Autor: Marcos Morita
Afirmar que estamos cada vez mais dependentes de nossos celulares é comprovar o óbvio. Passageiros em ônibus e trens, pessoas andando nas ruas, em corredores de shoppings e infelizmente motoristas em seus veículos, colocando em risco vidas além da própria. Um fato que me tem chamado a atenção é a revolução silenciosa, baseada em teclados QWERTY e principalmente toques em telas sensíveis de smartphones. Tráfego de dados ao invés de voz parece ser a tendência – apesar da modalidade pré-paga e das promoções insanas tipo: pague pouco e fale muito, as quais têm colocado o sistema de telefonia celular em xeque.
Para comprovar tal movimento, trago dados da consultoria Strategy Analytics, segundo a qual foram habilitadas mundialmente no 2° trimestre, 154 milhões de smartphones, ou seja, um aumento de 42,1% comparado com o mesmo trimestre do ano anterior. Não obstante os resultados positivos, há ainda muito espaço para crescimento, considerando a penetração de 37,9% no volume total de celulares. Quanto aos tablets, 25 milhões de unidades foram adicionadas, com crescimento de 66,2%. Em ambos os casos a Apple ainda lidera, porém o crescimento da plataforma aberta Android é algo notável e preocupante para a marca criada por Jobs.
Esta migração dos desktops e notebooks para tablets e smartphones trouxe consigo o conceito de mobilidade, na qual informações e soluções estarão cada vez mais na palma das mãos dos usuários, literalmente. Tal mudança fez com que Chris Anderson, editor-chefe da renomada revista Wired, mencionasse em seu controverso artigo: The web is dead, que o acesso à internet através de navegadores tipo Explorer, Firefox e Chrome será cada vez menor, enquanto crescerá via aplicativos ou apps.
Apesar das críticas pelo tom alarmista do texto, prestar atenção aos comentários do criador de termos como Cauda Longa e Freemium, duas tendências comprovadas no mundo digital, é no mínimo prudente. Modelos de negócios como Netflix, no qual os grandes hits foram substituídos por milhares de filmes e a rede social de negócios Linkedin, onde uma pequena parte de assinantes paga o custo da maioria, comprova a visão futurista de Anderson.
Um marco que corrobora tal afirmação ocorreu nos Estados Unidos, onde o tempo despendido pelos internautas em aplicativos foi maior que o gasto em browsers, pesquisando a web. Intrigante a princípio, pode ser comprovado por você mesmo caso possua um smartphone ou tablet. Conte quantos apps baixou em seu aparelho nos últimos tempos. Jogos, compras, previsão de tempo, mapas, filmes, notícias, entretenimento, serviços financeiros, músicas e redes sociais. Duvido muito que não tenha pelo menos dois ou mais dos aplicativos: Angry Birds, Google Maps, Fruit Ninja, Talking Tom Cat, Twitter, Skype, i Books e Facebook, verdadeiros hits da web. Compare agora com o tempo que passa navegando na web. Goleada para os apps, os quais tem se tornado motivo de conversa em diversas rodas de amigos e conhecidos.
Empresários têm uma grande chance neste promissor segmento. O site da Apple, por exemplo, conta com mais de 550 mil opções, enquanto o Google Play 450 mil e o Windows Phone Marketplace com 90 mil. Saliento que as oportunidades vão muito além de apps voltados para pessoas físicas. O filão corporativo é também muito interessante, no qual desenvolvedores criam soluções para empresas aumentarem sua produtividade, reduzirem seus custos e atenderem melhor seus clientes, considerando que grande parte da força de vendas e operações hoje trabalha com dispositivos móveis em seu dia-a-dia, sejam smartphones, tablets, notebooks ou coletores de dados.
As empresas, a possibilidade de se aproximarem de seus consumidores através de aplicativos que facilitem seu dia a dia, promovendo seus produtos ou serviços diretamente ou indiretamente através de assuntos correlacionados. Trânsito, saúde, segurança, receitas, viagens, bem-estar e economia são alguns exemplos. Num mundo que será dominado pela mobilidade e telas pequenas, objetividade, rapidez e utilidade serão as palavras-chave, acredite você ou não que a web está morta.
Marcos Morita é mestre em administração de empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ.