A Câmara Setorial do Vinho, que representa as principais empresas e entidades nacionais da cadeia produtiva do vinho nacional, acusa de concorrência desleal dos argentinos que querem invadir o mercado consumidor brasileiro com produtos mais baratos e de qualidade inferior para competir com as vinícolas nacionais.
Segundo o coordenador de Mercado da Câmara Setorial do Vinho e também vice-presidente da ABBA – Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas, Flávio João Piagentini, o governo brasileiro tem aceitado passivamente as imposições dos argentinos em relação a restrição no mercado argentino adotando o sistema de cotas de produtos brasileiros para não prejudicar a indústria argentina. Mas Piagentini afirma que são os próprios argentinos, junto com os chilenos, que invadem o mercado brasileiro com vinhos de má qualidade, com preços muito mais baixos e prejudicam toda a indústria de vinhos do País. “Já li entrevistas de empresários argentinos que querem em 3 anos dominar cerca de 70% do mercado de vinhos no Brasil.”
A invasão argentina já pode ser vista num nicho em que os produtores de fora não costumam concorrer no Brasil: o de vinhos de mesa, no qual a Piagentini tem tradição. O executivo da vinícola Piagentini diz que os argentinos decidiram adocicar parte dos derivados de uvas viníferas, para vendê-la no Brasil como vinho “suave” e concorrer em um segmento até então interessante apenas para os brasileiros – o de marcas populares consumido em casa. “Até vinho suave, que eles nunca produziram, agora já começam a produzir para concorrer com os nacionais no mercado brasileiro. Como a maioria dos brasileiros pouco conhece quais são as melhores marcas de vinhos deles acaba comprando vinho ruim argentino aqui no Brasil só porque o preço é baixo.”
Para a Câmara Setorial do Vinho, eles se queixam da entrada dos produtos brasileiros na Argentina, mas também provocam uma competição “desleal” com a nossa produção nacional de vinhos finos. Dados da Uvibra, União Brasileira de Vitinivicultura, e do Ibravin, Instituto Brasileiro do Vinho, mostram que as marcas estrangeiras detêm hoje 51% do mercado de vinhos finos do Brasil.
Estudo feito pela Embrapa mostra que, no período entre 1996 e 2001, o consumo de vinhos finos importados cresceu ao ritmo de 3,5% ao ano no Brasil, enquanto o de marcas nacionais da mesma categoria recuou 7% ao ano. Segundo Piagentini , redes de supermercados chegam a vender, no Rio Grande do Sul, marcas populares, como a argentina Dom Facundo, em embalagem Tetra Pak de 1 litro, aquela mesma conhecida dos brasileiros para embalar leite longa vida.
Com tanta concorrência, um dos efeitos sentidos pelas vinícolas brasileiras é o enfraquecimento do poder de negociação com as gigantes do varejo, traduzido, muitas vezes, na redução das margens de lucro e na devolução de itens “encalhados”. Piagentini adota um tom ainda mais duro, especialmente no que diz respeito à produção argentina. Segundo ele, os custos de produção das vinícolas no país vizinho são de três a dez vezes menores do que no Brasil. Além do incentivo às exportações haveria excedentes de estoques públicos, leiloados a preços tão baixos quanto US$ 0,10 o litro, enquanto o litro brasileiro não custaria menos de US$ 1,00, diz.