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Apostas e oportunidades nos pagamentos móveis

Autor: Joel Nunes
No mercado de meios de pagamentos, quase todas as discussões envolvem um tema que já faz parte do cotidiano da maioria dos brasileiros, que possuem conta em banco ou não: a mobilidade. O Brasil, como já revelaram diversas pesquisas, tem um grande potencial e poderá ser uma boa vitrine para o mundo quando se fala em pagamentos móveis. Hoje, contamos com iniciativas em andamento e projetos que caminham a passos largos, mas, obviamente, como toda novidade, ainda precisam de ajustes para chegar a um modelo final que atenda plenamente às necessidades de todos os participantes – consumidores, bancos, operadoras de telefonia e fabricantes de celular. 
Um dos desafios que tenho acompanhado é a questão da interoperabilidade. No mobile payment o cliente ainda pode enfrentar, por exemplo, barreiras se quiser transferir o seu dinheiro, que está no banco A para o banco B. Diferentemente das transações comuns em que são envolvidos consumidores, bancos e lojistas, durante a transação mobile devemos adicionar, também, as operadoras de telefonia. A comunicação, por sua vez, deve ocorrer entre esses diferentes parceiros e a tradução da mensagem deve ser feita corretamente para cada um, a fim de que o consumidor, que está na ponta do processo, não sofra as consequências de possíveis falhas. 
Os brasileiros estão começando a aprender, na prática, com esse novo canal. Um grande passo dado pelo país recentemente, que não posso deixar de citar, é a MP 615, sancionada em outubro do ano passado. Com ela, foram criadas condições legais para a instituição de arranjos de pagamentos entre bancos, operadoras de telefonia e outras empresas com o objetivo de viabilizar os serviços de pagamentos via celular, estimulando a concorrência e gerando oportunidade para que outros players do mercado possam entrar na disputa.
Países com mais tempo de uso da tecnologia também podem nos inspirar, pois mostram que esse canal pode ser um grande gerador de oportunidades em terras tupiniquins. No Quênia, por exemplo, o mobile payment movimenta cerca de 20% do PIB do país. Os quenianos não têm contato com o banco, mas possuem comunicação via celular, o que ajudou (e muito) o acesso dos não-bancarizados às instituições financeiras. O sistema por lá já é bem desenvolvido e toda a transação é realizada em minutos. No Afeganistão, o m-payment começou a ser difundido com a finalidade de pagar o salário dos policiais, que eram vítimas de fraudes. Já a Índia, outra localidade que assim como o Brasil possui cerca de dois celulares por habitante, está caminhando no quesito interoperabilidade, com a aliança entre alguns bancos locais para facilitar as transferências.
O fato é que esse movimento é global e as oportunidades de negócios são inúmeras. As empresas participantes dessa cadeia podem se preparar. Sistemas que coordenam a interoperabilidade e autenticação da transação são vitais para esse tipo de pagamento. Empresas focadas em ofertas de certificados digitais eletrônicos gerados para validar a transação de forma segura, também poderão se beneficiar.
Se exploradas corretamente, as instituições financeiras também poderão se aproximar da população que, até então, não possui conta em banco, e ganhar novos clientes, além de colaborar com a inclusão financeira de pessoas com menor renda. Os provedores de soluções de monitoramento anti-fraude também poderão incrementar suas ofertas pensando em novos tipos de golpes, principalmente no nosso país, onde a criatividade dos fraudadores é grande. Temos grande potencial para fazer esse negócio deslanchar, desde que a utilização de dispositivos móveis para pagamento seja mais prática do que os outros canais conhecidos. O sistema não pode demorar mais do que o pagamento com cartão, por exemplo, ou ser menos seguro e menos interoperável. Para isso, a indústria, que ainda está muito focada na tecnologia, precisa se conscientizar que o grande motor para atrair a massa é a praticidade. Como disse, o mercado brasileiro está aprendendo.  Acredito que teremos sucesso, porém não devemos ter a expectativa que o modelo vai nascer 100% perfeito, ainda vai exigir ajustes e muito aprendizado, mas estamos no caminho.
Joel Nunes é gerente de consultores de soluções da ACI Worldwide.

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