A viagem das oportunidades


Recentemente com as notícias dos problemas no setor aéreo tivemos a oportunidade de ler muitos artigos publicados na mídia especializada, de negócios com análises a respeito do que estava acontecendo e respectivas propostas para resolver o problema também apareceram na mídia. Muito bem, fui me afastando do calor da discussão e percebendo que o foco esta restrito à empresa e seu mercado direto. Há fortes razões para isto, mas ao mesmo tempo dá a sensação de miopia de alto grau.

Vamos aos fatos: Uma empresa diminui muito sua operação em um mercado bastante regulamentado e com barreira altíssima de entrada de novos players. Aproveitando o aumento repentino de demanda as empresas operantes mais que dobram o valor das passagens aéreas, inclusive as tradicionalmente mais baratas. Os aeroportos viram um caos e a qualidade do atendimento despenca. Por fim… resignação, pois não há o que fazer. Será?

Vamos olhar o conceito de hábito de compra dos consumidores. Publicitários e empresários conhecem os efeitos dos hábitos de compra para o bem e para o mal. Isto quer dizer que apesar da confusão instaurada o consumidor tende a resolver a situação sem trocar de hábito, porque o custo de mudança é emocionalmente alto e financeiramente pode parecer desvantajoso, então, corremos para ser o primeiro da fila e conseguir embarcar em vôos habituais, com o objetivo de participarmos de reuniões em horários habituais, com as pessoas habituais, em locais habituais e etc.

Em nossa empresa, já há algum tempo, nossas reuniões internas, com fornecedores e clientes acontecem em sua maioria virtualmente. Diria que na ordem de cada quatro reuniões apenas uma é presencial e nos velhos moldes. Não há deslocamentos, viagens, custo, transito, stress e perda de tempo. Confesso que nas primeiras reuniões me senti um pouco deslocado, falávamos ao mesmo tempo, foi mesmo meio confuso. Hoje pago para fazer reuniões por conference-call ou por vídeo-conferência. Reuniões presenciais só em casos extremos ou quando o cliente ainda não experimentou esta nova tecnologia.

Bem, voltando às nossas viagens, as empresas e seus executivos deveriam se recusar a pagar aumentos de mais de 100% nas tarifas aéreas. Muitos dirão que precisam viajar e não há jeito. Acredito que em algumas situações isto seja verdade, mas em muitas, muitas mesmo, é apenas a força do hábito. Quando estamos em céu de brigadeiro os hábitos contribuem para ganhos de produtividade, mas quando o cenário muda, são exatamente pelos hábitos que devemos rever nosso padrão de atitude.

Junto com toda esta trapizonga mercadológica nasceram algumas oportunidades, a principal delas diz respeito às empresas que fornecem sistemas de reuniões e encontros à distância. Estas podem por a tropa na estação pois o trem da oportunidade está passando. É muito fácil fazer a conta de quanto uma empresa com filiais pelo país gasta com deslocamentos, tickets, tempo e desperdícios típicos de viagens e comparar com o investimento em equipamentos que permitam que reuniões sejam efetivadas à distância. Calcule tudo no tempo seguido da depreciação do equipamento e boas vendas.

A atitude correta dos empresários do setor de tecnologia é colocar a faca nos dentes e invadir o mercado. Haverá resistência e negativas, sim, mas, mudados os hábitos o mundo corporativo nunca mais será o mesmo. Às empresas que aproveitaram a oportunidade para explorar usuários com aumento de preços sugiro cautela e olho nas tendências de longo prazo do mercado.

Estamos vivendo um belo exemplo de como o mundo muda e joga fora velhos hábitos, muitas vezes para sempre. Nossos netos talvez comentem em conversas pela Internet, chats, MSN’s ou novidades tecnológicas que aparecerem: nossos avós eram loucos de perder aquele tempo todo com viagens e reuniões enfadonhas que muitas vezes faziam todos andarem em círculos.

Bons negócios!

Rubens Pimentel é diretor da Ynner Marketing, consultor e professor de estratégia e marketing em cursos universitários. ([email protected])

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