Alô? Você tem coração?

As transformações culturais que a economia vem passando são realmente devastadoras. Mas é bom sempre refletir o motivo de serem assim tão devastadoras. Lembro bem quando iniciei a carreira escrevendo em máquinas de escrever. Uma cena grotesca me chamou muito atenção. Um amigo, que trabalhava na Folha de S. Paulo, reescreveu pelo menos umas três vezes a matéria que entregou para o seu chefe, por que ele simplesmente rasgou cada uma das laudas que meu amigo lhe entregou.
 
Parece hoje uma cena bizarra, contada assim. Mas ela ilustra muito bem a raiva que meu amigo sentiu ao ver sua obra-prima rasgada, sem piedade. E a cena se completou com um arrogante “você não entendeu? Faça de novo seu incompetente!”. Se, naquela época, tivéssemos as redações informatizadas, com certeza meu amigo não se estressaria tanto, nem o chefe dele. Seria fácil adaptar o texto e teríamos descido mais cedo para tomarmos a nossa cerveja.
 
Mas essa cena, vivida no final da década de 70, demonstra bem as rápidas mudanças culturais por que passamos nas últimas décadas. A automação das redações, a automação da indústria automobilística, que causaram demissões em massa, são outros bons exemplos. 
 
As mudanças são cíclicas, gerando grandes oportunidades para quem as percebe, mas causam grandes impactos para quem não as percebe ou não consegue se proteger delas.
 
A revolução da internet com a disseminação das oportunidades – ou dificuldades – foi ainda mais avassaladora. Quer surpresa maior que essa onda gerada agora pela geração das  fintechs? Nas brechas de grandes instituições financeiras já surgiram e se consolidaram rápido algumas novas empresas, revolucionando o mercado, a princípio aproveitando espaços rentáveis. Mas, mais que isso, está surgindo um novo mundo de empresas atendendo as necessidades reprimidas, ou o inconformismo, do consumidor.
 
Fico muito feliz em estar acompanhando estas ondas, que se alastram e provocam mercados, questionam culturas empresariais, provocam conceitos e, depois de alguma acomodação, se ajeitam.  Para usar um chavão, provocam disrupturas, que podem ser radicais, dependendo do ângulo (ou cultura) de quem está observando, analisando. Tenho certeza que tem muita gente observando, alguns de camarote com aquele jeito estressado do meu amigo que queria mais era tomar a cerveja. Mas tem muita gente preocupada, analisando, investindo e louco, querendo colocar em prática novos conceitos.
 
Essa mudança já atinge o mercado de outsourcing, pois as ameaças são muito grandes com a automação da atenção ao cliente, acelerada pela chegada dos robôs, pelo uso da inteligência artificial e a disseminação da computação cognitiva nos negócios. Como sempre, acho que é uma cultura ou defesa da espécie humana, enquanto alguns preferem a cerveja outros estão preocupados com seus negócios, com a defesa e evolução de seus colaborados. Ou simplesmente querem entender o que está acontecendo com essa nova geração de consumidores que impacta a economia, a cultura estabelecida e, enfim, o modelo político e econômico que vivemos.
 
Até o sabor da cerveja melhorou!

*Vilnor Grube é diretor da ClieneSA.

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