“Não se pode criar experiência, é preciso passar por ela” – Albert Camus
Profissionais maduros estão vivendo sua “melhor idade” de maneiras variadas: alguns atuam no ambiente de trabalho formal, há os que querem voltar para o ambiente corporativo, mas não são reconhecidos como estratégicos; há os prestadores de serviços, que desenvolvem jobs, oferecem consultoria, espécie de uma vida corporativa no modo on-demand; há os empreendedores, que, com capital, conhecimento e um produtivo networking, estabeleceram seu próprio negócio e, desta forma, continuam ativos e operantes; e outros que simplesmente desistiram da busca por falta de oportunidades. De qualquer forma, a reinserção é complicada.
A realidade é que muitos precisam trabalhar, mas encontram poucas vagas e muita resistência das empresas, apesar da experiência e capacidade. O desemprego aumentou para o profissional na faixa de 65+. Foi de 18% em 2013 para 40% em 2018, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua. Por que eles estão trabalhando? Por que este percentual aumentou tanto? Maior concorrência, maior desemprego; e porque precisam ajudar a compor a renda pessoal ou familiar. Mesmo quem se aposentou, não consegue dar conta de tudo só com o benefício recebido e muitos são desligados sem ter feito um planejamento adequado para os tempos bicudos. É a crise, dirão alguns.
A verdade é que poucas empresas têm uma política de recrutamento para o profissional senior. Ao mesmo tempo em que a população envelhece – o IBGE afirma que até 2030 a população madura será maior número do que a de crianças até 14 anos – já se sabe que a mão de obra mais jovem não será suficiente para atender a futura demanda do mercado, que pode requerer pessoal técnico e com experiência, dependendo do setor.
Um estudo feito em 2018 pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas – (FGV-Eaesp) com 140 empresas mostrou que apenas 10% delas possuem alguma política de contratação de profissionais seniores. Se para a maioria das empresas faltam políticas, para outras o custo pode ser um impeditivo, principalmente no quesito saúde; outras acham que o impacto das novas tecnologias pode ser muito grande e algumas temem a reação à liderança dos mais jovens.
Porém, mais do que empregos, há uma outra “injustiça” cometida no mercado: é preciso criar produtos e serviços adequados e eficientes para este público. Nem mesmo na propaganda esta classe se vê representada. Por produtos leia-se itens modernos, criativos, alegres, nada em cores marrom, cinza ou bege. Confunde-se o idoso com um doente. Quanto a serviços ou aplicativos, por exemplo, que utilizem tecnologia acessível, clara, intuitiva e suporte técnico com muitas habilidades de soft skills. Não é pedir muito! É melhor pensar no idoso como “adulto maduro” do que como “velhinho frágil e isolado”!
Mas como compreender a mente de mais de 54 milhões de pessoas com 50 anos ou mais? Ainda que muitos estejam descapitalizados, esta população tem uma renda média 40% superior à média nacional e pode movimentar até R$ 1,6 trilhão, de acordo com pesquisa conduzida pelo Instituto Locomotiva. Com todos estes dados, será que este público não é um bom target? Talvez as empresas fizessem um bom negócio ao contratar profissionais maduros para entender o que seus pares desejam e traduzir seus anseios e necessidades. Eles, mais do que ninguém, sabem dialogar com esta geração.
Parece que os “adultos maduros” não querem pijama, chinelo, poltrona e amigos para o baralho. Querem trabalho, participar das reuniões, fazer parte do business, e principalmente, produzir! Pode faltar trabalho, mas não falta energia. Esta turma não para um minuto!
Gladis
(*) Baby Boomers são os adultos com mais de 55 anos. No começo, gostavam de estabilidade, empresas de renome, plano de carreira e eram workaholics. Hoje curtem tecnologia, empreendedorismo, projetos, viagens e cultura.