam a
natureza do trabalho. O que vemos hoje é que a velocidade com que acontece
(ritmo mais acelerado que outras mudanças anteriores), amplitude e profundidade,
provocando mudanças significativas, simultaneamente, cria um novo e desafiador
cenário. Isso nos leva a trilhar caminhos que não trilhamos antes. Temos que
começar a repensar as atuais estruturas organizacionais. O mundo dos negócios terá
que ser reinventado. De maneira geral de 20% a 30% do headcount de uma empresa
estão em funções de administração e gerencia. Mas este modelo, de comando e
controle, tipicamente hierárquico, deixa de ser necessário com novas
tecnologias e novos modelos organizacionais, com empresas estruturadas em rede
e modeladas para serem exponenciais.
De maneira geral as empresas ainda não estão se preparando
para este futuro breve. Isso fica claro na leitura do relatório “The Future of Jobs:
Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution“,
publicado pelo World Economic Forum. O relatório mostra claramente que os
próximos cinco a dez anos serão críticos em relação à transição. Empresas e
países que não conseguirem se adaptar, correrão sérios riscos de ficarem para
trás ou terem consequências econômicas sérias. Ao lado das funções que
desaparecerão, outras novas serão criadas, com perfil diferente das atuais.
Além disso, o tempo médio de validade das capacitações tende a diminuir
sensivelmente, assim como serão estabelecidas novas relações entre empresas e
pessoas. As bases das regulações trabalhistas, criadas em plena sociedade
industrial, onde a longevidade ne empresa era um prêmio, mudará rapidamente.
O que fazer? Uma estratégia de ação pode e deve começar a
ser desenhada: repensar as estruturas organizacionais para serem mais fluídas e
mais integradas entre si, redefinir as funções e papéis das atividades
exercidas pelos profissionais, dividi-las em tarefas e subtarefas, alocando-as
para humanos ou futuramente máquinas (e começando com uso de ofertas de
serviços externos) e repensando carreiras e modelos de retenção de
talentos. E, principalmente, repensar o
nosso modelo educacional. Formar gente para profissões que não existirão ou
serão substancialmente modificadas nos próximos dez a quinze anos, é perda de
tempo.