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Shibumi

Ser Shibumi é um objetivo de vida que me acompanha desde os anos oitenta quando li o romance de Trevanian (Shibumi, Editora Nórdica, 1979). Ser Shibumi sempre foi daqueles objetivos que vêm, vão e voltam para nossas vidas devido a própria dificuldade de entendimento do que realmente significa o conceito, muito mais intuitivo e compreendido no espirito do que na mente.

Com o advento da internet achei que poderia pesquisar mais e aprofundar o conceito como proposta de vida. Estava enganado. Ainda hoje, mesmo em inglês, não se acha muita coisa sobre o tema até a decima pagina de busca.

O melhor do conceito ainda está no pequeno diálogo entre Kishikawa-san e Nikolai Hel:

– Shibumi, senhor?

Nikolai conhecia a palavra, mas apenas quando aplicada a jardins ou a arquitetura, quando sua conotação é de uma beleza moderada. -Como está usando este termo, senhor?

-Ah, vagamente. E de maneira incorreta, creio. Uma tentativa equívoca de descrever uma qualidade indescritível. Como sabe, Shibumi tem muito a ver com um acentuado refinamento sob uma aparência comum. É uma declaração tão correta que não precisa ser ousada, tão precisa que não precisa ser bela, tão verdadeira que não precisa ser real.
Shibumi é compreensão, muito mais do que conhecimento. Um silêncio eloquente. No comportamento, é modéstia sem prudência. Na arte, onde o espírito do Shibumi 
assume a forma de Sabi, é uma simplicidade elegante, uma brevidade articulada. Na filosofia, onde Shibumi emerge como Wabi, é uma tranquilidade espiritual que não é passiva; o ser sem a angustia do vir a ser. E, na personalidade de um homem, é. como se pode qualificar isso? Autoridade sem dominação. Alguma coisa assim.

O pensamento de Nikolai estava galvanizado pelo conceito de Shibumi. Jamais um outro ideal o tocara tão profundamente.

-E como é que alguém consegue alcançar esse Shibumi, senhor?

-Não se conquista o Shibumi. Descobre-se. E só uns poucos homens, profundamente refinados, o conseguem. Homens como o meu amigo Otake-san.

-Quer dizer que se deve aprender muito para alcançar o Shibumi?

– Significa que se deve ultrapassar o conhecimento e alcançar a simplicidade.

 

Encontrei outras definições, algumas se perdem no paradoxo, tal como essa:

“Para entender os princípios zen, um bom ponto de partida é Shibumi. É um conceito abrangente, um ideal. Não tem definição precisa em japonês, mas seu significado é reservado para objetos e experiências que exibem em paradoxo e tudo de uma vez o melhor de tudo e nada: simplicidade elegante. Eficiência sem esforço. Excelência minimizada. Bonita imperfeição.”

Outras na plenitude ou esplendor:

“Shibumi – em nihon-go (língua japonesa, ideográfica ou simbólica) expressa uma virtude de esplendor e até pode se referir a uma obra. Sentimos, mais do que propriamente vemos, Shibumi é usado para qualificar qualquer coisa que exprima tanta harmonia que a beleza é fluída e a paz está em movimento sem perturbar-se. 
Mas a principal referência de Shibumi será sempre à pessoa. Porque qualquer obra – se tiver a característica de Shibumi, a terá recebido do seu criador, e constituirá o registro do momento em que o homem, como artista, atingiu um momento de esplendor. “

 

Gostei também das lições ou princípios Zen retirados do conceito e que as adaptei para o comportamento. Estes princípios são:

 

Os Sete Shibumi

1-      Austeridade – Abstenha se de acrescentar o que não é absolutamente necessário, em primeiro lugar. No que faz, no que é, na vida.

2-      Simplicidade – Elimine o que não importa para dar lugar ao que importa.

A austeridade e simplicidade propostas é a que nos leva a beleza de ser compreendido, de ser exatamente o que creem que nós somos. É a autenticidade, simples, direta, pois paramos de vestir e nos livramos de tudo de que nós vestíamos para sermos outra pessoa conforme nossa conveniência.

3-      Naturalidade – Seja o mais natural possível. Siga seu ritmo. A natureza, fora e dentro de nós, tem um ritmo e devemos segui-lo, pois elimina se toda pretensão e artificialidade e adquire-se uma espontaneidade com propósito e intenção.

4-      Sutileza- O poder da sugestão é muitas vezes mais forte do que o da revelação. Limite o que você transmite o suficiente para despertar a curiosidade e deixar algo para a imaginação.

5-      Assimetria ou Imperfeição- Este conceito já não é tão simples de enxergar em nosso comportamento, tem a ver com nossos relacionamentos. A natureza em si é cheia de beleza e relacionamentos harmoniosos que não são assimétricos ou nascem de imperfeições, contudo são equilibrados. Esta é uma beleza dinâmica que atrai e engaja.

É necessário buscar este equilíbrio no meio da imperfeição, para tanto deixe espaço para que os outros criem, colaborem e cooperem com você; Esteja aberto a mudança, a inovação e aos sinais daqueles que estão vivendo ativamente com você.

Os últimos dois princípios trazem o conceito de ruptura (quebra) Existem dois tipos de rupturas: aquela que fazemos e aquelas que tomamos.

6-      Ruptura – É importante que haja no seu dia a dia a ruptura, ou quebra, de algumas rotinas e padrões já velhos. Uma quebra destes padrões mostra outros caminhos, novas possibilidades e aumenta sua criatividade e desenvoltura. Preste atenção em seus hábitos e tente mudar alguns deles de vez em quando, principalmente aqueles que não são muito bons. Não siga algumas formulas que sempre segue, fuja de seu comportamento convencional, comum e rotineiro que não lhe faz bem. Quebre-o.

7-      Quietude –  É nos estados de calma ativa, tranquilidade, solidão e quietude que encontramos a essência da energia criativa, nos conhecemos e encontramos os caminhos para sermos melhores.

A meditação é a maneira incrivelmente mais eficaz para aumentar a autoconsciência, foco, atenção e para abrir sua mente para alcançar percepções criativas que alterem as configurações do seu cérebro.

Fazer algo não é sempre melhor do que não fazer nada.

 

Shibui e Wabi-Sabi
Estes dois conceitos se entrelaçam ao ideal Shibumi. Percebam que em tudo eles nos levam para dentro e ao mesmo tempo para os objetos, para a natureza das pessoas e das coisas a sua volta.

O conhecimento é a compreensão que é adquirida através do estudo ou da experiência. Discernimento é a capacidade inata de compreender a natureza interior de alguma coisa. Nós atingimos a compreensão.

O caminho da perfeição é a busca do próprio eu em si e em toda a nossa volta.

Nós nascemos com discernimento. Nós também nascemos com esta busca dentro de nós. Podemos não estar conscientes da nossa natureza, mas se quisermos realmente perceber toda a existência:

1. Devemos evitar julgamentos imediatos.

2. Temos de evitar tratar pessoas como coisas. Geralmente isso leva a mentira.

3. Temos que estar dispostos a aceitar como elas são sem deixar nossos conceitos intelectuais ficarem no caminho.

Em japonês, essa não-conceituação e não-interpretação é o estado zen de mushin, ou nenhuma mente. É a capacidade de discernir a verdadeira natureza de algo diretamente, seja uma rocha, uma obra de arte ou outro ser humano.

Shibui

No comportamento Shibui é a contenção consciente de nossas atitudes desnecessárias tornando nossas atitudes necessárias mais profundas, penetrantes, afiadas ao mesmo tempo que nos sentimos mais calmos e perspicazes.

É a relação paradoxal das forças interiores de subjugar e ser subjugado a si mesmo.

Wabi-Sabi

Wabi-sabi sugere um conjunto de comportamentos entrelaçados com os princípios Shibumi. Eles são: intimidade, no sentido de conhecer profundamente, modéstia, naturalidade, simplicidade, despretensão e uma não dependência de bens materiais. É um modo de viver que transforma as imperfeições e incertezas da vida em harmonia e beleza.

Encontramos seu relativo no ocidente Cristão nos Pobres de Espírito.

Para finalizar, podemos dizer que Shibumi é menos com mais em nossos comportamentos, nossos relacionamentos, nosso trabalho, enfim nossa vida.

Se ajuda segue uma frase de Antoine de Saint-Exupéry:

“A perfeição é alcançada não quando não há mais nada a acrescentar, mas quando não há mais nada para tirar”.

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