Adequação ao crédito sustentável



A sustentabilidade tem sido tema recorrente nas mesas negociações entre as empresas de crédito e cobrança e seus clientes. Essa é a opinião da assessora econômica da Fecomercio SP, Julia Ximenes. “Cada vez mais preocupadas com o meio ambiente, com as condições deixadas para as gerações futuras e com as exigências do mercado, as empresas e o setor financeiro vêm, a cada dia, adequando seu modo de produção ou de concessão de crédito a um modelo da sustentabilidade”, afirma.


Essa realidade faz com que as pessoas jurídicas que desejem tomar crédito tenham que planejar suas ações a partir de uma ótica sustentável, o que muitas vezes pode ser difícil, dependendo do tamanho da empresa e de seu capital financeiro, fato comentado pela executiva da Fecomercio SP. “Quando se avalia o cenário brasileiro, principalmente para pequenas empresas, as altas taxas de mortalidade das empresas – principalmente as de pequeno porte – revelam uma realidade complicada. Se passar do primeiro ou do segundo ano de existência já é tarefa para poucos, produzir e agir de forma sustentável torna-se ainda mais raro. Os tomadores de crédito, sejam eles consumidores, empresas ou setor público, devem prezar por sua saúde financeira, não comprometendo a capacidade de pagamento e sua sobrevivência ao tomar crédito. Pois é sabido que qualquer adequação no sentido da sustentabilidade envolve custos maiores, pelo menos em um primeiro momento”, comenta.


Diante desse prognóstico, a assessora dá seu ponto de vista sobre o fato das instituições financeiras concederem ou recusarem crédito através de uma ótica sócio-ambiental. “É complicado condenar qualquer tipo de concessão de crédito, desde que haja um nível de endividamento seguro por parte do tomador e a prática de taxas de juros saudáveis por parte do concessor. É sabido que o crédito assume um papel importante para a economia do país. Contudo, é essencial que haja linhas específicas para promover investimentos sustentáveis, amparadas por projetos sociais ou ambientais, além da viabilidade econômica. Talvez, como forma de estímulo para que exista uma maior oferta e procura pelas linhas sustentáveis, a prática de taxas de juros mais atrativas pode ser um excelente instrumento a ser usado pelas instituições financeiras”, observa.


Ainda sobre esta questão, Julia Ximenes analisa a relação entre os credores e os tomadores de crédito, e, reforça sua idéia sobre o direcionamento de valores para projetos que foquem na preservação ambiental e de medidas públicas para estímulo de uma produção sustentável. “A preocupação com o nível de endividamento dos entes tomadores de crédito, com sua capacidade de solvência e com a prática de taxas de juros adequadas, são justamente, formas de fazer o crédito ser sustentável do ponto de vista econômico. Já do ponto de vista ambiental e social, o crédito sustentável assume um papel importante no estímulo à prospecção de modos de produção mais conscientes, adaptados aos preceitos de minimização dos impactos ao meio ambiente e à sociedade. Sob esta ótica, as linhas de crédito são direcionadas para ações de empresas que tenham como intuito preservar os recursos naturais, além de prezar pelas relações sociais envolvidas nos processos produtivos – desde a produção, a distribuição e até a comercialização. Todavia dificilmente os credores têm condições de acompanhar de forma absoluta o uso dos recursos emprestados a seus devedores. É necessário que outras medidas públicas sejam implementadas de forma a estimular a produção sustentável” opina.

Proveitos de um mercado financeiro sustentável
A executiva também comenta se o compromisso com a sustentabilidade por parte de uma pessoa jurídica impacta ou não na possibilidade de um possível cenário de inadimplência. “Infelizmente, não se pode, a priori, afirmar que as chances de inadimplência são inferiores para as empresas que estão compromissadas com o meio ambiente ou com impactos causados na sociedade. As capacidades gerencial e financeira são muito mais relevantes para precisar os riscos do não pagamento do que qualquer outra variável. Todavia, é fato que, provavelmente sócios e gestores, preocupados com a sustentabilidade, com sua responsabilidade social e com a governança das empresas são, provavelmente, melhor preparados para as funções empresariais, ou seja, deve haver alguma correlação indireta entre as duas coisas” acredita.
Para finalizar, ela fala das vantagens de um mercado financeiro sustentável para todos os envolvidos e para a economia local. “Atualmente a sustentabilidade passou a ser vista como um diferencial competitivo tanto para empresas como para instituições financeiras. O resultado corporativo é, em um primeiro momento, financeiro, pois a sustentabilidade econômica priva por um mecanismo de solvência e de níveis de endividamento saudáveis, que não comprometam as concessões futuras. Outros ganhos também podem ser atribuídos a este nicho de mercado, porém, são menos tangíveis e acabam por beneficiar as instituições financeiras e a economia como um todo de forma indireta ou institucional. Os benefícios também podem ser sociais, pois há um estímulo a relações de trabalho adequadas e decentes, à formalização da mão-de-obra, ao rastreamento da cadeia em que este tomador está inserido. Neste contexto, o crédito concedido pode viabilizar outros tomadores, fazendo com que haja um círculo virtuoso para a economia de uma localidade”,  conclui.


 

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