Você já passou por momentos em que sua ética foi confrontada? Você se considera uma pessoa ética? Você compra fita, CD, ou DVD que não seja original, ou assiste a eles? Usa programa de computador não licenciado? Essas são todas questões emblemáticas que às vezes não pensamos nelas como devíamos.
A ética no mundo mais parece uma heresia. O noticiário diário aponta todos os tipos de irregularidades aos quatro cantos do país. Há momentos na vida atual que fica difícil explicar o certo e o errado para nossos filhos, pois parece haver incredulidade na política, nos esportes, nas entidades filantrópicas, nas instituições públicas e privadas e, lato sensu, no cidadão. Até onde tudo isso afeta o profissional de vendas? De muitas formas! A imagem que o cliente faz do vendedor não são lá grandes coisas. O cliente costuma pensar que vamos ludibriá-lo, vamos “tomar” o seu dinheiro, vamos vender-lhe algo por preço superior ao que realmente vale e por ai vai.
Os patrimônios mais importantes que temos, depois da dádiva da vida saudável, são: o nosso nome, família e emprego.
O consultor de vendas, em especial de produtos e serviços de ticket médium elevado, costuma receber – principalmente nas festas natalinas – presentes de seus clientes como forma de reconhecimento pelos serviços prestados. O profissional de vendas precisa se preservar, pois querendo ou não deve admitir que os patrimônios mais importantes que têm, depois da dádiva da vida saudável, são: o nosso nome, família e emprego. Sem o primeiro os dois seguintes podem ficar prejudicados.
Não seria lógico trocar uma vida sublime – e que não é só sua – por alguns momentos de prazer, não é mesmo? O problema é que nem sempre racionalizamos a situação e é, justamente, aí que se aloja o dito popular: “quando a cabeça não pensa o seu corpo – e de toda a sua família – é quem paga”.
Vou contar uma história verídica que, certa vez, aconteceu com um conhecido meu chamado Marcelo. Cidadão etéreo, admirável e de uma honestidade a toda prova. Se existisse um exemplo de camarada ético e correto seria ele. Trabalhador inexorável ele nunca se curvou diante das circunstâncias da vida. Apesar de suas dificuldades para sustentar a si e a família.
Esse rapaz, depois de muito lutar para conseguir um lugar ao sol (eu acompanhei de perto o seu drama), conseguiu passar no concurso para PM. Ficou interno no quartel por dois anos. Um belo dia quis o destino que ele fosse policiar as ruas. Como cumpridor de seus deveres aceitou largar o conforto do ar condicionado do gabinete para enfrentar os perigos e o calor do asfalto. Lá foi ele com seu novo uniforme e com uma arma que mal sabia manusear. Temia se tivesse que usá-la, embora soubesse que mais cedo ou mais tarde isso poderia acontecer.
“Ser ético, construtivo e transparente é a única alternativa em negociação. Mesmo ao lidar com pessoas manipuladoras e não-éticas, não devemos mudar nossa forma de agir”.
No primeiro dia de sua nova função, Marcelo foi deixado bem cedinho por uma patrulha na esquina da rua onde teria de policiar. Sentia-se meio desajeitado em seu novo papel. Tudo parecia incomodar. No meio daquela manhã com sol ardente ele não sabia se cuidava de seus afazeres ou se tentava ao celular impedir que cortassem a luz de sua casa por falta de pagamento.
Bem no meio daquela manhã, um automóvel de luxo, dirigido por um sujeito falando ao celular, fez uma manobra de risco e avançou o sinal de trânsito. Marcelo imediatamente abordou o motorista e fez o procedimento cabível naquela situação. Para não me alongar muito, o que aconteceu depois disso ninguém poderia imaginar, nem mesmo o então policial. Passada meia hora depois do ocorrido, debaixo de sol escaldante, ele foi convencido que poderia liberar o carro mediante a uma “gratificação”.
Parecia que ele estava cego. Um ato impensável num momento infortúnio para alguém que passou uma vida toda lutando honestamente. Talvez ele tenha acreditado que pelo fato de nunca ter cometido nenhuma infração em sua vida um pequeno deslize não seria percebido diante de tantas aberrações que existem hoje em dia no mundo. Acredite: o tal sujeito era um oficial de um outro quartel.
Expulso e condenado, Marcelo pagou o preço que todos que comentem falhas análogas deveriam pagar.
Será mesmo que pensamos nos nossos princípios como deveríamos? Será que agimos de acordo com esses princípios? Vale realmente a pena abandoná-los? Essas questões devem oxigenar nossas mentes para não pensarmos que ações efêmeras – por mais atrativa que sejam – mereçam suplantar uma trajetória digna e perene a qual esperamos um dia lograr.
Evaldo Costa é escritor, consultor, conferencista e professor.