A casa inteligente tem como objetivo tornar a vida dos consumidores mais fácil, segura e melhor. Mas, apesar de todo o burburinho e investimento do setor, a tecnologia para casas inteligentes ainda não foi totalmente adotada. As empresas precisam mudar sua abordagem se quiserem desenvolver soluções que o público realmente deseja para tornar suas casas inteligentes: em vez de focar o produto, os esforços precisam estar na figura humana.
É isso que mostra o estudo “Putting the Human First in the Future Home”, realizado pela The Dock, da Accenture. A pesquisa combina dados detalhados globais tanto qualitativos quanto quantitativos e analisa comportamentos e rotinas dos consumidores e como essas tecnologias emergentes impactam suas identidades e motivações – e, acima de tudo, as tensões que elas causam.
A casa do futuro é uma postura, não uma tecnologia
A vida em casa está se tornando cada vez mais importante: 50% dos entrevistados agora passam mais tempo em casa do que há cinco anos, enquanto apenas 13% passam menos tempo em suas casas agora do que antes.
Os dados mudam de acordo com o mercado. No Brasil, por exemplo, 65% dos consumidores afirmam passar mais tempo em suas casas agora – o nível mais alto observado pela pesquisa. Já na China, os consumidores têm passado menos tempo em casa do que qualquer outro país, com 43%.
Na hora de descrever o lugar em que vivem, 62% dos entrevistados usaram palavras como “confortável/aconchegante” na maioria dos mercados analisados. Apenas na Índia o termo ficou em segundo lugar, perdendo para “limpo” (51% contra 49%).
Já quando o assunto é como o entrevistado se sente quando está em casa, 71% usaram a palavra “relaxado”. Isso vale especialmente para os países nórdicos, onde 78% usaram esse termo.
Claire Carroll, diretora de portfólio da The Dock, afirma que “a casa do futuro precisa ser construída em torno das pessoas. Há uma oportunidade significativa para o desenvolvimento de ofertas duráveis para casas do futuro, além de uma série de mercados inexplorados. Mas, para terem sucesso, as marcas terão que pensar diferente em termos de design de produtos, segmentação e abordagem de consumidores”.
Tecnologias e tensões emergentes
O estudo também identifica várias tensões em torno da tecnologia para casas. A principal preocupação é que os dispositivos inteligentes nos fazem sentir mais conectados e, ao mesmo tempo, mais isolados.
Em todos os países e grupos demográficos analisados, na hora de escolher entre “fácil” e “preguiçoso”, “fácil” fica em primeiro lugar. Mais de 70% das pessoas reconhecem que a tecnologia dentro de casa facilita a vida, desde a preparação de alimentos e pedidos de compras on-line, até da temperatura interna e o ambiente doméstico. Ainda assim, 43% dos entrevistados acreditam que a tecnologia também pode deixá-los preguiçosos, já que inúmeras tarefas podem ser feitas sem sair do sofá.
Os consumidores estão mais propensos a concordar com afirmações positivas sobre a tecnologia – 71% concordam que ela facilita suas vidas e 57% afirmam ter vidas domésticas mais conectadas e divertidas. Ainda assim, 46% dos entrevistados acreditam que ela pode ser invasiva: metade (exatos 50%) dos participantes concorda que pode ser uma barreira à interação social. Essa visão é mais forte na Europa (62%), nos EUA (66%) e na Austrália (65%) – por outro lado, apenas 14% dos consumidores japoneses concordam com isso.
Segundo Claire, “os consumidores precisam racionalizar as tensões criadas pela sua relação com a tecnologia, especialmente no que diz respeito à dependência, falta de discrição e isolamento. Embora muitas marcas possam vender produtos para residências que fazem as pessoas se sentirem mais conectadas, as marcas que irão agregar valor real no futuro são as que oferecerem produtos conectados, diminuindo também as preocupações de quem se sente isolado no ambiente tecnológico moderno.
A oportunidade é aqui e agora
As gerações mais novas são fundamentais para as empresas do setor, já que elas serão as donas das casas do futuro e clientes potenciais para casas inteligentes. Por outro lado, a compreensão de muitas marcas sobre as ansiedades desse grupo em relação à tecnologia é limitada. Já o público com idade acima de 65 anos aparece com diversas oportunidades.
Os entrevistados mais jovens têm as opiniões mais negativas sobre como a tecnologia afeta suas vidas. Na faixa etária entre 18 e 34 anos, 49% acreditam estar excessivamente dependentes da tecnologia, enquanto 43% dos entrevistados nesse mesmo grupo também temem que os dispositivos inteligentes em suas casas saibam muito sobre eles. No futuro, será fundamental racionalizar essas preocupações dos consumidores entre 18 e 34 anos para a estratégia de desenvolvimento de produtos.
Por outro lado, o grupo mais entusiasta e que mais confia na tecnologia é o das pessoas com mais de 65 anos – mais precisamente, a fatia de mercado que a maioria das empresas de tecnologia vem negligenciando. Esse grupo afirma que os dispositivos inteligentes deixam suas vidas mais fáceis (62%), divertidas (51%) e conectadas (51%). Os medos em relação ao isolamento causado pela tecnologia são menores nesse grupo do que em qualquer outro (53%) e apenas 31% afirmam que a tecnologia os deixa mais preguiçosos. Apenas 25% dos entrevistados desse grupo se preocupam com o potencial viciante da tecnologia, o índice mais baixo entre as diferentes faixas etárias.
Para concluir, Claire afirma que “não existe uma solução tecnológica única para a casa do futuro. As empresas que quiserem desenvolver produtos inteligentes e duráveis para a casa do futuro precisam entender melhor o que está acontecendo na caixa preta do comportamento de seus clientes dentro de casa. Significa compreender as diferentes atitudes ao longo dos vários estágios da vida, o real significado da palavra “lar” e as diferentes formas como eles se comportam depois de fechar a porta da frente”.