As economias mais corruptas são também as menos competitivas, segundo a Transparência Internacional. A informação consta da edição de janeiro de 2004 da revista Latin Trade, da Latin America Media Management (Miami/EUA). O estudo, referente à América Latina, demonstra que o Chile, com muita vantagem sobre o segundo colocado (Uruguai) e imensa distância do terceiro bloco, no qual se encontra o Brasil, tem a economia menos corrupta e mais competitiva do continente. No outro extremo estão Paraguai e Honduras. Nosso país ocupa o quarto lugar, atrás da Costa Rica e à frente da Argentina, México, Peru, Colômbia e demais nações, mas muito próximo da linha na qual o problema interfere de forma incisiva na economia.
Diante da gravidade do tema – e considerando que denúncias de irregularidades continuam fazendo parte do quotidiano do Brasil -, é importante entender melhor todo o fenômeno. Nesse sentido, encontrei trabalho primoroso, do doutor em Economia pela Universidade de São Paulo Marcos Fernandes Gonçalves da Silva, apresentado em maio de 2001, em curso na Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte. O mestre já apontava, à época, que “o maior impacto da corrupção, em termos econômicos, está no seu custo para o crescimento”.
A propina, ao contrário dos impostos – salienta – envolve alguma distorção no emprego da máquina pública e, além disso, deve ser mantida em segredo. Isto gera ônus adicional na cooptação e manutenção de rede de funcionários. O resultado pode ser a redução do crescimento econômico, com alocação de recursos em atividades improdutivas e deformação das políticas sociais de desenvolvimento.
O professor aponta outra conseqüência da impregnação desses vícios nas relações econômicas. Os investimentos externos em determinado país podem ser prejudicados quando diversas agências estatais, envolvendo políticos e burocratas, exigem propinas da iniciativa privada para a implementação de projetos. As empresas e investidores podem preferir investir em nações onde a ocorrência do problema seja menor, pois esses “custos informais” entram como fator de desconto no cálculo da rentabilidade.
Por outro lado, pesquisas de organismos de fomento do intercâmbio econômico, em especial câmaras de comércio, coincidem em apontar que, dentre os principais inibidores de investimentos estrangeiros no Brasil, estão a corrupção e a burocracia exageradas – afinal, faz parte desse lamentável “negócio” criar dificuldades para vender facilidades. O alto custo com a segurança de executivos – considerados os índices de criminalidade – é outro fator apontado.
É inútil tapar o sol com a peneira. O desenvolvimento do País não está condicionado somente às variáveis da ciência econômica. Depende de ações muito mais amplas, incluindo um choque de ética e menos impunidade. Como expressa o próprio título da matéria de Latin Trade, transparência é igual a verdinhas, numa referência aos dólares da exportação ou investimentos internacionais que uma Nação ganha ou deixa de ganhar.
Alfried Karl Plöger é presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca).