Como ele fez questão de explicar, ficar com a família a maior parte do tempo disponível era óbvio. Mas Randy queria algo a mais. Ele sonhava em deixar lições para seus filhos e uma herança que pudesse ser resgatada por eles no futuro. E planejou tudo com a mesma dedicação e força de vontade que pautou toda a sua vida acadêmica.
A sua palestra de despedida foi emocionante para mais de quatrocentas pessoas presentes, entre eles o jornalista Jeffrey Zaslow, do Wall Street Journal. Ele resolveu então transformar a história em livro, organizado em cinco grandes capítulos e que foram ditados por Randy pelo celular durante 53 passeios de bicicleta.
Seguindo a tradição americana, ele aceitou o convite para sua palestra de despedida na Universidade Carnegie Mellon. A idéia de uma reflexão sobre a sua trajetória pessoal e profissional teria um efeito muito diferente de todas as palestras que já haviam sido proferidas. Afinal, ele planejou uma grande aula para seus filhos, uma forma de contribuir para a criação deles. Preparou sua palestra com o suporte incondicional de sua esposa Jai, que se dividia entre o apoio ao marido e a negação de seu próprio sofrimento.
Paradoxalmente, Randy iniciou a sua palestra fazendo flexões de braço no palco. Mesmo sob o efeito da quimioterapia, ele queria mostrar que seu estado de saúde instatâneo escondia o seu futuro iminente. Entre risos e sussurros, ficou claro para todos como a vida é efêmera.
Randolph, como sua fazia questão de chamá-lo, dizia que havia acertado na loteria dos pais pois eles lhe deram a chance de cultivar seus sonhos na infância. E exatamente por aí começou a sua palestra. Ele queria experimentar a gravidade zero, escrever na enciclopédia World Book, trabalhar na Disney e ganhar enormes bichos de pelúcia. E mesmo sem conseguir jogar na Liga Nacional de Futebol Americano, recebeu de seu treinador algumas das maiores lições da sua vida.
Infelizmente forçada, a sua saída de cena ocorre no auge da carreira, com realizações incríveis como o projeto Alice, um software que ensina linguagem de programação às crianças. E ainda um currículo repleto de parcerias com grandes empresas como Disney, Google, Adobe e Eletronic Arts.
Apesar de todo o seu sofrimento, Randy ainda compartilha suas idéias de como possibilitar os sonhos alheios e como viver a vida na plenitude de sua essência. Nada faz o tempo parar. A vida segue seu curso, quer você queira ou não. O fim da vida é um fato consumado, mas a nossa fragilidade humana fica ainda mais clara com a falta de consciência da finitude de nossa existência na Terra.
Como o próprio Randy comenta no início do livro, nada substitui um pai vivo. Mas planejar não significa alcançar as soluções perfeitas e sim fazer o melhor possível com recursos limitados. Em que pese, neste caso, tal recurso era a sua própria vida e ele fez um trabalho perfeito. Uma aula de amor pelos filhos, pela esposa, e porque não, pela vida.
“A LIÇÃO FINAL”
Randy Pausch – Jeffrey Zaslow
Editora AGIR – 2008 (252 páginas)