Crescimento profissional



Autor: Marcelo Ponzoni

 

Para quem teve a sorte de nascer em um bom berço de família, há um período em que a situação é de mero passageiro, mas, mesmo nesta condição, pode ter de sair do carro ou ser jogado dele sem ter ainda atingido a mínima condição de empurrá-lo e – quem dera – de dirigi-lo! Utilizo esta metáfora para deixar mais claro o que entendo seja a vida de muitas pessoas. Dentro da normalidade, nascemos como passageiros de carros que foram adquiridos na maioria das vezes por nossos pais, mas, dependendo da educação que vivenciamos, com o passar do tempo somos colocados para ajudar a empurrar e, logo mais adiante, até mesmo para dirigir.

 

No meu caso, fui passageiro até os 15 anos e, de repente, fui jogado do carro sem entender muito bem o que estava acontecendo. Logo percebi, porém, que não existia outra situação senão a de começar a empurrar meu próprio carro – ficar na condição de passageiro em troca de algumas empurradas não era a minha vocação. Assim não me restou outra saída senão a de iniciar minha jornada, ainda que a princípio a pé, mas sempre tendo a convicção, ao ver pessoas ora dirigindo carros, ora os empurrando, de que um dia eu teria o meu próprio carro e seria responsável pelos rumos que ele tomaria.

 

Quando, após alguns anos, mas ainda jovem, encontrei meu carro, comecei a empurrá-lo, sempre acreditando que um dia eu iria dirigi-lo. No início, empurrar – e, depois, dirigir – era tarefa árdua, pois ao largar o volante, o carro logo se desgovernava. Era um tal de empurra-dirige-empurra-dirige que, quando percebia, estava no mesmo lugar. Percebi, então, que precisava ter quem me auxiliasse, pois sozinho, poderia perder o rumo. Assim, com o tempo fui contratando colaboradores para assumir a tarefa de empurrar, para que eu pudesse ficar por um tempo maior na direção, mas logo compreendi que, quando ficava só na direção, a velocidade diminuía e o carro quase chegava a parar, então lá estava eu novamente para o empurra-empurra.

 

Os anos passaram e mais colaboradores fui arregimentando para continuar empurrando.E novamente ficou claro que, mesmo com mais colaboradores, além de dirigir, eu ainda precisava empurrar, principalmente com um grupo maior nesta condição. Comecei a constatar que alguns, volta e meia, no meio do tumulto, decidiam sentar no banco do passageiro, certos de que ninguém enxergaria sua acomodação. Claro que isso não durava muito, mesmo porque, nesta altura da viagem, já passados diversos anos, eu, como condutor, tinha ampla visão do que estava à minha frente – e, diga-se de passagem, ainda não havia passeado na condição de passageiro um só dia, principalmente a partir do momento em que o carro começou a embalar: agora não havia como freá-lo e a responsabilidade pelo seu rumo tinha se tornado ainda maior.

 

Desde o momento em que comecei a dirigir meu próprio carro, quase 22 anos se passaram e a maior lição que aprendi foi que jamais poderei deixar de empurrar. Mesmo que nos dias de hoje o carro necessite impreterivelmente de alguém para dirigi-lo, a vida me mostrou que, se quero ver o meu carro andando por muitos e muitos anos, precisarei sempre largar a direção para continuar empurrando, e só vez ou outra posso ocupar o assento do passageiro.

 

Na verdade, o banco do passageiro está reservado para aqueles que além de empurrar, aguentam os solavancos das viagens de rotina. Esses podem – e devem – desfrutar alguns poucos dias desta condição de apreciar a paisagem, ao mesmo tempo em que podem olhar para quem está empurrando ou dirigindo o carro e para onde ele está sendo conduzido.

 

Marcelo Ponzoni é proprietário-fundador e diretor executivo da agência Rae, MP. ([email protected])

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