A escolha do padrão da TV Digital para o Brasil esteve sempre acompanhada da promessa de que os brasileiros teriam a opção de adquirir conversores, os set top boxes, em valores acessíveis. Na prática, porém, o que se viu foram fabricantes de televisores oferecerem produtos novos com o conversor embutido, mas por preços ainda distantes do que a grande maioria dos telespectadores pode pagar. Pois agora o governo vai apostar em pequenos e médios fabricantes do Pólo Industrial de Manaus para entregar, em meados do próximo ano – a tempo, portanto, da Copa do Mundo – caixinhas a R$ 120.
“A indústria tem seu próprio time do market, e temos que aceitar isso. Eles inviabilizaram para si, como aspecto negocial, o set top box. Para eles, o interesse é apostar no que virá, que é a televisão já embutida. Por outro lado, o Estado não pode se furtar a trabalhar uma negociação com empresas pequenas e médias interessadas em entrar nesse mercado e que podem fazê-lo pela via de televisões portáteis, set top boxes e handsets”, adianta o assessor especial da Casa Civil, André Barbosa, em entrevista ao Convergência Digital.
O movimento nesse sentido será dado na próxima semana, durante a 5ª Feira Internacional da Amazônia, promovida pela Suframa. Lá, cinco empresas do setor de semicondutores – ST Microeletronics, NPX, Intel, Broadcom e a indiana PIQQUAL – farão, separadamente, apresentações de suas plataformas para conversores. O objetivo é conquistar indústrias do pólo de Manaus a se aproveitarem dessa base para colocar no mercado conversores a preços baixos.
Essas plataformas já incluem MPEG4, HDMI, browser e HD, com custo entre US$ 30 e US$ 40. Algumas, segundo André Barbosa, trazem também o Ginga NCL, mas ele vai pedir para que sejam apresentados custos com o middleware de interatividade brasileiro, que o Assessor da Casa Civil calcula em, no máximo US$ 5 a mais. A mesma oferta será feita a argentinos, chilenos, peruanos e cubanos convidados.
Para as indústrias brasileiras interessadas, o governo prepara um novo Plano Produtivo Básico (PPB). “Aqueles que produzirem no Brasil terão a implementação desses produtos financiada pelo BNDES. A gente está pensando em colocar isso já para a Copa do Mundo, para ter esse produto o mais rapidamente possível. A ideia de implementação são três meses. É rápido, porque já está pronto o hardware, não tem mais pesquisa para fazer. É colocar o design, o display e a caixinha. Achamos que entre março e abril vamos ter já alguma coisa e, portanto, vendas para junho, julho, que é a Copa do Mundo”, explica.
“A televisão, por mais que reduza, ainda terá um preço inacessível para grande parte da população. Temos que massificar, ter produtos baratos. Ou televisores ou set top boxes. E não são as indústrias grandes que vão entrar aí, mas as que estão em Manaus, pequenas e médias que vão se tornar atores dessa história. E vamos retomar uma indústria eletroeletrônica, que já chegou a ser forte, e depois foi embora. Por isso tentar essa política com Manaus, com a Suframa, para as empresas radicadas lá, pequenas e médias, que não tinham dinheiro para implementação de um hardware e agora vão ter cinco opções. E vão ter apoio do próprio TVD, que é o apoio do governo Lula, de R$ 1 bilhão, para a TV Digital”.
Embora o próprio BNDES reconheça que houve pouco interesse do setor em tomar financiamentos para a TV Digital, Barbosa acredita que se trata de um cenário diferente. “Esperamos que pelo menos 10 empresas possam responder a essa provocação e, com isso, possamos ter a oferta de set top box, o que não existe hoje. É um esforço de quebrar essa hegemonia do time to market, e que se tenha a possibilidade do varejo apoiando. Achamos que o custo final desse set top box será de R$ 120. E vamos tentar com a Caixa Econômica também para financiar esse tipo de projeto, financiar o consumidor. Vamos ver de que maneira será possível isso”, completa o assessor especial da Casa Civil.