Autor: João Luís de Almeida Machado
Resuma. Abrevie. Fale pouco. Seja breve. Não abstraia. Comunique-se em poucas palavras. Essa é a lógica dominante na web. Poucos entenderam tão bem esse padrão que se estabeleceu quanto os responsáveis pelo Twitter. Esse microblog, como tem sido “definido”, delimita a experiência da escrita a apenas 140 caracteres.
Alguns analistas estão prevendo o fim da blogosfera como foi a princípio concebida. Não foram poucos, também, a pensar que o cinema acabaria com o advento da televisão, depois do videocassete, mais para frente com o surgimento dos DVD players, recentemente com a TV por assinatura. Por isso, diferentemente destes especialistas que, como autênticos videntes com suas bolas de cristal, antevêem o fim de uma ferramenta revolucionária como os blogs (que serviram como principal porta de entrada para o que conhecemos como Web 2.0), penso que o que já está ocorrendo é uma revisão da ferramenta e uma adaptação dela aos novos tempos.
O blog, por si só, não mais sobrevive. Ele está atado e dependente de outras ferramentas. O quadro que se compõe à frente de nossos olhos é aquele da convergência total. É como a ideia do sujeito que tem em suas mãos um martelo ou um serrote. Suas aplicações limitadas não permitem que se amplie a possibilidade de “consertar”, “remediar” ou “solucionar” situações mais complexas. O atual estágio da Internet e, mais além, das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), é aquele no qual não basta mais ter apenas o serrote, no caso, os blogs, ou os sites que utilizam poucas ferramentas que estimulam a interatividade.
O momento, assim como o que está por acontecer, demanda espaço para que o internauta se integre, participe, realize, conceba, concretize uma experiência muito mais sedutora aos seus olhos, porquanto ele também seja protagonista.
O protagonismo traz a possibilidade de se fazer ouvir e participar. A demanda no universo virtual é cada vez maior nesse sentido. As pessoas querem ler, saber, conhecer e, também, participar através de gravações em áudio, vídeos caseiros, textos, fotos e mensagens pessoais, opiniões expressas de diferentes modos e em formatos diversos. E as Tecnologias de Informação e Comunicação permitem isso, diferentemente das mídias e recursos anteriores, que trabalhavam apenas numa via, ou seja, do transmissor das informações para quem as recebia. Por isso mesmo a TV, o rádio, os jornais, as revistas e as outras formas de trabalhar informações estão se apoiando também nos recursos das TICs. Todo mundo criou sites. Depois passaram para blogs. Já estão aderindo (em massa) ao Twitter, o microblog, participam das redes sociais (como o Facebook ou o Orkut), mandam fotos para o Flickr, enviam vídeos para o YouTube.
Os blogueiros que não participarem dessa nova etapa das TICs – convergente, que integra imagens, textos, áudios, apresentações em PowerPoint, fotografias e tantas outras formas de enviar informações e mensagens, partilhando e pedindo a participação alheia tanto na forma de respostas como na de produções que se agreguem a seus blogs e/ou sites – estarão, aos poucos, perdendo espaço, sendo desconectados.
A blogosfera não está acabando. Ela está se renovando. E a grande percepção do Twitter, nesse caso, pode ser entendida ao notarmos que essa ferramenta consolida a tendência dominante na web desde praticamente seu início. E que tendência é esta? A de que lemos apenas as manchetes quando entramos num site, em leituras muito rápidas (velocíssimas), numa busca por informações que realmente valham a pena para nossos interesses (pessoais ou profissionais).
Ao delimitar o espaço a 140 caracteres, o Twitter trabalha com o conceito de manchetes ao mesmo tempo em que permite a seu usuário que escolha as pessoas e grupos que pretende seguir. Abrevia o trabalho de busca por informações que podem fazer a diferença para o internauta, pois concentram em sua plataforma, bastante simples e funcional, contatos interessantes e postagens desse usuário. Dessa forma, a visita a inúmeros sites e endereços torna-se menos necessária e diminui-se o tempo perdido navegando a esmo.
Os profissionais e as empresas já se deram conta disso, tanto é que associaram o Twitter e suas funcionalidades a seus outros espaços de produção, trabalho, estudo e disponibilização de dados na web, ou seja, aos seus sites, blogs, canais de vídeo, páginas de fotos. Como? Simplesmente mantendo seus espaços no Twitter atualizados constantemente com tudo o que oferecem nas páginas em que os conteúdos são mais amplos, burilados, completos. Quem quer saber mais entra nos links dispostos no Twitter. Seus olhos atraídos pelas manchetes e pelo interesse relacionado ao trabalho de tal empresa, ou de certos profissionais.
João Luís de Almeida Machado é editor do Portal Planeta Educação e Doutor em Educação pela PUC-SP.