Os efeitos devastadores da crise econômica mundial não foram suficientes para despertar, na população dos países do primeiro mundo, maior conscientização sobre a relação com o dinheiro. A grande maioria das pessoas economicamente ativas (87%) não tem informações elementares sobre o conceito e as implicações de riscos financeiros. A conclusão é da pesquisa Finance Personal Risk Assessment and Risk Literacy Survey (Avaliação de Educação Financeira sobre Risco), concluída em setembro pela TNS, empresa de pesquisa Ad Hoc, e realizada em parceria com a Harvard Business School e o Darmouth College. O levantamento reuniu depoimentos de consumidores de 15 países, em diversos continentes.
Annamaria Lusardi, professora de Economia do Dartmounth College e diretora do Financial Literacy Center destaca a importância de se avaliar, neste período pós-crise, o grau de conscientização dos consumidores sobre riscos financeiros. “Constatamos que, de forma geral, em todos os países investigados, há um elevado nível de desinformação sobre o assunto, principalmente entre o público feminino”, sinaliza.
A TNS solicitou aos entrevistados dos 15 países que avaliassem o prêmio oferecido por duas loterias, o risco relativo e retornos de dois fundos de investimento, além das implicações de se investir em uma única ação em contraposição a uma carteira de ações. Da base da pesquisa que respondeu as questões individuais corretamente, somente 13% acertaram as três perguntas.
Embora nenhum país tenha alcançado um alto percentual de acerto, foram registradas expressivas diferenças regionais. Entre os que responderam corretamente as três questões estão a Holanda, com 21%; Hong Kong (região administrativa da China) e Luxemburgo (18%), além de Cingapura (17%). Entre aqueles que apresentaram menor percentual de acerto incluem-se a França (10%), México (7%) e Portugal (6%). A Argentina foi a última colocada entre todas as regiões pesquisadas, com somente 5% de acerto de todas as questões. De maneira geral, verificou-se que o conhecimento em relação ao risco está diretamente relacionado aos conhecimentos financeiros adquiridos no período escolar.
Ponto para os jovens
A população mais velha, teoricamente mais propensa a investir, apresentou maior dificuldade de avaliação quando comparada com os mais jovens: somente 12% das pessoas de 35 a 64 anos acertaram todas as questões. Já entre a população mais jovem, com menos de 35 anos, o nível de acerto foi de 33%. A pesquisa detectou, ainda, um baixo percentual de pessoas que se interessam em obter informações sobre risco: somente 19% dos entrevistados de todos os países mostraram-se dispostos a entender e aprimorar conhecimentos sobre o assunto.
Trish Dorsey, vice-presidente de Serviços Financeiros da TNS, acredita que o maior desafio – e uma oportunidade – para as instituições financeiras seria o engajamento no processo de educação financeira dos clientes, passando a cumprir seu papel de provedoras de conhecimento. “Os resultados do estudo sinalizam claramente a necessidade dessas empresas desenvolverem soluções simples e uma comunicação objetiva e didática”, destaca Dorsey. Ela acrescenta, ainda, ser muito provável “que até mesmo os consumidores mais informados deixem de investir em determinados produtos por desconhecê-los”.